Evitar o desperdício diários de 20 toneladas de alimentos, processar essa comida e encaminhá-la para instituições que atendem pessoas carentes. A meta ambiciosa é da ONG Slow Food Pró-Vita. Para alcançar o objetivo, o grupo fechou uma parceria com o Provopar Paraná e fincou pés na cozinha da instituição instalada na Ceasa de Curitiba. Agora, o plano é formalizar parcerias com faculdades da cidade para ter gente suficiente para selecionar, higienizar, descascar, picar e embalar frutas e verduras que antes iriam para o lixo.
A ideia é que o projeto saia do papel neste semestre e que, o mais rápido possível, as 20 toneladas diárias de comida que antes iriam para o lixo passem a ter as panelas como destino. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano em todo o planeta. O desperdício cobra a sua conta. Ainda de acordo com dados da FAO, US$ 750 bilhões (ou R$ 2,3 trilhões) por ano são jogados fora com o alimento desperdiçado.
No Brasil, estima-se que 30% de tudo o que é produzido vá parar no lixo sem nunca chegar à mesa do consumidor. Só no Ceasa de Curitiba, cerca de 50 toneladas de alimentos vão ao lixo diariamente nos meses mais quentes do ano. Na época de frio, em que há uma baixa na produção e comercialização, essa média vai para 30 toneladas diárias.
De todo esse volume, o banco de alimentos instalado na Ceasa consegue salvar menos de cinco toneladas por dia. Essas frutas e verduras que chegam ao banco por meio das doações de comerciantes e produtores do local são repassadas para instituições cadastradas no Provopar estadual. Mesmo essa doação, no entanto, não garante o consumo.
“Quando houve as enchentes no ano passado, por exemplos. Foram enviadas 8 toneladas de frutas e verduras para as cidades inundadas. Mas quase tudo se perdeu, porque as pessoas não tinham como processar esses alimentos”, comenta o líder do movimento Slow Food Pró-Vita no estado, João Alceu dos Santos. De acordo com ele, um mínimo de processamento desses alimentos já ajudaria a evitar o lixo como destino.
Esse processo consistiria em higienizar, picar e embalar vegetais. Transformar determinadas frutas em compotas e pré-cozinhar certas qualidades de legumes. Alguns desses processos facilitam o consumo imediato e outros ampliam o prazo de validade dos alimentos. Além disso, na avaliação de Santos, passar a ofertar mais uma facilidade ampliaria o número de instituições interessadas em receber as doações da Ceasa.
De acordo com ele, cerca de 800 instituições estão hoje cadastradas no banco Provopar, mas apenas 170 vão à Ceasa buscar os alimentos. Mas para aumentar o número de instituições que se beneficiam do que antes iria para o lixo também é necessário aumentar a quantidade de doações. Aqui entra outra ponta da ação do Slow Food Pró-Vita, trabalhar junto com aos comerciantes e produtores para sensibilizá-los sobre a importância da doação.
De acordo com a gerência do Banco de Alimentos da Ceasa, apenas 30% dos comerciantes e produtores que atuam na Ceasa doam o que não vão mais comercializar. Para mudar esse quadro, o Slow Food Pró-Vita tem promovido alguns eventos para envolver o pessoal local. Como ocorreu na semana passada, com o Arraiá Gastronômico.
Na linha de reduzir o desperdício de alimentos, a rede de supermercados Intermarché, que atua na França e em Portugal, lançou há alguns anos campanhas pelo consumo dos alimentos feios. Os produtos considerados fora do padrão são colocados a venda por um preço mais baixo. Também são preparados e colocados a venda sucos e outros pratos com os “feiosos”. Com isso, a maçã desforme, a cenoura que vem grudada a outra e outras frutas e verduras boas para o consumo, mas fora do padrão, ganham outro destino que não o lixo.