São Paulo O PT deve deixar para depois das eleições de outubro a apuração e punição dos envolvidos no suposto esquema de mensalão montado no Congresso Nacional. No encerramento do 13.º Encontro Nacional do PT, realizado neste fim de semana na capital paulista, foi costurado um acordo que garantiu a aprovação, por unanimidade, de uma emenda ao texto de diretrizes do programa de governo que faz críticas à conduta de dirigentes, mas ao mesmo tempo diz que "considera fundamental evitar que o processo de apuração seja constrangido pela dinâmica eleitoral e/ou manipulado pela oposição de direita".
Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT e coordenador da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que foi construída uma unidade em torno da campanha de reeleição.
Sem mencionar o termo mensalão, o documento transfere para o Diretório Nacional a responsabilidade por regulamentar os prazos e procedimentos de apuração das responsabilidades relativas ao que ele chama de "crise de 2005".
Berzoini afirmou que esse trabalho só terá início em dezembro, quando será realizada a reunião do Diretório Nacional preparatória para o 3.º Congresso do partido. "Esse tema deverá ser debatido no Congresso Nacional do PT", disse.
Numa clara evidência de que não haverá punições individuais, Berzoini explicou que o objetivo é criar mecanismos que impeçam futuras falhas de militantes. "Entre fazer a caça às bruxas ou adotar medidas preventivas para evitar futuras falhas de financiamento de campanha, a segunda hipótese é a melhor", afirmou. Ele lembrou que todos os parlamentares do PT acusados foram objeto de amplo processo de investigação no Parlamento e na Justiça e que a maioria foi absolvida em votações no Congresso. "A prioridade agora é organizar com unidade e coesão a campanha eleitoral", disse.
Tanto Berzoini como Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, fizeram questão de ressaltar que a decisão foi tomada por unanimidade. "O PT está mudando, não há divergências, o conjunto do partido aprovou a resolução sem rachas, o que nunca aconteceria antes", afirmou Pomar.
Ele ressaltou que as pessoas não estão percebendo as mudanças dentro do PT, mas elas estão acontecendo. "Não existe mais uma força majoritária dentro do partido, por isso tudo agora tem de ser negociado."
Berzoini também descartou a possibilidade de que haja alguma tentativa por parte da direção de evitar a discussão do tema mensalão durante o encontro. "O tema já estava no primeiro documento aprovado, agora ele apenas foi reforçado", disse.
Inicialmente, existiam três propostas sobre a apuração e punição de militantes acusados de envolvimento no mensalão: uma do Movimento PT, outra da Democracia Socialista (DS) e a última da Articulação de Esquerda. O texto final consolida as três propostas e contempla as visões das demais tendências.
Durante o encontro, também foi debatida a forma de financiamento do partido. A corrente Democracia Socialista (DS) apresentou emenda propondo a volta da contribuição mensal dos militantes com base em um porcentual sobre o salário, como ocorria no início de formação do partido. A emenda foi derrubada, sendo aprovada uma outra que propõe a discussão sobre formas de financiamento do partido, incluindo a volta da mensalidade de militantes.