Onde os urubus reinavam, agora há garças. Três anos após ser desativado, o Aterro Sanitário da Caximba dá sinais de recuperação ambiental, graças ao manejo e monitoramento constante da área. O tratamento tradicional do chorume no qual o líquido da decomposição é captado por drenos e levado a um tanque para uniformização é complementado por uma técnica que utiliza as plantas existentes no local. Esse sistema auxiliar, implantado em 2009, aumentou a eficiência do tratamento em até 80%.
O sistema de plantas foi a alternativa escolhida pela prefeitura de Curitiba para reduzir os altos níveis de toxicidade do aterro, que em 2009 superavam em 60 vezes os parâmetros permitidos pela legislação, segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Durante os 21 anos de operação, o local recebeu cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos de Curitiba e municípios da região metropolitana. Com toda essa carga, a previsão é que o chorume continue a ser liberado por mais 30 anos, período em que o aterro terá de ser permanentemente monitorado.
O projeto foi desenvolvido pela bióloga Leila Teresinha Maranho, coordenadora do curso de mestrado em Biotecnologia Industrial da Universidade Positivo, com o apoio de outros pesquisadores e alunos. "Apenas dois outros aterros implantaram esse sistema, que são os de Gramacho e Piraí, mas são projetos pilotos. Na escala que temos aqui, desconheço que exista em outros locais", diz. O tratamento complementar consiste de três cavas, chamadas de banhados naturais (wetlands), por onde passa o chorume que sai do tanque de equalização. A concentração de poluentes vai diminuindo à medida que o sistema faz a absorção, até chegar a um nível satisfatório para ser descartado no Rio Iguaçu.
Leila havia desenvolvido um projeto semelhante em Guaratuba, mas com um aterro bem menor. O desafio do Caximba, por outro lado, diz respeito às condições climáticas de Curitiba. "Cai a eficiência do sistema no inverno. Quando chega a primavera, são registrados picos de eficiência, mas nosso desafio agora é fazer o manejo adequado para minimizar essas variações", explica. Outro estudo que está sendo desenvolvido é a geração de biomassa com as plantas das wetlands. "Vamos medir o poder calorífico e a quantidade de biomassa por hectare. Já há empresas demonstrando interesse em usar esse material", diz.
Animais
O chefe de divisão do Departamento de Limpeza Pública da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Luiz Celso Coelho da Silva, conta que tem aumentado a presença de animais no local. "Mandamos os urubus embora faz tempo. Agora temos garças, muitos pássaros, bugios e capivaras. Também já foi observado um veado. Com essa aproximação, haverá cruzamentos e logo a quantidade de animais será bem maior."