Quando administradores da Universidade da Califórnia, em Irvine, nos Estados Unidos, suspenderam a União dos Estudantes Muçulmanos por um trimestre devido à perturbação durante um discurso feito no ano passado por um embaixador israelense aos estadunidenses, acreditava-se que a mais recente controvérsia no campus estava contornada. No entanto, no começo deste mês o promotor público Tony Rackauckas, de Orange County, discordou e submeteu acusações criminais de delitos leves contra os 11 estudantes que protestaram, acusando-os de participar de uma conspiração para perturbar uma reunião pública.
As acusações reacenderam o debate no campus sobre o evento e geraram uma discussão agressiva sobre o papel da liberdade de discurso num ambiente universitário neste caso, um ambiente cuja política pode parecer tão complicada quanto as negociações de paz no Oriente Médio.
O episódio em questão aconteceu no final de fevereiro de 2010, quando o embaixador israelense Michael B. Oren dava uma palestra na universidade e foi interrompido por gritos dos estudantes, levantando-se um de cada vez, com queixas contra Israel. Devido às repetidas interrupções, o embaixador chegou a se reunir com seus assistentes de segurança para decidir se continuaria ou não o discurso. Ele prosseguiu e, assim que acabou de falar, os 11 estudantes muçulmanos que ficaram conhecidos como "os 11 de Irvine" foram presos.
Repercussão
Durante o período de suspensão, a União dos Estudantes Muçulmanos foi proibida de promover eventos que retratassem a cultura islâmica. Entretanto, ao longo da última década, a universidade se tornou símbolo de um sentimento anti-Israel, segundo alguns grupos judaicos. Contudo, para outros, a faculdade está rapidamente se tornando em um espaço que representa problemas a estudantes muçulmanos que se expressam demais.
"As pessoas têm medo de serem vistas conosco", disse o estudante Hamza Siddiqui, líder da União dos Estudantes Muçulmanos. "Foram atrás deles [dos 11], como vamos saber que não seremos os próximos?". Siddiqui, de 22 anos, disse que até seus pais o aconselharam a ficar quieto e a não se envolver muito com o grupo estudantil, temendo que ele possa ser suspenso ou prejudicar sua carreira.
O advogado Reem Salahi, que representou os 11 alunos em audiências administrativas, disse que a decisão de suspender o grupo muçulmano foi "muito dura" e que os promotores estavam agindo de "maneira muito seletiva". Os alunos disseram que o protesto não tinha sido uma atividade da União dos Estudantes Muçulmanos, contudo, uma investigação da universidade concluiu que o grupo tinha coordenado o protesto.
"Não é apenas a punição, mas a difamação desses estudantes que preocupa", disse Salahi. "Se foi grosseiro ou desrespeitoso, a questão não é essa. A questão é que eles estavam tentando liberar suas queixas de forma pacífica", contestou o advogado. Estudantes muçulmanos afirmam ter enfrentado uma análise mais severa por parte da administração do que outros grupos estudantis e que eles também sofrem com o linguajar duro.
Acusações
Como as acusações contra os alunos foram registradas recentemente, o promotor Rackauckas tem sido alvo de vários grupos, incluindo a União Americana de Liberdades Civis do Sul da Califórnia. Recentemente, 100 membros do corpo docente da universidade pediram que Rackauckas desistisse das acusações. Contudo, ele não dá sinais de que voltará atrás.
A maioria dos grupos judeus envolvidos no campus evita tomar um posicionamento sobre se os manifestantes deveriam ser processados, embora alguns grupos de fora afirmem apoiar a ação. O estudante Matan Lurey, presidente do Hillel, o maior grupo estudantil judaico da universidade, disse temer uma represália por causa da instauração do processo. "Estou muito ciente de que não tivemos nada a ver com esse processo, mas essa separação pode ser muito vaga na mente de outras pessoas", disse Lurey. "Tenho medo de que isso possa causar mais tensão quando as coisas melhorarem".
Tradução: Gabriela d'Ávila
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