O uso inadequado de medicamentos é responsável pelo internamento de 31% a 38% do total das pessoas encaminhadas a unidades de pronto-atendimento no Brasil. Os dados, publicados pela revista científica Acta Farmacéutica Bonaerense e pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e reproduzidos pelo governo federal, alertam para problemas que os remédios podem provocar no organismo.
A situação é mais complicada para aqueles pacientes que tomam cinco ou mais medicamentos ao mesmo tempo e para os doentes crônicos, com diabetes e hipertensão, por exemplo. Com foco nesse público, um projeto do Ministério da Saúde começou a ser desenvolvido em Curitiba no ano passado e realizou 2,7 mil consultas farmacêuticas na cidade. O objetivo é evitar os malefícios causados pela prescrição e uso errado dos remédios, com dosagem equivocada ou combinação de substâncias que causam efeitos nocivos.
O projeto que integra o Qualifar faz com que os 57 farmacêuticos da rede pública curitibana deixem de cuidar apenas dos produtos e passem a realizar atendimentos clínicos dos pacientes, orientando como tomar os remédios. São analisadas as doses, os horários e a alimentação. “Tudo pode influir no resultado do remédio”, afirma a coordenadora da Atenção Farmacêutica da Secretaria de Saúde do município, Beatriz Patriota. Também é avaliado se aquele medicamento é necessário, uma vez que a substância que o organismo necessita pode estar em um outro que o paciente já faz uso.
Segundo dados parciais do projeto desenvolvido em Curitiba, 99% dos 566 pacientes que participaram do projeto em 2014 tiveram algum problema relacionado com o uso dos medicamentos. Foram identificados 289 medicamentos diferentes utilizados pelos usuários pesquisados. No total, estavam em uso 3.977 medicamentos, resultando numa média de sete medicamentos por pessoa.
Beatriz ressalta que apenas ter acesso ao medicamento não é suficiente para evitar outros problemas de saúde. “O acompanhamento farmacoterapêutico é fundamental para podermos administrar melhor as doses e perceber se há medicamentos que interagem entre si e podem provocar reações adversas. Até a questão do horário em que ingere um remédio e depois outro pode interferir nas reações do organismo perante a medicação”, explica a farmacêutica.
Segundo ela, cerca de 70% dos casos que param nas unidades de pronto-atendimento poderiam ser evitados. “Até então, os farmacêuticos não faziam consulta propriamente dita. Os remédios eram prescritos e depois não era realizado nenhum cuidado para saber como as pessoas estavam usando nem os resultados dos medicamentos”, afirma.