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Biólogos põem em dúvida a saúde dos animais de laboratório da Federal. Estudante teve de pegar ratos de outra instituição | Antônio More/ Gazeta do Povo
Biólogos põem em dúvida a saúde dos animais de laboratório da Federal. Estudante teve de pegar ratos de outra instituição| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Pesquisadores e alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) reclamam da baixa qualidade dos animais para pesquisa. Um dos motivos, segundo eles, é a má condição do biotério, local onde os ratos e camundongos são criados. A instituição não permitiu a entrada no local. Uma fonte que pediu para não ser identificada disse que não há ambiente climatizado, a exaustão de ar não é apropriada e o cheiro de urina (amônia) é muito forte, algo que, segundo o coordenador do Biotério da PUC-PR, Cândido José Thomaz Pereira, afeta a saúde do animal. "O nível de amônia deve ser baixo e controlado com troca de ar. Se o rato não estiver saudável, sua resposta sai dos padrões."

Uma ex-estudante de mestrado, que preferiu não se identificar, disse que durante o curso dois de seus experimentos foram invalidados. "Tive que pegar ratos de outra instituição para terminar minha pesquisa." Segundo ela, quando os animais são entregues aos alunos não há laudos que comprovam sua saúde.

Alguns pesquisadores também concordam com a baixa qualidade. "O padrão está aquém do que a gente deseja. Os animais poderiam e deveriam estar melhores", disse Paulo Roberto Dalsenter, professor associado do Departamento de Farmacologia da UFPR.

Outro motivo para a baixa qualidade do rato, segundo Dalsenter, pode ser a contaminação por material externo. No cepilho (tipo de madeira utilizada como cama na gaiola), vendido em empresas de produtos agrícolas, muitas vezes há substâncias que podem afetar o animal. Mesmo autoclavado (esterilizado), alguns "corpos estranhos" continuam presentes.

Não é somente Dalsenter que coloca em dúvida as condições dos animais. A bióloga e bioterista Luana da Silva Mazepa, uma das técnicas responsáveis pelo biotério, lembra que o local passou por uma crise. "Alguns experimentos não tinham êxito. Tivemos casos que realmente não tinham explicação", disse.

Biossegurança

A saúde dos animais, do meio-ambiente e do próprio homem depende da biossegurança do biotério e dos laboratórios de pesquisa. Existem quatro níveis (veja infográfico ao lado). Como a UFPR trabalha com microrganismos que não oferecem risco à saúde, a segurança dos espaços destinados à criação e à pesquisa seria nível 1.

De acordo com a bioterista Gilmara Solano Mirando, que assumiu o cargo em dezembro de 2012, todos os procedimentos de nível 1 são seguidos de acordo com a lei. "As salas são climatizadas, os funcionários utilizam acessórios adequados e existem exaustores e outros equipamentos."

Novo biotério

A CT-infra, órgão do Mi­­­­­nistério da Ciência e Tecnologia responsável por viabilizar a ampliação de infraestrutura em instituições públicas, investiu R$ 3,5 milhões na construção de um novo biotério para a UFPR. Os projetos de arquitetura já estão prontos e o processo de licitação será aberto neste ano, segundo o diretor de Ciências Biológicas, Luiz Cláudio Fernandes.

Denúncia é infundada, diz diretor da área

O diretor do Setor de Ciên­­­­cias Biológicas da UFPR, Luis Cláudio Fernandes, disse que a denúncia é infundada. "Não há laudo que prove a contaminação dos animais." A situação dos ratos, segundo ele, é como em qualquer outra instituição pública do país.

Para avaliar as condições dos animais existem duas comissões – uma do próprio biotério e outra do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). Fernandes disse que nenhuma delas manifestou algo relacionado à contaminação. O que pode ter ocasionado os resultados divergentes nas pesquisas é o desgaste da carga genética dos ratos.

A cada cinco anos os reprodutores – animais de laboratório cuja função é apenas gerar outros para pesquisa – precisam ser substituídos. A última troca na UFPR foi feita em 2005. No ano passado, porém, a instituição comprou uma nova leva. "Agora vamos fazer o acasalamento e retirar os com carga genética antiga. Mês que vem já vamos ter novos filhotes", disse Gilmara, a bioterista responsável.

Fernandes disse estar impressionado com a denúncia. "O que me causa estranheza é alguém reclamar sem ter provas. Eu acho um desserviço para a coisa pública quando alguém vai até a mídia e faz uma acusação grave dessas sem ter provas. Eu afianço que isso não acontece aqui na UFPR."

ContaminaçãoVeterinária diz que rato convencional não é o adequado para pesquisa

Existem dois tipos de animais para pesquisa: o convencional e o SPF, sigla que em português significa "livre de patógenos específicos". Na UFPR, o animal de laboratório é o convencional. Por isso, segundo a veterinária Iselen Ivanoski, responsável técnica pelo biotério, as divergências nos resultados da pesquisa são comuns. "O animal convencional não é o modelo ideal para todas as pesquisas. Ele serve para algumas coisas e para outras não."

As barreiras sanitárias não são suficientes para conter uma possível contaminação. As variáveis são muitas, segundo Iselen. "É um problema que volta e meia vai acontecer. Nunca vai ser 100% confiável, pois os bichos sempre vão estar sujeitos à variação de temperatura."

O diretor do setor, Luiz Cláudio Fernandes, também pesquisador, diz que apesar do animal ser convencional nunca teve problemas em suas pesquisas. "Não tenho no meu laboratório pessoas reclamando sobre isso."

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