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O projeto da ONG Ñandeva, de Foz do Iguaçu, foi um dos finalistas da Região Sul: artesãs reproduzem bordados ligados à identidade cultural de suas cidades | Fotos: Divulgação
O projeto da ONG Ñandeva, de Foz do Iguaçu, foi um dos finalistas da Região Sul: artesãs reproduzem bordados ligados à identidade cultural de suas cidades| Foto: Fotos: Divulgação

MEIO AMBIENTE

Entenda o conceito de tecnologia social e conheça dois bons exemplos de ações de sustentabilidade ambiental

O que é

As tecnologias sociais consistem em produtos, técnicas ou metodologias replicáveis que apresentam soluções para a transformação social e que são desenvolvidas na interação com a comunidade. Não há patente nas tecnologias e elas podem ser reproduzidas gratuitamente. Podem aliar saber popular, organização social e conhecimento técnico para a promoção do desenvolvimento sustentável.

PAIS

A Produção Agroecológica Integrada e Sustentável é uma técnica de plantio que não agride o meio ambiente. Não há uso de agrotóxicos nem necessidade de desmatamento. A partir de um círculo há o plantio de diversos tipos de alimentos e no centro há a criação de galinhas. Os animais comem a produção que não é usada e ajudam a produzir o adubo natural. Esta tecnologia social estimula a produção de variados tipos de alimentos orgânicos, além de preservar o solo e fazer uso sustentável da água.

Fosse séptica ecológica

A falta de esgotamento sanitário no Brasil atinge grande proporção da população e é na área rural que esse problema é mais crônico. Para evitar a contaminação do solo e do lençóis freáticos, esta tecnologia social trabalha com o tratamento de dejetos de forma orgânica. Em uma das técnicas há apenas o uso de estrume de vaca, que contém bactérias que se alimentam do esgoto. No fim do processo o resíduo já não é mais prejudicial à natureza.

Critérios

Ações precisam ser replicáveis

O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social foi criado em 2001 com o objetivo de reconhecer iniciativas que contribuem para a redução da desigualdade e preservação do meio ambiente. Um banco com as tecnologias foi criado para disseminar as boas práticas. Na edição de 2011, o tema principal foi a erradicação da miséria. O prêmio ocorre a cada dois anos e dá aos vencedores uma quantia de R$ 80 mil. Os critérios para escolha dos vencedores é a capacidade de replicabilidade, efetividade e interação com a comunidade.

Ao todo foram 1.116 inscrições de todo o país, com 264 tecnologias certificadas. Deste grupo foram selecionados como finalistas 27 projetos, que concorreram em nove categorias tradicionais, uma para cada região do país, mais quatro categorias especiais, sobre Direitos da Criança; Recursos Hídricos; Participação das Mulheres; e Políticas para a Erradicação da Pobreza.

  • Em Santa Terezinha de Itaipu, a rosa foi incorporada ao artesanato devido à ligação religiosa da santa que dá nome à cidade e tem ligação com as flores

Iniciativas de combate à pobreza e de estímulo à sustentabilidade de todo o país estão sistematizadas em um banco de tecnologias so­­ciais criado pela Fundação Banco do Brasil. O objetivo é disseminar e facilitar a replicabilidade de boas práticas. São ações que unem saber popular e integração comunitária em prol do meio ambiente e da redução das desigualdades sociais. Nesta terça-feira foi apresentado em Brasília o Prêmio Tecnologia Social, que certificou 264 novos projetos, de um total de 1.116 inscritos.

Deste grupo foram selecionados os vencedores de 13 categorias. No Paraná, dois projetos de Maringá foram premiados: na categoria Região Sul o vencedor foi a ação "Visão de Liberdade" e na categoria Tecnologias Sociais na Construção de Políticas Públicas para a Erradicação da Po­­breza venceu o programa "Hor­­ta Comunitária", considerado importante para o combate à pobreza. O projeto foi responsável pela implantação de 20 hortas em terrenos baldios de Maringá, que beneficiam 2 mil pessoas e produzem 180 toneladas de alimento todos os anos.

