A abertura da Praça Miguel Couto, a chamada Pracinha do Batel, extrapolou as rodas de discussão entre vizinhos e chegou ao meio político. A remodelação dos 1.672 metros quadrados do logradouro, com o objetivo de ligar a Rua Carneiro Lobo à Rua Desembargador Costa Carvalho e desafogar o trânsito na região, pode até mesmo virar pretexto para acirrar ainda mais as relações nada harmônicas entre a prefeitura de Curitiba e o governo do estado.
Os moradores são representados por duas entidades: a Associação dos Condôminos do Batel e o Movimento Amigos do Batel. O primeiro é favorável ao projeto. O segundo é contra e tem entre seus coordenadores o bacharel em Direito Rafael Xavier assessor jurídico da Casa Civil do governo do estado (PMDB), em cargo comissionado, e presidente da Juventude Municipal do PMDB.
Foi Xavier quem liderou o movimento que recolheu 2 mil assinaturas em defesa da preservação da praça e que entrou com um pedido de tombamento do logradouro na Secretaria de Estado de Cultura. Ou seja, levou ao governo do estado a decisão de transformar ou não a Pracinha do Batel em patrimônio histórico e colocar o projeto da prefeitura na gaveta definitivamente.
Na última quarta-feira, quando a prefeitura apareceu de surpresa para iniciar as obras, Xavier chegou a se agarrar a uma árvore para tentar bloquear a ação das máquinas, antes da chegada da liminar da Justiça que proibiu qualquer intervenção na pracinha. Horas depois, um e-mail circulava pela internet comemorando o feito da juventude peemedebista.
Xavier defende-se dizendo que estão tentando usar a sua filiação política para desviar a atenção do assunto principal. "Em momento algum coloquei a questão partidária, nem falei em nome do governo. Estou falando como cidadão. A prefeitura está levantando uma cortina de fumaça para que o assunto não seja discutido", declara.
Candidatos
Para completar, nas últimas semanas, o presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Rafael Greca (PMDB), o deputado estadual e presidente municipal do DEM (ex-PFL), Osmar Bertoldi, e a petista Gleisi Hoffmann defenderam publicamente a preservação da praça. Todos têm, em comum, o sonho pela prefeitura.
Mesmo com todas essas evidências, o administrador regional da Matriz da prefeitura, Omar Ackel, não acredita que a questão política possa causar transtornos ao projeto. "Não creio que o governo do estado fará retaliação em cima de um projeto de interesse da população."
É o que garante também a coordenadora do Patrimônio Cultural do estado, Rosina Parchen. "O Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico sempre se manteve isento de viés político", declara. Composto por 20 membros, o conselho é presidido pela secretária estadual da Cultura, Vera Mussi.
Por enquanto, a situação está indefinida. A prefeitura tem 20 dias, a contar do último dia 6, para entrar com um recurso contra a liminar que suspende, por enquanto, qualquer alteração na praça.