Um Capitão América enfurecido desfere um soco na face do ditador alemão Adolf Hitler. A primeira capa dos quadrinhos do super-herói da Marvel, lançada em 1941, em plena 2.ª Guerra Mundial, mostra como estava o mundo naqueles anos. A revista foi publicada dois meses antes do ataque às bases norte-americanas de Pearl Harbor, no Havaí, que culminou com a entrada oficial dos Estados Unidos em um dos maiores conflitos bélicos da história.
Anos mais tarde, o mesmo personagem mostrava-se confuso. "Talvez fosse melhor eu ter lutado menos e perguntado mais", disse. Era a década de 1960 e a Guerra do Vietnã dividia a opinião da população norte-americana. Diante de uma guerra injusta, o herói, que antes lutava pelo país com unhas e dentes, se questiona sobre suas ações. "O personagem dos quadrinhos acaba mudando conforme o contexto histórico", alerta o professor de História e pesquisador Osvaldo Siqueira.
Muito mais que diversão, os quadrinhos são ferramentas para a compreensão histórica dos diferentes acontecimentos mundiais. Pesquisador da área, Siqueira afirma que essa tendência faz parte da chamada "nova história", que entende que tudo pode ser analisado pelo viés histórico.
"A produção artística em geral é analisada pela história em que foi produzida. O artista, seja no cinema, nas artes ou nos quadrinhos, é um sujeito localizado historicamente. Toda mentalidade de uma época e o contexto em que vive irá refletir na obra produzida", afirma Siqueira.
Exemplos para essa análise não faltam. Batman representa, conforme Siqueira, o período da depressão econômica dos Estados Unidos. Criado em 1939, o personagem surge em uma fase em que o país passava por grandes dificuldades financeiras e com elevado grau de violência. A própria cor do uniforme do herói da DC Comics representa a fase negra norte-americana.
"Gotham City nada mais é do que os Estados Unidos dos anos 1930, com máfias e muitas mortes. Batman surge, inclusive, como uma vítima da violência, já que seus pais foram assassinados", explica o pesquisador.
Em contraposição ao Cavaleiro das Trevas, havia, na mesma época, o Super Homem. Com roupas coloridas, alusivas à bandeira dos Estados Unidos, o personagem, segundo o professor, representa uma luz em novos tempos. Isso porque havia esperança de que os Estados Unidos saíssem da crise, originada em 1929, com a política do New Deal, do presidente Franklin Roosevelt, para recuperar a economia norte-americana.
Hulk
Até a ameaça da bomba atômica pode ser percebida nos quadrinhos pelo personagem Hulk, criado na década de 1960, quando o mundo estava dividido pela Guerra Fria com os Estados Unidos de um lado e a União Soviética do outro. Baseado no livro O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson, e em Frankstein, o herói teve origem após a explosão de uma bomba gama. "Ele mostra a tensão daquele período em relação à bomba atômica. Se controlada, ela não fará mal algum, mas tem o poder e a força para destruir o mundo", revela Siqueira.
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