Mão dupla

O "Visão de Liberdade" foi destaque por ajudar a incluir presidiários e pessoas com deficiência. Uma parceria do Conselho Comunitário de Segu­­rança do município, da penitenciária da cidade e do Centro de Apoio Pedagógico para Aten­­dimento às Pessoas com Defi­­ciência Visual (CAP) fez com que os detentos produzissem materiais destinados aos cegos. O projeto já confeccionou 25 mil trabalhos em relevo, 350 livros em braile e 150 audiolivros desde 2004. O material é enviado para instituições em 190 cidades de todo o Brasil e para a Biblioteca de Lisboa, em Portugal.

Diretor da penitenciária de Maringá, Luciano Brito diz que essa tecnologia social proporciona uma inclusão de mão dupla. Além de garantir que os deficientes visuais tenham acesso a materiais educativos, oferece uma possibilidade de ressocialização para os presos. A cada três dias trabalhados, os detentos reduzem a pena em um dia. Para poder participar do programa, eles são alfabetizados e passam por diversos treinamentos.

A professora Maria Ângela Sierra, coordenadora do CAP em Maringá, diz que a produção co­­mercial desses itens é muito cara, por isso a parceria ajuda a universalizá-los. O CAP não tem gastos com o "Visão de Liber­dade", já que os CDs são doados pela Receita Federal a partir de apreensões e o trabalho dos presidiários é voluntário. As demais despesas também são pagas com doações e captação de recursos de instituições financiadoras do terceiro setor.

Artesanato resgata história de municípios

Em Foz do Iguaçu, o projeto da organização não governamental Ñandeva foi um dos finalistas da Região Sul. O objetivo é resgatar a identidade cultural dos municípios lindeiros do Lago de Itaipu. Com a criação da usina, em 1982, grandes áreas dessas localidades foram alagadas e parte do passado dos moradores se perdeu. A ONG teve a ideia de promover um resgate histórico para reestruturar o artesanato produzido pelas comunidades, que passaria a refletir a identidade cultural dos municípios.

A Ñandeva reuniu 95 artesãos de oito municípios – Foz do Iguaçu, Itaipulândia, Santa Terezinha de Itaipu, Guaíra, Santa Helena, Medianeira, Pato Bragado e Marechal Cândido Rondon – para fazer uma pesquisa sobre as características de cada localidade. Eles reuniram documentos antigos encontrados nas prefeituras e bibliotecas, realizaram entrevistas com moradores e sistematizaram o material encontrado.

A partir desse acervo, os artesãos passaram a incorporar em seus produtos a história que estava esquecida. Um designer acompanhou o processo e ajudou na reestruturação dos artesanatos. Foram criados 281 novos produtos distribuídos em 8 coleções. Um livro sobre esta tecnologia social também será lançado até o fim do ano.

O bordado produzido pelos artesãos passou a representar ícones locais e não algo "emprestado" de outras culturas. As bordadeiras que antes bordavam figuras de desenhos animados, como o Mickey, passaram a reproduzir itens de sua própria cultura. Em Santa Terezinha de Itaipu, por exemplo, a rosa passou a ser um elemento nos artesanatos devido à ligação religiosa da santa que dá nome à cidade e tem ligação com as flores. Em Marechal Cândido Rondon, as casas com arquitetura alemã ganharam destaque nos trabalhos.

Para Ana Cristina Nóbrega, coordenadora geral do projeto, o maior desafio ainda é fazer com que os artesãos reflitam sobre o conceito e tragam originalidade para seus produtos. Na opinião de Sandra Finkler, coordenadora local, esta descoberta das identidades culturais dos municípios pode ajudar também em outros setores, como o turismo e as artes em geral.

A repórter viajou a convite do Banco do Brasil.

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