Anunciado há um ano pela Polícia Militar (PM), o Programa Segurança Social, que aproxima a polícia da comunidade em áreas carentes, com o apoio de entidades sociais que ajudam no desenvolvimento dos moradores, segue sem data definida para ser implantado na Vila Torres, no bairro Prado Velho, em Curitiba. De acordo com a PM, os policiais que participarão do projeto já foram treinados para fazer o policiamento comunitário. Entretanto, eles não sabem quando passarão a atuar na Vila Torres.
Na tarde do último domingo, a vila foi palco de um tiroteio entre grupos de traficantes rivais que deixou seis feridos. Um menino de 11 anos e um adolescente de 15 estão internados no Hospital Cajuru. No Evangélico está Marcio de Oliveira Correia, 20 anos, que levou dois tiros na nuca quando passava de carro pela esquina das ruas Guabirotuba e Sérgio Dudeck, próximo ao portão 3 da Pontifícia Universidade Católica, onde, no momento do incidente, acontecia o vestibular da Universidade Federal do Paraná. Os três seguem estáveis, mas sem previsão de alta.
Se estivesse em ação, o Segurança Social cuja implantação na Torres foi anunciada pela PM na operação policial de novembro de 2008, em que o secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, chegou a sobrevoar a área de helicóptero , talvez a realidade hoje fosse outra. O exemplo está na Vila Osternack, no Sítio Cercado, onde o Segurança Social está em ação desde dezembro. De lá para cá, o índice de homicídios na região, um dos mais altos da cidade, com até 14 mortes em um único fim de semana, caiu para a média de um por mês.
Em setembro, quando a reportagem foi conhecer o programa, havia dois meses que ninguém morria assassinado no Osternack. A estação-tubo do bairro, até então a mais assaltada de Curitiba, nunca mais foi alvo dos criminosos. Tudo por conta da aproximação gerada entre os moradores e a PM.
Antes da implantação da polícia comunitária, as polícias Militar e Civil tiraram de ação as principais lideranças do crime no Osternack. Com isso, a PM agregou 45 instituições parceiras do Segurança Social. São repartições públicas, empresas, igrejas e associações de moradores que colaboram em ações sociais como capacitação profissional, emissão de documentos e entrega de alimentos.
Segundo moradores, hoje não existe policiamento comunitário na Vila Torres. "As viaturas até passam, mas a população não tem contato com os policiais. Eu mesmo não sei o nome dos policiais que trabalham aqui", diz a aposentada Arminda de Faria de Oliveira, 60, que mora há 35 anos na Torres e teve um filho vítima da violência.
Para o eletrotécnico Marcos Eriberto dos Santos, 38 anos, presidente da Associação de Moradores, o maior problema na comunidade não é a violência, mas o estigma. "Aqui somos invisíveis. Quem passa na Avenida não nos vê. Enquanto as autoridades acharem que vão resolver a segurança pública com policiais, a situação não vai melhorar. Não precisamos só de polícia, mas de políticas eficazes."
O assistente social Adilson Pereira de Souza, que criou um projeto que atende 50 crianças da região, acredita que a discussão sobre a implantação da polícia comunitária tem de ser feita com a comunidade o quanto antes. "As pessoas têm medo da polícia. É preciso participação para funcionar".