A possibilidade de substituição dos 38 policiais militares que atuam no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), anunciada nesta semana pelo comando-geral da Polícia Militar (PM), causou indignação entre promotores do órgão. A insistência do comando da PM em recadastrar os policiais cedidos ao Gaeco e retirá-los do órgão temporariamente abre a possibilidade para a paralisação completa das cerca de 250 investigações em curso no estado. Três dos principais promotores do Gaeco acreditam que a segurança pública pode sofrer um impacto forte se as apurações forem inviabilizadas.
Alguns policiais militares que atuam no Gaeco já voltaram aos seus batalhões para o recadastramento, medida adotada pelo comando da PM para tomar conhecimento do efetivo cedido a outros órgãos. Parte desses agentes, porém, retornou ao Gaeco, mesmo correndo risco de punição. Na quarta-feira, o comandante-geral da PM, coronel Marcos Teodoro Scheremeta, disse que os policiais que atuam no Gaeco serão substituídos. No mesmo dia, o governador Beto Richa disse não ver problemas nas substituições.
Principal órgão de combate ao crime organizado no Paraná, o Gaeco já teve sua existência ameaçada. No fim de 2000, um incêndio atingiu a sede da antiga Promotoria de Investigações Criminais (transformada em Gaeco em 1997); em 2006, o então governador Roberto Requião tentou retirar os policiais do órgão durante uma investigação sobre interceptações telefônicas clandestinas.
Permanência
O coordenador estadual do Gaeco, procurador de Justiça Leonir Batisti, é contrário às substituições. "Não é possível trabalhar com a indicação unilateral de quem quer seja", afirma. Ele e dois promotores citam três motivos para pedir a permanência das equipes atuais: confiança, capacitação e continuidade.
Para o promotor Cláudio Esteves, do Gaeco em Londrina, o retorno dos policiais a seus quadros de origem acrescentará pouco à segurança. "Pelo contrário. A eficiência deles aqui [no Gaeco] é muito maior. O Gaeco desenvolve ações em prol da segurança pública."
Capacitação
Os policiais militares e civis que trabalham no órgão já passaram por inúmeros cursos de capacitação, o que tem sido essencial, segundo os promotores. Esteves teme que, caso os policiais sejam transferidos, a metodologia de trabalho seja prejudicada. O fim das investigações que estão em curso é outra possibilidade. "Respeitamos o comando [da PM], mas primeiro deve ser levado em consideração o interesse público", diz Esteves.
O coordenador do Gaeco em Guarapuava, promotor Cláudio Cortesia, diz que pode até deixar o cargo se houver a mudança. "Você prepara o policial e agora pode mudar", lamenta. "Os policiais não podem ser escolhidos por forças externas. Eles têm que ser de confiança. Jamais coordenaria um grupo em que a escolha dos integrantes não fosse minha."
Os promotores acreditam que a saída temporária de apenas um policial já impossibilitaria muitas etapas de apurações. "O tempo perdido é difícil de recuperar. Às vezes é preciso recomeçar", diz o coordenador do órgão em Foz do Iguaçu, Rudi Rigo Burkle.
Já o presidente da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai), coronel Elizeu Furquim, defende a volta dos policiais. Ele lembra que o Gaeco é um órgão do Ministério Público do Paraná, que deveria ter um efetivo próprio. O delegado geral da Polícia Civil, Marcus Michelotto, diz que os 20 investigadores que trabalham no Gaeco serão mantidos conforme a necessidade. "A permanência 24 horas depende de acordo entre os poderes e convênio", diz Michelotto. Scheremeta não quis comentar o caso.
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