Os sintomas surgem de repente e nem o próprio médico sabe explicar tamanha desordem no organismo. Parece o diagnóstico de uma síndrome rara, mas na verdade a situação descrita afeta entre 15% e 20% da população mundial. Embora as doenças auto-imunes ou de auto-agressão sejam bastante comuns, a medicina ainda não consegue esclarecer o que leva as células de defesa do organismo a perder o controle e passar a atacar células saudáveis.

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Nas últimas duas décadas, a incidência dessas doenças cresceu 40%, principalmente em países desenvolvidos. A maior prevalência em locais onde os índices de desenvolvimento são melhores seria explicado pelo fato da população estar menos exposta a infecções. "No Brasil, sabemos que a incidência é maior nas regiões Sul e Sudeste", afirma o médico dermatologista, alergista e chefe do serviço de imunologia clínica do Hospital de Clínicas (HC), Hermênio Lima. De acordo com o médico, as infecções teriam uma ação regularizadora no sistema imunológico e sem elas as células de defesa poderiam estar superativadas.

Para a imunologista do Hospital Vita, Loraine Langarf, o aumento no número de casos também se deve ao aprimoramento das técnicas de diagnóstico e da maior precisão dos testes laboratoriais. "Embora ainda não seja possível evitar que esse processo de desenvolva, hoje em dia já se consegue identificar as alterações precocemente", afirma.

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Loraine esclarece que a desordem no funcionamento das células de defesa pode afetar qualquer órgão. Dependendo do tipo de célula atacada, uma função específica fica prejudicada. Com isso, uma determinada doença se manifesta. Se as células destruídas são, por exemplo, as betas do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina, o paciente desenvolverá diabete. Da mesma forma, se as células atacadas são as células da tireóide, o paciente desenvolverá hipotireoidismo (deficiência na produção dos hormônios tireoidianos). "Tanto o hipotireoidismo como o hipertireoidismo se caracterizam por processo auto-imunes. No hipo, ocorre a ação dos anticorpos sobre as células da tireóide, prejudicando a produção de hormônio, e no hiper, os anticorpos atuam estimulando a produção descontrolada", explica o chefe do serviço de encocrinologia do HC, Hans Graff. Entre as mais de 100 doenças auto-imunes já descritas, as mais comuns são diabete, tireoidite de hashimoto, artrite, sindrome de Sjogren (olho seco), lupus, esclerose múltilpla, vitiligo e psoríase.

Estresse

Embora não se saiba exatamente o que leva ao mecanismo de destruição das células, sabe-se que para que a doença se desenvolva são necessárias três condições: pré-disposição genética, exposição a algum fator desencadeante – que pode ser externo (ambiental) ou interno (emocional) –, e por fim o desequilíbrio das células do sistema imunológico. O estresse tem um papel importante, uma vez que aumenta a produção de um hormônio imunorregulador no organismo. "Mas é preciso deixar claro que é necessário um estresse muito forte para que isso aconteça, como a perda de alguém querido, algum acidente ou trauma", esclarece Lima.