A paralisação de 24 horas desta quarta-feira (24) dos servidores do maior hospital público do Paraná, o Hospital de Clínicas (HC), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), provocou atrasos nos atendimentos médicos e deixou mais lento o funcionamento do estabelecimento. De acordo com a assessoria de imprensa do HC, os serviços de tomografia, raio-x e endoscopia do hospital foram parcialmente paralisados durante o dia, atendendo somente em regime de emergência. O ato foi preparado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Paraná (Sinditest-PR). O protesto também engloba funcionários da própria universidade e da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
O ato cobra providências em relação a atual situação do HC, que convive desde o início do ano com escassez de insumos. Os funcionários também protestam contra a gestão da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e contra a instauração do ponto eletrônico para servidores concursados – medida implantada em julho de 2015. O movimento, que faz parte de uma série de manifestações nacionais, também reivindica a jornada de 30 horas semanais.
De acordo com a direção do HC, uma reunião foi realizada com o Sinditest na tarde desta quarta-feira e que, com o adiantamento de R$ 5 milhões nos repasses via Ebserh, o hospital deve estar reabastecido já na próxima semana. Até as 19h30, nenhum dirigente do sindicato foi encontrado para falar sobre a reunião.
HC aponta que falta de insumos deve-se ao aumento da demanda
Desde janeiro, há notícias de que o Hospital de Clínicas convive com a falta de insumos básicos. O Sinditest chegou a encaminhar ao Ministério Público Federal um documento apontando que, no começo do ano, o HC estava sem luva, gaze, seringas e medicamentos. O sindicato apontou ainda que a situação rotineira.
Na oportunidade, o HC apontou que o motivo da escassez de materiais devia-se à falta de repasses do governo federal e à questões orçamentárias – algo que foi negado pelo Ministério da Saúde.
Na última terça-feira (23), cirurgias eletivas foram adiadas por falta de equipamentos. Algo que foi tratado ontem como uma questão “pontual”. Nesta manhã, no entanto, o hospital emitiu uma nota apontando que o “ Hospital de Clínicas esteve desabastecido neste início de ano em razão, justamente, do seu aumento de atendimentos” – na UTI neonatal a ampliação foi de 86% entre a média de todo ano de 2015 e os últimos dois meses do ano passado. Cirurgia cardíaca aumentou 92% no período, por exemplo.
Segundo a nota, já estava previsto para o mês de março o reabastecimento total de insumos. “Em razão deste aumento de atendimentos, haverá um repasse, via Ebserh, de R$ 5 milhões para os custeios emergenciais logo na primeira quinzena de março”, informa.
Mais 80 novos funcionários serão chamados no mês de março, entre técnicos-administrativos e equipe de enfermagem, do concurso da Ebserh.
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Segundo um dos diretores do Sinditest, Bernardo Pilotto, a tensão nos corredores do HC é permanente. Ele, que atua na instituição, afirma que está muito difícil prever o futuro do hospital. “A gente não sabe se terá condições e materiais para trabalhar no dia seguinte. Sem falar que não sabemos como se dará essa gestão da Ebserh”, afirma. Ele conta que o sistema ponto não está funcionando na prática. “Aqueles que matavam o trabalho, ainda conseguem dar um jeito para fazer isso”, diz.
Os manifestantes participaram na manhã desta quarta de uma mesa redonda no pátio do prédio da Reitoria da UFPR. Entre 300 e 400 pessoas estavam presentes ao ato.
O sindicato aponta que pelo menos 30% do total dos trabalhadores está atuando durante a paralisação para não interromper serviços considerados essenciais, como as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Ao todo, o hospital possui 3,1 mil funcionários (380 da Ebserh, 853 terceirizados via Funpar e 1,9 mil concursados). Dos 670 leitos na instituição, 430 estão em uso, segundo o hospital.
Outro lado
Em relação à paralisação, o gerente de Atenção à Saúde do Hospital de Clínicas, Adonis Nasr, confirma que há setores em que os trabalhadores não estão presentes, como as secretárias de atendimento e o pessoal de coleta dos laboratórios. “Não sabemos qual foi a adesão da paralisação. O que temos é um atendimento mais lento, mais moroso. Mas não cancelamos nada”, afirma.
Segundo ele, mesmo nos postos de trabalho em que a adesão foi total – como nos laboratórios – há residentes que estão fazendo a coleta do material dos pacientes. A dificuldade é conseguir, de acordo com Nasr, aliar os horários das pessoas que são de outras cidades. “Sabemos que muitos pacientes vêm de outros locais e dependem do transporte. Com o atraso no atendimento, pode haver dificuldade. Mas se não for possível a consulta hoje, ela será reagendada”, informa o gerente hospitalar.
É o que vive Regina Xavier, que viajou a madrugada toda e não sabe se será atendida. Oriunda de Céu Azul, no Oeste do Paraná, ela trouxe a filha de sete anos para uma consulta agendada para esta quarta. “Falaram para eu esperar. Se não me atenderem terei que voltar outro dia. O difícil é saber quando será a nova consulta”, diz.
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