Isolamento da mãe de menina revolta família de Isabella
A tática da defesa de pedir que a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira, fique durante todo o julgamento no tribunal, incomunicável, revoltou a avó da garota, Rosa Maria Oliveira, que chegou a chorar durante o segundo dia do júri. O pedido foi feito na segunda-feira pelo advogado de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, Roberto Podval, e aceito pelo juiz Maurício Fossen. Segundo Podval, pode ser necessária uma acareação no decorrer do júri. A mãe de Isabella está isolada e ocupa dependências da Justiça.
Perguntas e respostas
Veja o que pode acontecer após o fim do júri:
Se o júri avaliar que não há provas para condenação, o casal pode ser solto imediatamente?
Sim.
Se absolvidos, Anna Jatobá e Alexandre Nardoni podem ser incluídos em programa de proteção?
Programas de proteção são destinados às testemunhas de crimes ou às vítimas.
Podem processar o Estado se forem absolvidos?
Indenizações são cabíveis em caso de erros ou arbitrariedades do Estado. Nesse caso, haveria elementos para a formulação da acusação.
Se condenado, o casal pode abater os anos em que estiveram presos do total da pena?
Sim.
Em caso de condenação, o casal poderá recorrer?
Sim. A defesa pode pedir a anulação do julgamento.
Quem analisa o recurso?
O pedido seria encaminhado à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. A câmara decide se anula ou não o julgamento.
Como seria o novo júri?
O processo volta ao Tribunal do Júri, presidido pelo mesmo juiz, mas novos jurados são sorteados.
São Paulo - No segundo dia de julgamento do casal Alexandre Nardoni, 31 anos, e Anna Carolina Jatobá, 26 anos, acusados de matar Isabella, filha dele de 5 anos, em março de 2008, promotor e advogado de defesa iniciaram o embate técnico em torno das provas do crime. Uma série de questionamentos foi lançada pelos defensores sobre os laudos do Instituto de Criminalística de São Paulo e sobre a versão da polícia para a morte, segundo a qual o casal agrediu, esganou e jogou a menina pela janela do sexto andar de seu prédio.
As provas obtidas na perícia são chave nesse julgamento. Sem testemunhas do crime e com os réus afirmando inocência, a polícia científica lançou mão de um aparato tecnológico que pode definir novos rumos para as investigações no país. Foram usadas peças como o "crime scope" (lanterna de identifica fluidos não visíveis a olho nu), os reagentes sanguíneos e o "bluestar", líquido que mostra esses fluidos e permite colher as provas.
No julgamento, duas novidades põem os sete jurados na cena e no momento do crime, de acordo com a tese defendida pela polícia e pelo Ministério Público: a de que Nardoni e Anna Jatobá mataram a criança. As duas novidades são um vídeo de animação e a maquete do edifício London, de onde a menina foi atirada. O vídeo mostra uma versão de como teria ocorrido o crime, nos 12 minutos entre o registro de horário mostrado pelo GPS do carro de Alexandre (dando conta de quando a família chegou ao apartamento) e a hora em que a PM foi chamada, depois que a menina já estava caída no jardim do prédio. Com o "crime scope" e os reagentes químicos, a polícia traçou um suposto rastro de sangue deixado pela tragédia: gotículas no carro, sangue em uma fralda que estava de molho no quintal, marcas de sangue (que teriam sido limpas mas que foram descobertas) no assoalho.
Depoimentos
A primeira testemunha a depor ontem, a delegada Renata Pontes, do 9.º Distrito Policial de São Paulo, responsável pelo inquérito policial que apurou a morte de Isabella. Ela disse que, a cada nova diligência feita na época do crime, tinha mais certeza da culpa dos réus. Para ela, não havia tempo suficiente para uma terceira pessoa ter cometido o crime e fugido sem ser vista por alguém a tese da defesa do casal Nardoni. "Cada depoimento, diligência, informação do IML, ia dando embasamento para a autoria dos réus. Tive 100% de certeza, convicção absoluta", afirmou.
A Promotoria usou duas vezes as maquetes do prédio e do apartamento do casal durante o depoimento da delegada. As maquetes cada uma delas com pelo menos um metro quadrado servem para mostrar aos jurados os locais onde foram encontradas manchas de sangue e para ilustrar a vizinhança do prédio, incluindo os imóveis vizinhos. A maquete do apartamento inclui até mesmo os móveis do apartamento.
Asfixia
Outra testemunha de acusação, o médico legista do Instituto Médico Legal de São Paulo Paulo Sérgio Tieppo Alves, disse que Isabella apresentava "sinais evidentes de esganadura" e que a garota estava com padrões vitais já comprometidos antes mesmo do crime que levou à sua morte. Com explicações estritamente técnicas, Tieppo disse também que as poucas escoriações detectadas no corpo da garota não eram compatíveis com o impacto de uma queda de 20 metros de altura. Em relação às lesões internas, ele disse que havia um conjunto de características "decorrentes de diferentes mecanismos de traumas".
Tieppo reiterou ainda a tese da acusação de que Isabella teria sido agredida pelo casal antes de chegar ao prédio onde a família morava. Segundo ele, o ferimento na testa provocado por um instrumento contundente e uma deformidade na cavidade oral, como detectado em exames elaborados por um médico odontolegista, não podem ser associados a eventual queda. "Logo no primeiro contato com o corpo da vítima, verificamos sinais evidentes de asfixia", disse. "Havia uma discrepância entre uma queda e o que se via no cadáver."
No último depoimento do dia, o perito criminal na Bahia Luiz Eduardo Carvalho disse que as manchas de sangue foram feitas nos lençóis da cama dos irmãos de Isabella de uma altura acima de 1,25m, o que comprova a tese da promotoria de que ela foi carregada. Carvalho foi convocado pela Promotoria para analisar as perícias feitas pela polícia paulista. Ex-diretor-geral de Perícia Técnica da Bahia, ele é autor de livros na área e não atuou na investigação.
No primeiro depoimento de hoje, os jurados serão levados mais uma vez aos questionamentos técnicos. A perita Rosângela Monteiro, que assinou ao menos dois laudos do caso, deve ser a primeira a depor. As partes deverão questionar a ela sobre os laudos feitos para definir quem são os assassinos e sobre os vestígios de sangue encontrados na casa e nas roupas dos envolvidos.
Ontem, um time de pelo menos seis advogados trabalhava em "tempo real" na defesa de Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Além dos dois assistentes sentados ao seu lado na banca da defesa, o criminalista Roberto Podval tem contado com o auxílio de outros advogados espalhados pela plateia. Um deles é Ricardo Neri, que atua no processo desde o dia do crime. Ele trabalhava com Marco Polo Levorin, que deixou a defesa do casal após divergências com Antonio Nardoni, pai de Alexandre.
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