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Assim que entra no prédio administrativo do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, às 7h20, o médico patologista Giovanni Loddo, 61 anos, sabe que tem pela frente mais um dia cheio. Desde abril de 2002, ao assumir o cargo de diretor-geral do maior hospital do Paraná e quarto do Brasil, Loddo segue uma rotina intensa. Ele se enquadra no perfil dos profissionais que não têm como fugir da pressão do trabalho. Ou seja, assumem tamanhas responsabilidades que o exercício profissional acaba se tornando sua própria vida – praticamente sem direito a lazer.

Só de assinaturas, são mais de cem por dia, entre decretos, ordens de pagamentos, liberação de compras. Reuniões, nunca menos do que seis, as quais geralmente se estendem muito além do previsto. Para completar, algumas viagens com horários nada agradáveis, como embarque às 7 e retorno às 23 horas. Essa viagens, inclusive, já o deixaram distante da família no aniversário da esposa e no de casamento no ano passado. O destino e o motivo são os mesmos: o Ministério da Saúde, em Brasília, na tentativa de liberar mais verba ao HC, que opera com déficit anual de R$ 30 milhões.

Ainda sob os cuidados do doutor Loddo estão 3,5 mil funcionários diretos, 500 terceirizados, 5 mil alunos e estagiários e 232 médicos residentes – além de 1.734 pacientes internados e 71 mil atendidos em consultas todos os meses. "O hospital fica na cabeça 28 horas por dia", diz.

A administração do HC rende ao médico alguns contratempos – os quais, saliente-se, não o fazem se arrepender um minuto sequer de auxiliar na evolução da entidade que o formou não só como profissional, mas também como homem. Um deles é a falta de tempo para lecionar e estudar – no momento, Loddo está afastado do quadro de professores do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e não tem tempo para ler artigos científicos, seu principal passatempo.

Outro contratempo é a própria saúde. Para manter os batimentos cardíacos estáveis, Loddo toma medicamentos. As dores de estômago e de cabeça, além da insônia, também o obrigam a apelar a comprimidos. "Quando sinto dores, minhas consultas com colegas são muito mais conversas de corredor", admite constrangido. São três passagens como paciente na UTI do HC desde que assumiu a direção. "Quando percebia de fato a gravidade, já estava na cama da UTI". Com a tranqüilidade que lhe é peculiar, o médico ainda chega a brincar. "Quando soube que eu era o paciente, a equipe que me atendia ficou mais nervosa do que eu."

Como diversão, mais trabalho. Assim que termina o expediente como diretor (que oficialmente deveria ser às 16 horas, mas nunca é antes das 19 horas), o médico volta à cena. Todos os dias, Loddo vai ao laboratório de anatomia patológica do HC, onde se distrai fazendo análises. "Faço questão", ressalta. Quando a fotógrafa da equipe de reportagem pede a ele que se sente à mesa de diretor-geral, Loddo reforça ainda mais tal posição: "Nunca me sentei naquela cadeira (apontando para a mesa oficial do cargo que ocupa). No dia em que me sentar ali, crio uma barreira para ouvir as necessidades do hospital."

Até quando não está a trabalho, Loddo pensa no HC. Nos fins de semana e feriados, não é raro ver o médico circulando pelas alas. "É nesse momento que o contato com as equipes se estreita, o momento em que realmente ausculto (ouço) o hospital", comenta, comparando o HC a um paciente. No fim da entrevista, o médico ainda pede ao repórter que não carregue tanto no relato. "Pode ser que o próximo candidato ao cargo se assuste", comenta, rindo.

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