A propaganda é composta de três peças para tevê que mostram o jeito “certo” e o jeito “errado” de dar uma má notícia ao marido: publicidade insinua que, de lingerie, a mulher tem mais chances de ser perdoada pelo homem| Foto: Divulgação

Polêmicas recentes

Não é de hoje que campanhas publicitárias provocam polêmicas entre consumidores e autoridades. Veja as mais recentes:

Pôneis Malditos

- A marca de carros Nissan e seu viral pôneis malditos foi alvo de várias reclamações, por juntar uma palavra do universo infantil com o adjetivo "maldito". O processo, entretanto, foi arquivado nesta semana no Conar e a empresa não sofrerá nenhuma punição.

Machado de Assis

- Um comercial da Caixa Econômica Federal em que o escritor Machado de Assis, que era mulato, foi interpretado por um ator branco foi retirado do ar pelo próprio banco, após protestos da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial.

Devassa Bem Loura

- O comercial estrelado por Paris Hilton teve a sua circulação vetada em março de 2010 pelo Conar. Parecido com o caso de Gisele Bündchen, a propaganda foi considerada sexista por desrespeitar os direitos da mulher, além de conter forte apelo sensual.

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A campanha de tevê da rede de lingeries Hope provocou diferentes reações nesta semana ao mostrar a top model Gisele Bündchen usando da sensualidade para acalmar a ira do marido diante de notícias negativas, como o estouro do cartão de crédito e uma batida de carro. Alguns grupos e até mesmo a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) consideraram a peça publicitária desrespeitosa à condição feminina e 15 reclamações de consumidores foram feitas ao Conselho Na­­cional de Autorre­gulamen­­ta­­­­ção Publicitária (Conar), que abriu um processo para investigar se a propaganda é ofensiva ou não. Outros acham que essa "onda" do politicamente correto cerceia a liberdade de expressão artística.A psicóloga e pesquisadora Lidia Weber acredita que a frase final da propaganda ("Você é brasileira, use seu charme"). não passa a mensagem correta. "Mostra aquele lado do jeitinho brasileiro, de tirar vantagem de tudo", diz, antes de completar. "Já não estamos mais nesse papel de mulher submissa, que engana o marido usando a sexualidade. Apesar das mulheres terem muitas coisas a conseguir, nenhuma gosta de ser dependente".

O professor de Direito Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente da comissão de Liberdade de Expressão da seção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rodrigo Xavier Leonardo, considera a sensualidade apresentada uma forma de humor. "Parece-me inadequado atribuir a essa peça a qualificação de abusiva ou discriminatória, pois não vejo que coloca a mulher em uma situação de desvantagem. A arte e o humor se fazem por intermédio de situações exageradas", opina.

Publicidade

Caminho perigoso

O professor de branding da Escola Superior de Propaganda e Mar­keting (ESPM) Julio Moreira considera que a censura não é a forma certa de combater a publicidade. "A censura é um caminho perigoso. O processo natural é que as pessoas que se sentem ofendidas pelo anúncio boicotem a empresa e não comprem mais nada dela". Para ele, o que mais assusta no caso é o pedido de a avaliação da propaganda ter surgido em um órgão do governo. "Parece que querem tutelar a inteligência dos consumidores. No fim, esses processos amplificam a mensagem e criam uma repercussão espontânea", afirma

A professora do curso de Sociologia da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Paraná (PUCPR), Valquíria Renk, apesar de contrária à censura, acredita que a propaganda pode reforçar estereótipos vinculados à mulher. "Essa reprodução reforça algumas situações, como a que a mulher tem que usar seu charme, esse jogo de sedução, para conseguir o que quer. A situação da mulher mudou, agora ela pensa e define questões", diz.