8,7 mortes por 100 mil habitantes é a taxa média de homicídios em 29 comunidades com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no Rio de Janeiro, onde vivem 252,5 mil pessoas. O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo Mapa da Violência, diz que uma taxa até dez por 100 mil habitantes não é normal, mas está próxima da normalidade. Acima disso é considerada epidêmica pela Organização Mundial da Saúde.
Sol a pino e sensação térmica de mais de 40 graus. Para aliviar o calor, meninos tomam banho de mangueira no largo de acesso ao Morro Dona Marta. Alheios à algazarra, moradores e turistas circulam entre vielas, que lembram um labirinto. Anos atrás, a imagem seria diferente. No local onde os garotos hoje se banham havia um ponto de venda de drogas, traficantes ditavam as regras e a lei era a do fuzil.
Com a implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, a comunidade de 6 mil habitantes, em Botafogo, viu a rotina de guerra mudar e há cinco anos não conta um assassinato. Nesse período, o programa de pacificação retomou territórios, onde os homicídios caíram drasticamente. Atualmente, em 29 favelas pacificadas na cidade, onde vivem 252,5 mil pessoas, há 8,7 mortes por 100 mil habitantes. O número é menos da metade da taxa média de assassinatos do país, que é de 24,3.
Levantamento inédito feito a partir de estatísticas do Instituto de Segurança Pública revela que em sete Dona Marta, Chapéu Mangueira, Babilônia, Ladeira dos Tabajaras, Morro dos Cabritos, Formiga e Salgueiro das 29 comunidades analisadas não foi registrado sequer um assassinato no ano passado. Nas outras 22 favelas, houve 22 mortes, e a tendência é de queda: foram seis a menos que em 2011.
Se comparada ao índice de Medellín, é quatro vezes menor. A cidade colombiana, que foi reduto do traficante Pablo Escobar, tem taxa de 38 assassinatos por 100 mil habitantes.
Apesar de já terem sido implantadas 36 UPPs, que beneficiam diretamente 540,5 mil pessoas, os dados levantados pela reportagem junto ao ISP levam em conta apenas os registros de 18 UPPs, que abrangem 29 comunidades. Tratam-se de unidades com pelo menos dois anos de existência, o que dá mais consistência à análise dos resultados.
Em paz
Maria dos Anjos, de 40 anos, não entende de taxas ou estatísticas. A diarista, mãe de três filhos, cresceu no Dona Marta em pleno período de guerra entre quadrilhas. Para ela, o mais importante é poder sair de casa pela manhã sabendo que o imóvel não será invadido por bandidos enquanto estiver fora.
"Meus filhos já estão encaminhados, trabalham e cuidam de suas famílias, mas tenho um casal de netos que nunca ouviu um tiro. No passado, perdi as contas das vezes em que pedi para dormir na patroa, por não poder voltar para casa por causa dos tiros."
Pacificação expôs "feridas" das favelas
Se por um lado a UPP abriu caminho para que o Morro Dona Marta, em Botafogo, se consolidasse como ponto turístico, também deixou à mostra as carências típicas das favelas. Algumas delas, contudo, só podem ser vistas à noite, com auxílio de lanternas. É assim, iluminando o próprio caminho, que Antônia de Oliveira, de 52 anos, chega em casa, ironicamente, na Rua da Luz. Apesar de os R$ 7 da taxa pelo serviço constar mensalmente da conta de luz, o breu toma conta de becos e vielas, obrigando moradores a andarem com lanternas para escapar da escuridão. "A gente anda igual a vagalume, iluminando o caminho para não cair" lamenta outra moradora, Regina da Silva.
A Companhia Municipal de Energia, a Rioluz, diz que atua em todas as favelas pacificadas e transfere a responsabilidade àqueles que fazem "gatos", alegando que, sempre que a carga ultrapassa o estipulado como padrão, a energia é desligada.
Esgoto a céu aberto é mais um problema que extrapola a pacificação. Que o diga o presidente da Associação de Moradores Dona Marta, José Mario dos Santos. "Temos 80% das casas ligadas à rede de esgoto oficial e 5 valas negras."
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