Viciante
WhatsApp e Facebook são os preferidos dos estudantes
Alunas do terceiro ano do curso Técnico em Informática da TecPUCPR, Ana Caroline Ferreira e Mariana Triachini, ambas com 17 anos, reconhecem que ficar conectado às redes sociais durante as aulas atrapalha a concentração, mas nem por isso deixam de fazê-lo. Elas preferem o WhatsApp ao Facebook, e passam boa parte do dia trocando mensagens em grupos fechados. "É viciante, quem não tem WhatsApp fica de fora. Tem até um preconceito", revela Mariana.
Ana Caroline concorda, e acrescenta que viu seu desempenho em uma prova ser prejudicado porque não prestou atenção às aulas. "O professor percebeu, pediu para parar de mexer no celular, mas continuei usando. Acho que a maioria dos alunos não consegue separar a hora de estudar da hora de navegar", confessa.
Para amenizar a culpa, as duas tentam fazer um uso melhor das redes sociais: participam de grupos para discutir assuntos de aula, agilizar trabalhos e manter a comunicação com colegas e professores. Direcionar a utilização de redes sociais a favor da aula e do professor também é a estratégia de muitos docentes.
Pesquisa
Facebook é campo de batalha virtual
A pesquisa "Dependência ou autonomia? Um estudo sobre o comportamento dos universitários no Facebook", de autoria do publicitário Douglas Azevedo, revelou outros resultados interessantes sobre o perfil comportamental dos universitários usuários da rede. Dos 508 entrevistados, 65% já excluíram pessoas por causa de conteúdos conflitantes com suas crenças e 18% deixaram de falar na vida real com alguém porque foram excluídos da lista virtual de amigos.
Embora as curtidas e comentários amigáveis sugiram o contrário, a inveja também é um sentimento bastante comum entre os "facebookianos". Azevedo descobriu que muitas vezes a divulgação de mensagens e fotos que exponham bons momentos da vida surte efeito contrário nos "amigos": 18% dos estudantes afirmaram sentir inveja e abatimento ao ver imagens dos amigos felizes.
A despeito do recalque, quanto mais fotografias no perfil, melhor 82% dos usuários têm mais de 30 imagens pessoais em suas páginas e, desses, 56% exibem mais de cem fotografias. A preocupação com o furto e mal uso de suas imagens internet afora acomete apenas 19% dos entrevistados.
A pesquisa revela ainda o que todo mundo desconfiava: Facebook também é lugar para barracos, intrigas e bisbilhotices. Azevedo perguntou quantos já espionaram o perfil do ex e 67% responderam que sim. Elas investigam mais: 70% contra 62% entre os homens. A maioria - 60% - também entra na página do parceiro ou da parceira atual do ex.
O Facebook também leva as emoções à flor da tela: 38% dos entrevistados admitiram dar fim à amizade virtual com ex-namorados, e 47% confessaram ter discussões com o parceiro motivadas por comentários e fotos divulgadas na rede social. Tanta confusão já provocou em 70% deles o desejo de abandonar o Facebook mas não há registro de que alguém o tenha feito. Ainda.
Conectado
As redes sociais caíram no gosto do brasileiro. Pesquisa realizada pelo Ibope/YouPix mostra que 92% dos jovens utilizam mais de uma rede social. Mesmo considerando todas as pessoas que navegam pela internet, de todas as idades, esse índice é alto: 78% acessa pelo menos algum tipo de rede social.
Sexta-feira, 11 da manhã. No auditório do bloco 3 da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o professor Ney King, coordenador do curso de Engenharia de Produção, ministra sua aula de Introdução à Engenharia de Produção para 120 alunos do primeiro período. Ciente de que uma parte considerável da turma está mais atenta às mensagens trocadas via WhatsApp ou às curtidas recebidas pelo Facebook, King não se abala.
