Tatuadores de todo o Brasil estão preparando o primeiro grande movimento nacional da categoria. Não, não se trata de nenhuma exposição de braços e costas tomados por desenhos tribais, dragões coloridos e guerreiros. A mobilização, que promete chegar a Brasília, é para tentar barrar um projeto de lei (PL) que, se aprovado, vai limitar a atividade a pessoas com formação médica ou obrigar os profissionais da tatuagem a manterem um médico no local de trabalho. Apresentado em 2002, o PL 268 já foi aprovado pelo Senado, no fim do ano passado, e está tramitando na Câmara dos Deputados, sem previsão para ser votado.
O que vem preocupando tatuadores e body piercers é o artigo 4.° do projeto, que estabelece como atividades exclusivas do médico, entre outras, a "invasão da epiderme e derme com o uso de produtos químicos ou abrasivos" e a "invasão da pele atingindo o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção, insuflação, drenagem, instilação ou enxertia." Se for aprovado, o PL segue para sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Posso até fazer a faculdade de Medicina, mas largo a tatuagem", brinca Idalgo Luzza, 34 anos, um dos mais experientes tatuadores de Curitiba. Poyoka, como é conhecido, acha que a tatuagem virou alvo por ter deixado o gueto. "Antigamente, tatuagem era coisa da escória. Agora, que todo mundo tem alguém tatuado em casa, inventam esse projeto do dia para a noite", afirma. Em 18 anos de profissão, Poyoka acompanhou a evolução das medidas de segurança, o que praticamente eliminou o risco de contaminações. "Nenhum tatuador é contra esterilizar os materiais. Nossa esterelização é melhor que a de muitos hospitais públicos, que são de dar medo."
Depois de 15 anos no ramo, o tatuador Mário Reinauer, 38 anos, enumera alguns passos essenciais para que o desenho deixe o papel e vá para a pele com segurança. Em primeiro lugar, o profissional usa luvas cirúrgicas e máscara; os aparelhos destinados à remoção de pêlos e as agulhas que entram em contato com a pele são descartáveis; a peça de aço cirúrgico em que a agulha é encaixada é lavada e esterilizada depois de cada aplicação; as tintas, importadas, são atóxicas, fabricadas para este fim e colocadas em pequenos recipientes durante a aplicação, para que não sejam reutilizadas.
No Paraná, estas e outras normas são definidas pela resolução 126, da Secretaria de Estado da Saúde, publicada em 1.° de março deste ano. Tantos cuidados exigem investimento: hoje, para um estúdio funcionar com segurança, o investimento varia de R$ 15 mil a R$ 20 mil. "Aprendi muito de esterilização com médicos. Mas, se esse projeto virar lei, vai ter médico que vai passar uma vez por mês no estúdio, só para assinar e receber", diz Reinauer.
A dermatologista Ewalda Stahlke, que integra a diretoria da seção paranaense da Sociedade Brasileira de Dermatologia, ressalta que a limitação imposta pelo PL 268 é para atividades ligadas à Medicina. "Tatuador é tatuador", define. "É uma atividade específica. Não há conflito entre as atividades." Um problema que pode ocorrer, segundo ela, é se a pessoa for alérgica à tinta. "O profissional deve verificar se há algum impedimento", recomenda. Ewalda Stahlke destaca que as mesmas regras valem para aplicação do piercing. O que está vetado são enxertos (quando a pessoa implanta "chifrinhos" na testa, por exemplo) e as bifurcações de língua (quando a pessoa fica com a língua semelhante à de uma cobra).
Enquanto a discussão esquenta, os fãs das tatuagens procuram os estúdios. "Eu pensava no trabalho, mas meu chefe também tem tatuagem", afirma Guilherme Belinski, 19 anos, que trabalha em um laboratório ótico em Curitiba.
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