Por que no Rio se mata mais
O problema da segurança pública no Rio de Janeiro vai além do tráfico de drogas. Vitória, São Paulo, Recife e até a região de Brasília são exemplos de cidades brasileiras com crise na questão de entorpecentes.
O tráfico atua só na periferia?
A diferença de preço entre uma droga e outra e o perfil do traficante de cada uma delas criaram uma divisão de classes no mercado de entorpecentes.
O Rio de Janeiro só chegou ao atual estágio de insegurança porque entregou a soberania nas favelas e periferias a grupos criminosos armados. Para o geógrafo Jaílson de Souza e Silva, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e fundador do Observatório de Favelas, o Estado abriu mão de exercer autoridade nos territórios populares, em especial nas favelas. E, ao não regular as relações sociais como fez nas áreas mais valorizadas da cidade, levou à "privatização" dessa forma de exercício do poder. Assim, o poder de ordenar as práticas sociais nesses lugares passou a ser disputado por grupos privados criminosos: o tráfico de drogas e as milícias.
Na percepção de Jaílson, a transferência de poder se agravou a partir dos anos 80. A legitimação da soberania desses grupos em áreas cada vez maiores vem da capacidade de manter a autoridade e de ordenar o cotidiano social. "Os atores do Estado, por sua vez, obedecem a esses grupos nesses territórios privatizados, como no caso das escolas e postos de saúde, ou estabelecem uma relação de conflito, via força policial", diz. A polícia age como força invasora, trata a população como civis do território inimigo e as extorsões, mortes e roubos decorrentes dessas ações fazem dos policiais os "bárbaros" do ponto de vista de controle do território.
Arena de guerra
Uma estratégia equivocada de segurança pública conseguiu criar um caos ainda maior: o mero enfrentamento bélico a esses grupos, sem um trabalho de inteligência e ações técnicas para desarticulá-los, e que levasse em conta a participação da sociedade. Assim, as favelas viraram arena de guerra, com o uso desenfreado de novas e mais poderosas armas. Como resposta, as forças em combate, inclusive a policial, passaram a utilizar violência extrema contra os inimigos. "A estratégia exclusiva de repressão gerou efeito contrário", avalia. "Aumentou a criminalidade, a insegurança, a corrupção policial, o número de armas em assaltos, e nem mesmo conseguiu reduzir o consumo de drogas. Hoje, no Rio, o preço da droga é o mesmo da década de 80", compara Jaílson.
Os fuzis, diz o professor da UFF, passaram a fazer parte do cenário carioca sem que houvesse nenhuma tentativa sistemática de combater sua chegada às favelas. Depois surgiu o "caveirão", carro blindado de guerra usado para enfrentar o tráfico nas favelas, algumas com até 20 mil pessoas por quilômetro quadrado. "Nesse quadro de busca da eliminação a qualquer custo do inimigo, os efeitos colaterais sobram para a população", conclui o professor.
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