Os dados do Mapa da Violência mostram que as mulheres negras são ainda mais vulneráveis. Entre 2003 e 2013, o número de homicídios de mulheres negras cresceu 54%, passando de 1.864 para 2.875. A título de comparação, os assassinatos de mulheres brancas caíram 9,8% no mesmo período. Em um ano, morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil.
Para Heliana Hemetério dos Santos, historiadora e feminista filiada à Rede de Mulheres Negras do Paraná, o recorte não traz nenhuma surpresa e o aumento da violência contra as mulheres negras está relacionado com o crescimento do racismo.
“As mulheres negras sempre foram as maiores vítimas de assassinato. Elas sofrem com a opressão racial e com a opressão de gênero e são alvo de violência de homens brancos e homens negros. Qualquer percentual referente à mulher negra é maior do que o referente às mulheres brancas: elas são vítimas de violência racial, de gênero, social e acadêmica.”
A mesma avaliação é feita pela representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, que considerou que o estudo revelou a “combinação cruel” que se estabelece entre racismo e sexismo e a faceta bárbara da discriminação racial. “As mulheres negras estão expostas à violência direta, que lhes vitima fatalmente nas relações afetivas, e indireta, àquela que atinge seus filhos e pessoas próximas. É uma realidade diária, marcada por trajetórias e situações muito duras e que elas enfrentam, na maioria das vezes, sozinhas”, disse Nadine.
O recorte racial do estudo confirma uma tendência já demonstrada em estudos anteriores. Pesquisa divulgada nesse ano pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que jovens negros correm 2,5 vezes mais riscos de serem mortos do que os brancos.
Visibilidade
Um dos fatores elencados pela ministra de Estado e chefe da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, para explicar a elevação do índice de assassinatos de negras entre 2003 e 2013 foi a visibilidade conquistada por essas mulheres nos últimos anos.
“Na última década, a negra assumiu um lugar muito determinado como sujeito político, dando magnitude à luta contra o racismo. Elas começaram a aparecer bonitas, elegantes, protagonistas da própria vida, podendo estar exatamente onde quiserem. Isso incomoda”, afirmou Eleonora.
Heliana concorda com a ministra. Para a historiadora, a mulher negra conquistou maior representatividade do que os homens negros, tornando-se mais visíveis às manifestações de violência racial e de gênero.
“Nos últimos anos vimos surgir uma geração de jovens negras empoderadas. Essas mulheres desafiam duas forças: o racismo e o machismo. E é preciso dizer que mulheres são mortas por desobediência. E as mulheres negras, por viverem em uma luta muito maior que a das mulheres brancas, aprendem a ser mais fortes e mais desobedientes”, analisa.