Queimados recuperam a visão
Pacientes que perderam a visão em consequência de queimaduras químicas na córnea são os maiores beneficiados por uma nova técnica, que combina o uso de membrana aminiótica e células-tronco. Em Curitiba, o oftalmologista Hamilton Moreira vem pesquisando a técnica desde os anos 90 do século passado.
Otorrino
Tratamento de surdez engatinha
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) iniciaram há cinco anos estudos sobre a implantação de células-tronco no órgão de Corti, estrutura do ouvido interno onde estão as células ciliares, que convertem as vibrações sonoras em impulsos nervosos. "Os estudos sobre o uso de células-tronco na surdez, tanto no Brasil quanto no exterior, atualmente estão restritos a animais", explica o professor Luiz Carlos de Melo Barboza Junior, do Departamento de Otorrinolaringologia da USP.
Nas experiências feitas em animais, as células-tronco podem ser obtidas de diversos tecidos, como embriões, medula óssea, cérebro, pele e da própria orelha. Elas são implantadas em cobaias com surdez induzida. "Já existem alguns resultados relativamente promissores, como a sobrevivência de células-tronco dentro da orelha implantada, a transformação delas em células com características das da orelha e a expressão pelas células-tronco implantadas de proteínas que são próprias da orelha", conta. "Porém nenhum estudo demonstrou ainda regeneração total da audição após implantação."(AS)
Autorizadas pela Lei de Biossegurança, que foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva há cinco anos e declarada constitucional pelo Supremo Tribuinal Federal em março de 2008, as pesquisas com células-tronco embrionárias ainda não foram liberadas para testes em seres humanos no Brasil nem tiveram avanços significativos mundo afora. Longe dos dilemas éticos causados pelos procedimentos que envolvem embriões, pesquisadores brasileiros vêm conseguindo resultados promissores nos estudos com células-tronco adultas, obtidas do próprio paciente a ser tratado. Tecnicamente, a vantagem de se extrair células do paciente é óbvia: o procedimento afasta o risco de rejeição. A cura de doenças cardíacas e a recuperação dos sentidos da audição e da visão estão entre os objetivos dessas pesquisas.
No Paraná, o professor cirurgião cardiovascular Danton da Rocha Loures é o coordenador dos estudos no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os trabalhos são feitos em duas frentes: no tratamento da cardiomiopatia dilatada (coração aumentado) de causa desconhecida, tanto como parte de uma pesquisa nacional, patrocinada pelo Ministério da Saúde, quanto em âmbito local, com suporte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e no combate à cardiopatia isquêmica (paciente infartado, com ponte de safena), com apoio da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia.
No HC, 70 pacientes participam da experiência há dois anos. As células-tronco são retiradas da medula óssea, isoladas, contadas e aplicadas diretamente no coração, com seringa do tipo usada para injetar insulina. Cada aplicação tem 2 mililitros de solução contendo de 100 milhões a 800 milhões de células-tronco. "Há uma relação direta entre o número de células e o resultado obtido", garante o pesquisador. "Os melhores efeitos aparecem quando se aplicam pelo menos 800 milhões de células."
Os resultados preliminares apontam uma melhora nos sintomas: pacientes que reclamavam de muita falta de ar e muito cansaço passam a fazer queixas mais discretas. "A capacidade de contração do coração, porém, parece não ter melhorado na mesma proporção", explica o médico. "O paciente melhora, mas não volta ao normal." As células-tronco da medula óssea, chamadas de hematopoiéticas (formadoras de sangue), têm grande capacidade de formar vasos, revascularizando o coração, mas parecem ter pouco efeito na produção das células do miocárdio, responsáveis pelas contrações.
A chave parece estar em outro tipo de células-tronco, as células mesenquimais. Elas estão presentes no cordão umbilical, mas também são encontradas na medula óssea, em menor número. Isolá-las e cultivá-las pode ser a solução para um tratamento mais completo de recuperação do músculo cardíaco. Outro caminho foi apontado pelos pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR): o cultivo de células musculares (mioblastos) retiradas da perna do paciente. Aplicadas em conjunto com as células da medula óssea, elas proporcionaram efeitos positivos. "Ainda não há uma célula-tronco para tudo", explica Rocha Loures. "É necessária uma composição."
As células mesenquimais são as que mais se aproximam das embrionárias. Elas se multiplicam por mais tempo e podem se transformar em uma maior variedade de tipos de células. Novas pesquisas apontam que células comuns do organismo adulto podem ser transformadas em células iguais às embrionárias sem o risco de rejeição nem destruição de um embrião com o uso de vírus não patogênicos, abrindo novas perspectivas.
Para cultivar células-tronco no HC, foram necessários investimentos de R$ 360 mil na construção de um laboratório. "É uma sala limpa, sem bactérias", explica Rocha Loures. "O espaço é de dois por dois (metros), enquanto o filtro ocupa uma área cinco vezes maior. As células são manipuladas como se fosse em um centro cirúrgico, com o uso de máscara, gorro e luvas."
Embora já se tenha bons resultados, o médico lembra que as pesquisas ainda exigem cautela, pois há muitas dúvidas ainda não esclarecidas. As principais são: o que vai determinar a transformação das células-tronco em determinado órgão? Quando elas vão parar de se multiplicar? Elas podem se transformar em tumor? Quais os fatores que influenciam na multiplicação e diferenciação?
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