Sofrer com a perda de alguém querido é natural, sobretudo se a morte ocorre de maneira inesperada. No entanto, se a melancolia, o desânimo e a incapacidade de retomar as atividades normais persistirem durante muito tempo, pode ser sinal do que os especialistas chamam de luto patológico. Quem já não se impressionou com a eterna devoção do cantor Roberto Carlos à sua esposa falecida, Maria Rita. Em sinal de luto, o ídolo deixou de se apresentar em público por mais de um ano e dedicou inúmeras músicas à memória da amada.
De acordo com o psiquiatra Cristiano Alvarez, do Ambulatório de Transtornos do Humor e Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o luto é um processo necessário e natural, em que a pessoa vive o sentimento de perda. É um sentimento cuja intensidade é mais forte no momento da morte e tende a ir diminuindo com o passar do tempo, até que se torne só uma lembrança dolorosa. Quando esse período se prolonga por mais de seis meses, sem que a pessoa se sinta capaz de retomar sua vida, já se pode falar em luto patológico.
Segundo o psiquiatra, esse estado envolve uma série de sintomas como alterações de sono, de apetite, sentimento de culpa e depressão, sendo esse último o mais comum. Ele conta que cerca de um quarto das pessoas que passa pelo luto patológico sofre de depressão. "É preciso entender que a depressão é apenas um dos sintomas. Outras manifestações como a culpa pela morte da pessoa querida e por outros fatores não relacionados a ela, retardo psicomotor ou ainda um sentimento de inferioridade também são indicativos."
O chefe do Serviço de Psicologia da UFPR, José Roberto Gioppo, esclarece que o período de luto pode variar de acordo com a intensidade afetiva existente em relação à pessoa morta e a circunstância em que aconteceu a morte. "Quanto mais inesperada (a morte), mais difícil é a superação", afirma. Isso talvez ajude a explicar a quantidade de pais que participam do grupo de ajuda Amigos Solidários na Dor do Luto, que oferece ajuda a pessoas que estão sofrendo pela perda de alguém. "A morte de um filho quebra a ordem natural à qual estamos acostumados e por isso é ainda mais difícil de ser aceita", afirma a coordenadora do grupo, Zelinda De Bona, que chegou às reuniões após perder o neto de 14 anos. Ela conta que casos de morte por acidentes, erros médicos e suicídios são comuns no grupo.
A maior dificuldade, no entanto, está na identificação do problema. A maioria das pessoas não reconhece o luto prolongado como uma condição psiquiátrica. Segundo Alvarez, grande parte dos que procuram ajuda chega ao consultório se queixando de problemas físicos. "Eles reclamam da falta de sono ou apetite, que são manifestações do quadro. Depois de uma avaliação é que descobrimos a causa do problema."
Serviço: O grupo Amigos Solidários na Dor do Luto oferece apoio gratuito para quem perdeu entes queridos, em especial aos pais que perderam filhos. As reuniões ocorrem toda segunda.
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