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Prontuário eletrônico está longe de ser realidade no país

Na maioria dos hospitais do país, informações dos pacientes ainda ficam em papel. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Na maioria dos hospitais do país, informações dos pacientes ainda ficam em papel. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

O prontuário do paciente é eletrônico – mas, após o médico preenchê-lo no computador, tem de ser impresso, assinado e carimbado para ser usado. No almoxarifado e na farmácia, remédios e insumos precisam ser registrados em dois sistemas – e, além do trabalho de se registrar duas vezes a mesma coisa, já houve caso de a entrada do material ser contabilizada em um sistema, a saída, em outro, e aí o controle sobre o estoque já se perdeu. Quando esse tipo de situação envolve remédios, às vezes calha de a medicação não ser dada ao paciente porque seu estoque aparece zerado num dos sistemas – pois ela está registrada no outro.

Apesar de já ter custado pelo menos R$ 34,5 milhões, e de ter começado há 4 anos, em 2011, a implantação de um novo sistema de dados nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) – projeto federal hoje chamado e-SUS Hospitalar – ainda não conseguiu ser concluída nas primeiras unidades a receberem o projeto, os seis hospitais federais do Rio.

Atualmente, relatos de funcionários dão conta de que o sistema, um software de gestão para registro e controle de consultas, internações e materiais, por exemplo, funciona incompleto nesses hospitais e não se comunica com outros sistemas em funcionamento atualmente, o que acaba afetando o tempo de atendimento aos pacientes, além de aumentar riscos de desvio de materiais.

No Rio, o sistema anterior, chamado Hospub e desenvolvido pelo Datasus, funciona junto com o novo, da Totvs, multinacional com sede no Brasil, mas eles não se comunicam. “Isso acaba gerando trabalho dobrado para os funcionários. Há unidades em que setores de farmácia e almoxarifado, por exemplo, precisam registrar os materiais nos dois sistemas. Há especialidade em que a parte de ambulatório funciona no e-SUS, e a internação, no Hospub”, afirma o médico Júlio Noronha, do Sindicato dos Médicos do Rio.

O software da Totvs também não se comunica com o cadastro do Cartão SUS, projeto de gestão de informação também incompleto, no qual o governo federal já gastou mais de R$ 200 milhões, e pelo qual pretende criar uma identificação única para os usuários do SUS.

“Os módulos do e-SUS ainda não estão todos em funcionamento”, diz Aline Caixeta, procuradora que acompanha a instalação do projeto por um inquérito civil público instaurado em 2011, a partir de denúncia do Sindicato dos Médicos do Rio. O Ministério Público Federal do Rio fez ao Tribunal de Contas da União representação sobre o caso, junto com o Tribunal de Contas de Rondônia, estado interessado em usar o Hospub. Um relatório citado pelo TCU diz que a atualização do novo sistema, com migração para ambiente web e prontuário eletrônico, teria custo anual de R$ 2,5 milhões e não haveria a possibilidade de transferência de tecnologia, o que impediria futuras atualizações. O TCU determinou que seja feita uma auditoria para avaliar a possibilidade de atualização do Hospub, mas ela ainda não foi realizada.

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