Após a onda de manifestações nas ruas do país nas últimas semanas, caminhoneiros iniciaram ontem uma série de protestos que travaram 21 rodovias em nove estados. As paralisações provocaram bloqueios parciais ou totais durante mais de 11 horas em trechos de rodovias, mesmo após o governo ter obtido, na Justiça Federal, uma liminar proibindo interrupções do tráfego. Houve protestos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Bahia.
O Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que encabeça as manifestações, afirma que elas deverão prosseguir até quinta-feira. Os protestos não têm apoio de outras associações do setor nem do sindicato das empresas de transporte de carga.
Em São Paulo, caminhoneiros aproveitaram a mobilização convocada pelo MUBC para questionar a volta da cobrança do pedágio por eixo suspenso dos veículos. A medida, prevista para começar hoje, havia sido anunciada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). A implantação acabou adiada.
Nélio Botelho, líder do MUBC, afirmou que os protestos serão mantidos nas estradas brasileiras até as 6 horas de quinta-feira, conforme previsto na convocação da categoria. Mas a orientação, de acordo com ele, é para que não ocorra interdição de pistas. Botelho diz que a intenção é fazer ato "pacífico". "Tivemos a adesão de 90% dos caminhoneiros", comemorou.
Lei do descanso
O protesto ocorre em meio a pressões de empresários do agronegócio e do setor de bebidas pela flexibilização, no Congresso, da Lei do Descanso, válida desde 2012, que obriga os motoristas profissionais a terem uma pausa de 11 horas por período trabalhado. Parte do setor de transporte, incluindo representantes de caminhoneiros, é contra mudanças propostas por uma comissão da Câmara dos Deputados para reduzir as restrições para que os caminhoneiros cumpram longas jornadas sem descanso.
O MUBC, assim como representantes de pequenas empresas de transporte e grandes companhias donas de cargas, querem mudar a lei para reduzir o horário de descanso dos caminhoneiros.
Outra entidade ligada aos autônomos, a União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), é contrária a essa mudança e criticou a paralisação, acusando Botelho de trabalhar pelos interesses de grandes empresários do agronegócio.
A Unicam se alinha aos sindicatos dos trabalhadores de transporte (que representam os caminhoneiros empregados) e aos sindicatos de empresas de transporte de carga (que representam grandes companhias do setor), que também contrários às mudanças na lei.
Bloqueios no Paraná atingem as PRs 182 e 151
Da Redação, com agências e Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa
Pelos menos três estradas do Paraná foram bloqueadas ontem por manifestantes ligados ao Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). Um protesto de caminhoneiros prejudicou o tráfego na PR-182, em Realeza (Região Oeste), por três horas. O bloqueio foi montado por volta das 11 horas, no quilômetro 464, e só levantado às 14 horas. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), a mesma rodovia ficou interditada no quilômetro 459 até as 18 horas. Os manifestantes prometem bloquear a via no mesmo local novamente hoje, a partir das 7h30.
A BR-376, entre Ponta Grossa e Curitiba, também ficou interditada, mas por pouco tempo. O bloqueio começou às 15h20 e seguiu até 15h40, em frente à Heineken, devido à manifestação dos caminhoneiros. Por volta das 17 horas, um grupo fez um piquete no pátio de um posto de combustíveis no Distrito Industrial de Ponta Grossa. No trevo de Castro, nos Campos Gerais, na PR-151, caminhoneiros estavam parando, no fim da tarde de ontem, os demais carreteiros, mas liberando a passagem de carros de passeio e de ônibus.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Ponta Grossa, Neori Leobet, está em Brasília, onde terá uma reunião com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sobre alterações na Lei do Descanso. A orientação do sindicato é para que os caminhoneiros parem por 72 horas para apoiar protestos nacionais em prol de melhorias para a categoria.
Sem violência
Em Santa Catarina, o protesto nacional começou às 10 horas e fechou duas rodovias do Oeste do estado. Em Palmitos (a 559 quilômetros de Florianópolis), os caminhoneiros fecharam a BR-158. Em Maravilha (576 km de Florianópolis), a BR-282.
A manifestação reuniu cerca de 50 caminhoneiros em cada uma das cidades, segundo a Polícia Rodoviária Federal. Não houve violência. Os caminhoneiros liberaram a passagem de carros de segurança e ônibus. Em faixa colocada no acostamento, o grupo avisou que vai repetir o bloqueio amanhã.