O PT saiu em defesa, nos últimos dias, do jornalista Breno Altman, que afirmou que o Hamas é "parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel" e acrescentou que "não importa a cor dos gatos, desde que cacem ratos". Ele teve postagens nas redes sociais removidas no último dia 24 por ordem do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e virou alvo de uma investigação da Polícia Federal.
A decisão do TJ-SP se deu após uma ação protocolada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib). Já a investigação da PF, revelada pelo site de extrema-esquerda Brasil 247, atendeu a pedido do Ministério Público Federal (MPF).
Os processos contra Altman, que é abertamente esquerdista, são um raro caso de censura com viés trocado que guarda similaridades com os múltiplos silenciamentos sofridos por jornalistas de direita nos últimos anos. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) se manifestou neste sábado (30) sobre a situação.
"Para a ABI essa investigação soa como evidente assédio a um jornalista crítico. Uma tentativa de calá-lo com ameaça de um processo criminal, o que é inconcebível no estado democrático de direito, que todos nós jornalistas sempre nos empenhamos em defender, notadamente nos últimos anos", afirmou a entidade, que pede que o MPF ou a Justiça Federal providenciem "o trancamento desse inquérito".
Pelo Twitter, Altman atacou a Conib, chamando-a de "valhacouto de bolsonaristas", e provocou o governo Lula, criticando sua inércia "diante das manobras antidemocráticas de uma agência estrangeira em nossas instituições". O petismo respondeu prontamente ao apelo do jornalista.
Em nota oficial, o PT afirmou que há contra Altman uma "perseguição de caráter político" e que seu posicionamento contra o "massacre do povo palestino" é "firme e correto". No dia 12 de outubro deste ano, Altman relativizou de forma explícita o terrorismo praticado pelo Hamas. Ele afirmou que, mesmo que se discorde das políticas e métodos do Hamas, a organização é "parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel" e acrescentou: "não importa a cor dos gatos, desde que cacem ratos".
O partido também disse que a Conib, autora da ação contra Altman, "age em nome do governo de Israel" no Brasil. A Conib, no entanto, não tem vínculo direto com o governo do Estado de Israel; ela apenas representa a comunidade judaica em território brasileiro. A Federação Israelita do Estado de São Paulo, associação precursora da Conib, foi criada em 1946, antes mesmo da existência do Estado de Israel.
A presidente do PT, Gleisi Hoffman, publicou tuíte com conteúdo semelhante, afirmando que há "perseguição ao jornalista Brenno Altmann [sic], por seu firme posicionamento contra o massacre do povo palestino pelo governo de ultradireita de Israel" e repetindo a informação falsa de que a Conib "age em nome daquele governo em nosso país".
A Conib publicou nota de repúdio contra Gleisi e destacou que Altman "promove o antissemitismo e a desinformação, relativizando os assassinatos e estupros cometidos pelo Hamas e chamando judeus de 'ratos'".
Em um tuíte de resposta a Gleisi com centenas de curtidas, o usuário Allan Marcos, que se identifica como sionista, afirma que a acusação da presidente do PT contra a Conib "é grave".
"A 'doutrina' sionista não é responsável pelo massacre. O sionismo tem várias vertentes e em comum todos acreditam que os judeus têm o direito de se autodeterminar em parte da terra ancestral", explicou o usuário. "Defender o estado palestino, lado a lado com Israel, é a causa justa. Defender o fim do único estado judeu no mundo é antissemitismo. Aguardo o julgamento do presidente da Conib, o novo Dreyfus em pleno século 21. Você é patética", acrescentou.
Confira as notas e postagens sobre o caso Breno Altman na íntegra
Nota do PT:
A investigação do jornalista Breno Altman pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal configura um caso de injusta e inaceitável perseguição de caráter político.
A ação contra o jornalista tem como única motivação o seu firme e correto posicionamento contra o massacre do povo palestino pelo governo de ultra-direita de Israel.