INFOGRÁFICO: Veja como aproveitar o uso das redes sociais na sala de aula
"Chamo a atenção quando é necessário, digo que é importante que prestem atenção. Parece que alguns alunos entram em transe com o celular. Eles não entendem a importância de desconectar do universo virtual. E só vão entender daqui a uns dez anos", diz, bem-humorado, como se soubesse que murro em ponta de faca não resolve nada.
Os problemas enfrentados por King em sala de aula não são exclusivos. Levantamento feito em janeiro com 508 universitários do Rio de Janeiro revelou que mais da metade, 52,3%, acessa alguma rede social durante as aulas. Os professores, por sua vez, revelaram à mesma pesquisa que se sentem desrespeitados e irritados com o uso de celulares durante as aulas. O grande dilema é: proibir os smartphones em sala soluciona o problema, ou os aparelhos devem ser incluídos no processo pedagógico?
Perfil
A pesquisa intitulada "Dependência ou autonomia? Um estudo sobre o comportamento dos universitários no Facebook" traçou também o perfil comportamental dos estudantes. Os resultados são preocupantes: 92% consideram-se heavy users (passam mais de seis horas diárias conectados às redes sociais); 87% confirmaram ter enfrentado dificuldades de aprendizado por estarem conectados ao Facebook; e 19% admitiram sofrer com déficit de atenção, dificuldade de concentração, falha na assimilação do conteúdo e esquecimento.
Papel das novas ferramentas ainda é uma incógnita
De acordo com Sidney Nilton de Oliveira, coordenador do curso de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, adaptar-se à nova realidade dos alunos não é apenas uma estratégia de sobrevivência, mas essencial para obter melhores resultados no âmbito educacional.
A resposta que deve ser procurada pelos professores não é como fazer para que os alunos deixem as redes sociais de lado durante a aula, mas sim qual é o papel que essas ferramentas ocupam no processo educacional. "Tudo depende do diálogo estabelecido com o aluno. As redes sociais podem ser uma ferramenta importante para o contato, a troca de informações e a aproximação do educador com os alunos", diz Oliveira.
Segundo ele, a relação professor-aluno sempre sofrerá interferência de outros elementos: hoje é o celular e o tablet, mas antigamente era o jornal ou o livro lido durante a aula que incomodava. "Os meios podem mudar, mas a atitude é a mesma. Se a aula não é interessante, se o professor é intolerante e opressivo, a tendência é que os alunos se distanciem."
Regras
Oliveira também ressalta que é importante que cada professor defina regras e faça acordos com seus alunos sobre o uso desses dispositivos. Se houver consenso, os problemas passam a ser pontuais e de fácil resolução, não comprometendo a qualidade da aula e o desempenho do aluno.
Adaptação aos novos meios é essencial
O professor Ney King acompanha a transformação do perfil de seus alunos desde 2002, quando estreou na docência. Segundo ele, os cadernos são artigos cada vez mais raros em sala de aula. Hoje, predominam notebooks, tablets e até mesmo celulares. A facilidade de acesso à internet também é irreversível. Se não há conexão wi-fi da própria universidade disponível, os alunos recorrem ao 3G da operadora de celular.
Nesse cenário, proibir o uso de aparelhos eletrônicos soa autoritário e retrógrado. O jeito é adaptar-se à realidade e usar a tecnologia em favor da aula. "Tento pôr em prática a aprendizagem significativa, que consiste em trazer para a sala de aula temas que signifiquem algo para os alunos, com os quais eles se identifiquem", diz King. Desse modo, se a realidade dos alunos é o universo das redes sociais, ele tenta levar o conteúdo das aulas para o meio virtual, por meio de grupos de discussão e compartilhamento de conteúdos.
Mauro Pellissari, professor do Departamento de Filosofia da PUCPR acredita que professores e alunos vivem uma fase de transição, de descobrir qual a melhor forma de utilizar os dispositivos no processo de aprendizagem. "Acredito que deve haver alguma orientação e regulamentação sim, mas no sentido de viabilizar o uso dos aparelhos em benefício das aulas", pontua.
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