Embora a ideia de transformar ruas sem saída em "quase" vilas fechadas pareça agradar a muitos moradores, a inconstitucionalidade presente nos princípios do projeto deve gerar polêmica no âmbito judiciário caso a proposta de lei seja aprovada pelos vereadores e sancionada pelo prefeito Beto Richa. O projeto de lei do vereador Mário Celso Cunha (PSB) não é considerado constitucional por comprometer o livre uso por todos os cidadãos de bens públicos, ou seja, o livre acesso às ruas. O alerta foi feito pelo advogado Rodrigo Pironti Aguirre de Castro, presidente da Comissão de Gestão Pública e Assuntos da Administração da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná (OAB-PR).
Assim como praças e rios, as ruas são bens de uso comum da população. "O uso e gozo desses bens é permitido a qualquer pessoa sem distinção de nacionalidade, entre pessoas físicas ou jurídicas, entre pessoas privadas ou públicas. Portanto, a sua utilização é permitida a todos aqueles que desejem fazer o uso desse bem, nada se exigindo em termos de autorização ou permissão", diz o jurista, baseado nos artigos 37 da Constituição e 99 do Código Civil. Castro considera um absurdo o projeto de lei já ter passado pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação da Câmara Municipal.
Em defesa da proposta, Cunha afirma que as ruas não se tornarão privadas e que a elaboração do projeto foi supervisionada juridicamente. "A rua vai ter um controle, não vai ser impedido o acesso. Não vejo como inconstitucional porque não fere a liberdade de terceiros. Você está ampliando a segurança. É um controle", defende. Entretanto, o livre acesso às vias estaria comprometido, já que se torna preciso passar por um controle e até mesmo restrições de horários de circulação. "A rua é pública. Dessa forma, cria-se uma área que não é legalmente constituída", rebate Castro.
Apesar de caminharem contra a lei em vigor, pelo menos três condomínios em Curitiba já cercam ruas sem saída e, às vezes, até mesmo ruas normais. Casos como esses se encontram sob ação fiscal da Secretaria Municipal de Urbanismo por não ser permitido o bloqueio. No entanto, não há um número oficial dessas situações. Serve como exemplo o condomínio Portal do Bariguy, no bairro Mossunguê, no qual 94 casas em cerca de dez ruas curtas ou sem saída encontram-se cercadas por muros e o acesso é restrito a pessoas autorizadas. Apesar de a presidente da associação dos moradores Ecilda Ribeiro afirmar que há apenas um controle de entrada na portaria, a reportagem da Gazeta do Povo não pôde ter acesso à área na última quarta-feira. "É questão de se identificar e saber o porquê quer entrar", justifica Ecilda.
No condomínio, uma área praticamente privatizada, os moradores arcam com todas as despesas, até mesmo aquelas que seriam de responsabilidade do poder público, como tapar buracos nas ruas, trocar lâmpadas dos postes, manter canteiros, a flora e a fauna. "A tranquilidade que você tem compensa o gasto. Aqui as nossas crianças andam livres nas ruas, os moradores respeitam o trânsito, as ruas estão limpas, a segurança aumentou 100%. É como se estivéssemos em um país de primeiro mundo", considera Ecilda.
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora
Deixe sua opinião