Milhares de pessoas foram às ruas neste sábado (1.º), feriado do Dia do Trabalho, para manifestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro e a pautas como o voto impresso auditável, diminuição das restrições à circulação de pessoas e ao funcionamento de comércios em decorrência da pandemia. Foram registrados atos em pelo menos 500 cidades do país, segundo os organizadores.
“A principal pauta era prestar apoio ao presidente. Mas surgiu também outra, que foi a do voto impresso auditável, porque a instalação da comissão deve acontecer nesta semana. É um assunto de interesse coletivo, não só da direita. Temos percebido que na esquerda já há pessoas que apoiam a medida”, disse a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que esteve na organização dos atos pró-Bolsonaro.
Os manifestantes, que fizeram atos a pé e em carreatas, também aproveitaram a ocasião para fazer críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a desafetos de Jair Bolsonaro, como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e o ex-presidente Lula (PT).
Organizadores negam que pedido de intervenção militar seja pauta
Um dos termos observados em faixas e discursos nos atos foi o “Eu autorizo”, criticadas pela oposição ao governo sob a alegação de um “sinal verde” para uma intervenção militar sob a condução de Jair Bolsonaro.
No dia 14 de abril, Bolsonaro disse a apoiadores, no Palácio da Alvorada, que aguardava um “sinal” do povo para agir. “O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providências. Eu estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí. Não vê quem não quer (...) Amigos do Supremo Tribunal Federal, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui. Vi que um ministro despachou um processo pra me julgar por genocídio. Olha, quem fechou tudo e está com a política na mão não sou eu. Não quero brigar com ninguém, mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil. O que nascerá disso tudo, onde vamos chegar? Parece que é um barril de pólvora que está aí”, afirmou o presidente da República na ocasião.
Bolsonaro não deu maiores detalhes sobre a que se referia, mas a fala foi um dos propulsores das manifestações deste sábado.
Rogério Souza Lima, coordenador regional do grupo B-38 – movimento presente em 1.500 cidades que tem como um dos princípios o apoio à manutenção de Jair Bolsonaro no poder – foi um dos organizadores dos atos no estado da Bahia. Ele nega que haja um clamor, por parte de apoiadores de Bolsonaro, por uma intervenção militar. “As pautas defendidas pelo B-38 foram o voto impresso auditável e o apoio ao presidente diante das suas palavras, de que esperava um sinal do povo. Então nós saímos para autorizá-lo a agir, a tomar as providências que ele considerar melhor”, disse Lima.
“O ‘Eu autorizo’ não tem a ver com pedido de intervenção militar. O presidente sempre destacou que ele joga dentro das quatro linhas da Constituição Federal. Agora, o que está à disposição dele é a intervenção federal, o Estado de Defesa ou o Estado de Sítio. São três opções que ele pode decidir qual pede ou não. Estamos autorizando ele a tomar a decisão que ele considerar a melhor”.
O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ), que esteve na organização dos atos, também negou que haja uma grande demanda de apoiadores do governo federal para uma intervenção militar. Jordy disse à reportagem que o objetivo central dos atos foi mostrar apoio ao presidente, mas que outras pautas caminharam paralelamente, como o limite para a atuação do STF. Segundo o parlamentar, o Supremo tem usurpado as competências do poder Legislativo e, sobretudo, do Executivo, “ditando as regras do jogo sem ter previsão constitucional para as medidas que vem tomando”, citou, referindo-se às constantes tensões entre ministros do STF e o governo federal.
“Não acredito na intervenção militar. Eu acredito que o presidente pode ser mais enérgico, eventualmente fazer intervenções federais em municípios e estados. Mas o ‘Eu autorizo’ é no sentido de que o presidente possa tomar as rédeas”, declarou o parlamentar. “A gente sabe que há um tensionamento muito grande com o STF, e o presidente pode dizer: ‘Isso não vou fazer porque é inconstitucional’”.
A deputada Carla Zambelli reconheceu que houve faixas e manifestações favoráveis à intervenção militar. “Existe uma parte da população que tem uma boa lembrança do regime militar e repete essa pauta. A gente pede para não ter faixas sobre intervenção militar e mesmo assim o pessoal leva. Porém esse ‘Eu autorizo’ não tem relação com isso. O STF desautorizou o presidente a tomar medidas com relação à pandemia, então o povo foi às ruas para dizer que autoriza o presidente a tomar qualquer tipo de ação que ele ache melhor”, disse a parlamentar.
Organização dos atos
Segundo organizadores das manifestações, as carreatas e manifestações a pé nas ruas ocorreram em 25 capitais brasileiras e em ao menos 500 municípios. Integrantes de movimentos que estiveram à frente da organização dos atos informaram não haver uma estimativa oficial do número de presentes nos atos. “Aqui na Bahia, fizemos atos na capital, Salvador, mas também em vários outros municípios. Cada cidade colocou centenas de carros, mesmo no interior. Em Salvador, passamos de três mil veículos em carreata. Mas não temos ainda uma estimativa nacional do número de participantes”, afirma Rogério Souza Lima.
Na Avenida Paulista, apontada pelos organizadores como um dos locais com maior quantidade de manifestantes, houve aproximadamente 200 mil pessoas segundo a deputada Carla Zambelli. “Não houve uma organização só, foi algo bem pulverizado. Não teve um grande movimento que convocou. Percebemos que pipocaram organizações diversas por todo o Brasil. Acho que advém bastante dessa revolta que o pessoal está contra o fechamento dos comércios. Acabou se tornando orgânico por conta disso”.
O vereador Douglas Gomes (PTC), de Niterói, que esteve na organização das manifestações no município junto ao movimento Endireitando Niterói, reforça a demanda contrária ao fechamento do comércio como um dos fatores que impulsionou os atos do dia 1º de maio. “Niterói ainda estava com restrições que impediam a população de trabalhar, então essa luta contra o fechamento do comércio esteve presente nos atos”, disse o parlamentar.
Desdobramentos pós-manifestações
A ida de milhares de pessoas às ruas em plena pandemia é avaliada por Carla Zambelli como uma demanda do povo pelo direito de trabalhar e como a confiança popular de que a pandemia está acabando. “Isso aconteceu em outros países do mundo, não é uma exclusividade do Brasil. As pessoas, apesar da pandemia, pedem pelo direito de trabalhar”.
As fontes consultadas pela Gazeta do Povo declararam que o “sinal verde” para Jair Bolsonaro agir deve gerar algum desdobramento em Brasília. E as manifestações tendem a continuar – no dia 15 de maio está previsto um novo ato em diversas cidades do país. “Acredito que haja desdobramentos por parte do presidente e acho que essas manifestações não vão parar. Já temos um novo ato marcado que acredito que seja nacional. E, sem dúvida, o pessoal novamente levantará a bandeira do ‘Eu autorizo’”, cita Douglas Gomes.
O deputado federal Carlos Jordy também afirma que é aguardado um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro em respostas às manifestações de seus apoiadores. Para o parlamentar, Bolsonaro “não pode se curvar a ditames inconstitucionais do STF ou de quem quer que seja”.
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