O Internacional Diabetes Center (IDC), órgão norte-americano que trabalha em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para melhorar o tratamento de diabéticos em todo o mundo, escolheu o Centro de Diabetes de Curitiba para desenvolver, no Brasil, o projeto-piloto do programa "Atenção Programada ao Diabetes". O trabalho prevê a capacitação de médicos, enfermeiros, farmacêuticos e nutricionistas. Quarenta profissionais de sete cidades brasileiras dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Paraná (por aqui, fazem parte Cascavel, Maringá e Lapa) vão avaliar as necessidades de seus municípios na área. Depois serão capacitados, conforme o programa criado pelo IDC, e criarão centros de atendimentos para melhorar os cuidados aos portadores da doença.

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O lançamento do programa em Curitiba ocorreu ontem. Por enquanto o programa vai formar profissionais que pretendem trabalhar no setor privado. A exceção é a Lapa, onde o pessoal vai se dedicar às unidades de saúde municipais.

O Centro de Diabetes de Curitiba ganhou destaque internacional quando, em 2003, apresentou o resultado da implementação do projeto durante seis anos no Congresso da Federação Internacional de Diabetes, que ocorreu em Paris, tornando-se referência para o tratamento da doença em toda América Latina. No Brasil, a doença atinge 11 milhões de pessoas.

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Natural de Campo Mourão (PR), a endocrinologista Silmara Leite é a coordenadora do modelo de capacitação do IDC no Brasil e diretora-executiva do centro. Ela se formou em 1988 pela Universidade Federal do Paraná.

Em entrevista à Gazeta do Povo, ela revela detalhes do programa e conta como ele pode contribuir para melhorar o tratamento dos portadores de diabete.

Veja os principais trechos da entrevista.

Gazeta do Povo – Por que o Brasil foi escolhido para desenvolver o programa "Atenção Programada ao Diabetes"?

Silmara Leite – Além do Brasil, o programa também está sendo implementado, simultaneamente, no México, na Índia e na China. São as regiões onde a incidência da doença vai aumentar significativamente até 2010, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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– Qual a explicação para esse crescimento?

- É a mudança no estilo de vida dessas populações. Na Ásia, eles usam o termo de "ocidentalização" da dieta. Aqui, nós poderíamos chamar de "americanização". Existem fatores de risco que determinam a manifestação da doença – como a obesidade, o alto índice de colesterol no sangue, pressão alta, sedentarismo. Essas características estão se manifestando nessas populações de risco. As pessoas desses países estão comendo mais gordura, mais alimentos industrializados. Estão ficando mais sedentárias e obesas. As crianças não brincam mais, permanecem mais tempo em frente ao computador. E a nossa genética não está preparada para isso.

– Como funciona o programa de "Atenção Programada ao Diabetes"?

– A idéia vem da complexidade da doença e da necessidade de educar o paciente para que o cuidado com a diabete possa ser melhorado. O médico Donnel Etzwiler, fundador do IDC, juntamente com outros especialistas, criou um modelo de atendimento com o objetivo de reduzir as variações na prática clínica e os custos com o atendimento ao diabético. O programa recebeu o nome de "Staged Diabetes Mangement" (em português, "Atenção Programada ao Diabetes") e um guia prático foi criado para orientar uma equipe multidisciplinar a analisar os vários fatores referentes ao paciente para fazer a escolha certa do remédio e às adequações no estilo de vida de cada um. O IDC trabalha em colaboração com OMS para melhorar o cuidado ao diabético no mundo todo justamente pregando a necessidade da equipe multidisciplinar para atender o paciente da diabete.

– Por que o diabético precisa ser tratado de maneira especial?

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– A diabete é uma doença progressiva que pode evoluir para quadros como cegueira, insuficiência renal, amputações, enfarte e acidente vascular cerebral, se for descoberta tardiamente ou se o tratamento não for adequado.

– Como descobrir a doença precocemente?

– Existem fatores de risco como obesidade, sedentarismo, aumento do colesterol no sangue, pressão alta e, o mais importante, histórico na família que devem servir como sinal de alerta. Em casos de doença na família, por exemplo, os paciente deve fazer o exame de glicemia a cada seis meses. Os profissionais da saúde que vamos treinar também receberam orientações que ajudam a identificar os fatores de risco e a prevenir o avanço da doença em seus pacientes.

– Que tipo de tratamento o programa prevê?

– É preciso uma individualização. A pessoa portadora de diabete tem necessidades especiais. Raramente ela tem só problema do diabetes para tratar. O paciente vai precisar tomar vários tipos de medicamentos, terá de fazer atividades física orientadas, fazer uma reeducação alimentar e no caso da diabetes tipo 1, fazer uso da insulina. Devido a essa variabilidade clínica muito grande, não existe tratamento único.

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– Qual a vantagem para o Brasil em implementar o programa?

– O programa existe há 40 anos nos Estados Unidos. Lá os planos de saúde possuem equipes multidisciplinares para tratar especificamente de diabéticos. Aqui não existe essa tradição. Hoje, 25% da população brasileira utilizam o seguro-saúde e um quarto não utiliza o sistema privado. Num primeiro momento, estamos pensando nessa população. Implementando o programa em várias cidades brasileiras, como pretendemos, vamos fazer com que aumente a pressão sobre as operadoras de planos de saúde para que reconheçam a necessidade de ter um atendimento de alta complexidade para o paciente de diabete. Os médicos hoje permanecem muito tempo com o mesmo tratamento ou descobrem a doença tardiamente – e ela é progressiva. Se não tiver tratamento adequado pode evoluir para complicações. Além disso, nós estaremos participando de uma implementação internacional, em colaboração com a OMS e IDC, que vai possibilitar que os avanços tecnológicos da área cheguem mais rápido ao nosso país. Os centros vão permitir a realização de pesquisas clínicas no Brasil e garantir a participação do país em pesquisas internacionais. Estaremos trabalhando junto com o projeto que acontece em 23 países do mundo.