A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) abriu investigação interna para apurar denúncias sobre um trote de teor degradante aplicado pelos veteranos do curso de Engenharia Civil em calouras. O caso foi revelado por um coletivo feminista nas redes sociais.
De acordo com a postagem, realizada pelo grupo “Coletivo Marias da Boca Maldita”, as calouras foram obrigadas a trocar sua foto de capa no Facebook por uma imagem em que está escrito “sou caloura burra de Engenharia Civil e esse semestre a cerveja é por minha conta”. Os veteranos também teriam solicitado que as novas alunas gravassem um vídeo contando a idade, posições sexuais preferidas e orientação sexual, entre outros aspectos. Esses vídeos foram compartilhados entre veteranos do curso em grupos do aplicativo Whatsapp.
A reportagem teve acesso a um dos vídeos no qual uma adolescente menor de 18 anos se identifica como “caloura safadinha”, diz “ser virgem, mas não por muito tempo” e “totalmente heterossexual”. Ela também relata beber demais e já ter “dado PT” (perda total, uma gíria para quem bebe demais e apaga) uma vez por causa da ingestão de bebida alcoólica e ter preferência por “tapas”, “mordidas” e “coisas mais agressivas” durante as relações sexuais.
Um aluno do primeiro período do curso de Engenharia Civil entrou em contato com a página responsável pela denúncia e contou que os vídeos foram gravados por homens e mulheres e que o objetivo era garantir “uma aproximação entre os calouros e uma melhor interação entre todos que estavam prestes a se conhecer”. Ele também afirmou na mensagem que os calouros não foram obrigados a gravar as apresentações e que os vídeos eram para ter ficado “somente na roda de amigos de Engenharia”. Por fim, pediu para que a publicação fosse apagada.
As responsáveis pela página “Coletivo Marias da Boca Maldita” não excluíram a postagem e afirmaram em um comunicado que seria enviado ainda nessa quinta-feira (12) por e-mail à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da PUCPR que os vídeos e trotes já fugiram ao controle dos veteranos, sendo divulgados pelas redes sociais. O texto também afirma que as meninas participantes são “xingadas”, “expostas” e “desmoralizadas”. O documento é assinado por grupos que lutam contra o machismo, homofobia e outros tipos de preconceitos nas instituições de ensino: FURF – Frente Universitária Feminista, Coletivo Alzira – Universidade Positivo, Coletivo Saia na Rua – Unicuritiba, Coletivo Três Marias – PUCPR e Coletivo Marias da Boca Maldita – Universidade Tuiuti.
Os vídeos e as imagens foram condenados pelo presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Civil da PUCPR, Luiz Fernando David, que afirmou que os envolvidos no trote não fazem parte e não têm ligação com o centro acadêmico. “É um grupo de pessoas que não entendeu o motivo de estar na universidade. Não podemos nem chamá-los de estudantes, mas sim de baderneiros, que não têm noção da gravidade do problema”, declarou. David também afirmou que a única forma de trote apoiada pelo centro acadêmico do curso são as ações sociais e de voluntariado. David afirmou ainda que a entidade está colaborando com a coordenação do curso na apuração dos fatos e na identificação dos envolvidos.
A PUCPR afirmou, por meio de nota, que proíbe a realização de trotes e que já deu início à apuração para identificar os responsáveis pelas situações citadas e lembrou que quem pratica trotes violentos ou de caráter constrangedor está sujeito a sanções disciplinares de suspensão e, em casos mais graves, até mesmo de expulsão. A instituição também ressalta que alunos que sejam coagidos ou ameaçados podem fazer denúncia para os professores, coordenadores de curso, na ouvidoria ou na reitoria da instituição.