A situação se torna ainda mais grave quando a perseguição é demandada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), que age em nome do governo de Israel em nosso país.
Diante disso, o Partido dos Trabalhadores expressa sua absoluta contrariedade com a ação de instituições do Estado contra um cidadão brasileiro por emitir sua opinião.
A intolerância não é de Altman, mas da entidade que nega aos judeus o direito de não aceitar a doutrina sionista, responsável pelo massacre do povo palestino.
Tuíte de Gleisi Hoffman:
Muito grave a perseguição ao jornalista Brenno Altmann [sic], por seu firme posicionamento contra o massacre do povo palestino pelo governo de ultra-direita de Israel. Altmann é perseguido pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), que age em nome daquele governo em nosso país. Com a participação de agentes do MPF e da PF, querem condená-lo por suas opiniões. Não podemos ser coniventes com essa perseguição. A intolerância não é de Altmann, mas de uma entidade que nega aos judeus o direito de não aceitar a doutrina sionista, responsável pelo histórico massacre do povo palestino.
Nota da Conib sobre o tuíte de Gleisi Hoffman:
A Confederação Israelita do Brasil (CONIB) repudia os comentários da presidente do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffman. O Jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi, promove o antissemitismo e a desinformação, relativizando os assassinatos e estupros cometidos pelo Hamas e chamando judeus de ‘ratos’, o que foi reconhecido pelo Ministério Público e pela Justiça, que determinou a imposição de multa e a retirada de posts. A presidente do Partido dos Trabalhadores insiste em defendê-lo, questionando decisões judiciais. Além disso, a Deputada faz uma afirmação preconceituosa em relação à CONIB, ou seja, de dupla lealdade, jargão clássico do antissemitismo, que merece total reprovação.
Tuíte removido pelo jornalista Breno Altman, de 12/10:
Podemos não gostar do Hamas, discordando de suas políticas e métodos. Mas essa organização é parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel. Relembrando o ditado chinês, nesse momento não importa a cor dos gatos, desde que cacem ratos.
Nota da ABI sobre o caso de Altman:
A Associação Brasileira de Imprensa, por sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos, manifesta publicamente sua surpresa com a informação de que o Ministério Público Federal determinou à Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional da Polícia Federal, da Superintendência Regional do DPF em São Paulo, a abertura de Inquérito Policial para investigar o jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi.
Pelas informações veiculadas na manhã deste sábado no site Brasil 247 o inquérito é resultado de reclamação descabida da Confederação Israelita do Brasil, que de forma enviesada e conveniente rotula as críticas de Altman ao sionismo como antissemitismo.
A ABI lembra que a Constituição de 1988 garante a todo e qualquer cidadão a liberdade de expressão. Da mesma forma, respaldado nesse princípio constitucional, o Supremo Tribunal Federal tem garantido por inúmeras decisões a liberdade de imprensa, assegurando a todos os jornalistas o direito à crítica.
Confundir as posições antissionistas de Altman – cidadão judeu – com crime de antissemitismo é fazer o jogo dos que defendem o genocídio que o governo de Israel comete na Palestina, ao provocar milhares de assassinatos, inclusive de inocentes crianças.
Para a ABI essa investigação soa como evidente assédio a um jornalista crítico. Uma tentativa de calá-lo com ameaça de um processo criminal, o que é inconcebível no estado democrático de direito, que todos nós jornalistas sempre nos empenhamos em defender, notadamente nos últimos anos.
Nesse sentido, entende que o próprio MPF ou a Justiça Federal, respeitando o estado democrático de direito e a Constituição Cidadã, devem providenciar o trancamento desse inquérito.
Certos de que a democracia que saiu vitoriosa no 8 de janeiro de 2023 prevalecerá e será respeitada, a ABI aguarda providências dos responsáveis por tal situação para dar um fim à campanha intimidatória que Altman vem sofrendo.
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