Europeus

Política imigratória para ocupar os vazios demográficos

A historiadora Altiva Pilatti Balhana (falecida em 2009) escreveu no artigo "Política Imigratória do Paraná" que desde os primeiros tempos da emancipação do estado, em 1853, os governantes se preocuparam em desenvolver políticas imigratórias. Anteriormente, poucas colônias de imigrantes foram instaladas. A primeira foi em Rio Negro, em 1828, com a entrada de cerca de 200 imigrantes alemães. Outra foi em 1847, com a colônia Tereza Cristina, nas margens do rio Ivaí, com colonos franceses – além da colônia de Superagui, de Carlos Perret Gentil.

A partir da emancipação, Altiva explicou que as colônias tinham objetivos de povoar os vazios demográficos e criar uma agricultura de abastecimento. Assim, o governo imperial elaborou um plano de colonização baseado em estabelecimentos de colônias agrícolas nos arredores do centro urbano. Na década de 1870, o programa foi dinamizado, com a chegada de grupos heterogêneos: franceses, italianos, suíços, ingleses, alemães, poloneses e outros. Os primeiros grupos se alocaram em terrenos nas redondezas de Curitiba. Os resultados satisfatórios estimularam novas iniciativas colonizadoras, estendendo o programa ao litoral e aos Campos Gerais. Os empreendimentos coloniais na região litorânea compreenderam basicamente a instalação de imigrantes italianos que, inclusive, deram origem à colônia Alexandra – o primeiro núcleo italiano no litoral.

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Sete hectares

Perret Gentil ofertava aos colonos de Superagui lotes de pouco mais de 7 hectares para serem comprados no prazo de 20 anos ou ainda menos. Dos colonos da região, apenas dois conseguiram títulos de propriedade emitidos pelo próprio cônsul suíço, pois haviam pago suas dívidas. Talvez uma das razões para a atração de poucos imigrantes foi justamente a ausência de investimentos por parte dos governos da época. "Todos os investimentos realizados para a constituição de Superagui tiveram como origem os capitais de Perret Gentil, que talvez não fossem suficientes para dar ensejo à constituição de um núcleo colonial", diz Caiubi Dysarz.

Na ilha, há outras edificações que datam do século 19

Sem pestanejar, Carlos Perret Gentil, então cônsul da Suíça no Brasil, resolveu dar um giro de 180 graus em sua vida. Abandonou a fábrica que tocava – voltada à iluminação na cidade fluminense de Campos – e resolveu se dedicar à agricultura. Para isso, comprou uma grande extensão de terras e deu início ao seu projeto. Em 1851, ele adquiriu grande parte da península de Superagui, no Litoral do Paraná. A terra pertencia ao negociante inglês David Stevenson. Os terrenos comprados por Gentil correspondiam à quase toda ilha do Superagui e à parte sul da Ilha das Peças, que perfaziam uma área de mais ou menos 30 mil hectares.

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Para tomar essa decisão radical, Gentil havia visitado anteriormente a fazenda de José Vergueiro, em Limeira (SP). Ele estava empenhado em trazer colonos europeus para trabalhar na lavoura cafeeira como substitutos dos escravos africanos. A proposta atraiu a curiosidade do cônsul suíço, que tentou empreender uma colonização semelhante em Superagui.

Porém, a ilha era diferente da experiência paulista em função dos acordos de trabalho celebrados com os colonos europeus. "Enquanto no empreendimento da família Vergueiro os imigrantes eram trabalhadores rurais, em Superagui Perret Gentil lhes ofertou lotes de terra para que trabalhassem enquanto pequenos agricultores, que deveriam pagar por tais lotes para serem seus legítimos proprietários", explica o historiador Caiubi Dysarz. O antigo cônsul chegou, inclusive, a ofertar lotes de Superagui na Suíça, na esperança de atrair colonos para o seu projeto.

Nascimento

Oficialmente, a colônia foi fundada em 19 de outubro de 1851. Durante os oito anos em que esteve na direção de Superagui, ele não foi capaz de introduzir grande contingente de colonos suíços e nem mesmo de fazer com que se estabelecessem permanentemente. "Os suíços introduzidos pelo fundador de Superagui somaram, na melhor das hipóteses, algumas dezenas", afirma Dysarz.

Porém, Superagui já possuía uma população brasileira vivendo em seu interior. Dysarz afirma que em 1857, Superagui possuía por volta de 450 indivíduos, agrupados em 20 famílias estrangeiras e 80 nacionais. Muitas das famílias estrangeiras eram formadas por mulheres brasileiras e por crianças também nascidas no Brasil – alguns dos europeus engajados não eram suíços, mas sim franceses ou alemães.

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Contudo, enquanto um empreendimento que pretendia vender lotes de terra a colonos europeus, Superagui encerrou suas atividades entre 1863 e 1864, com a morte de Gentil. "Os poucos colonos que permaneceram, num total de seis famílias, ainda perduraram por décadas, alternando suas atividades para a pesca apenas a partir do século 20."

Alexandra foi berço italiano no litoral

Graças ao colonizador Savino Tripoti foi constituído o primeiro reduto italiano no Litoral do Paraná. A colônia Alessandra, que após ser sequestrada pelo governo imperial passou a ser denominada Alexandra, foi fundada em 1871.

Tripoti comprou o território situado nas proximidades de Paranaguá com recursos próprios, para a implantação da colônia.

No início chegaram 200 colonos. O italiano teve dificuldade em manter os imigrantes especialmente porque parte fugia para não ter que pagar a dívida de transporte, alimentação e outros benefícios recebidos. Segundo a pesquisadora e autora do livro Colônia Alessandra, Jussara Cavanha, em abril de 1877 um decreto do governo imperial rescindiu o contrato com Tripoti. "Após a rescisão, o governo sequestrou a colônia e transferiu parte dos imigrantes para a Colônia Nossa Senhora do Porto, em Morretes, que deu origem à Colônia Nova Itália". Os remanescentes não tinham condições de beneficiar a produção de cana porque o governo não procedia a manutenção das máquinas construídas por Tripoti. "Importante salientar que não só a Alessandra, mas outras colônias particulares também tiveram rescindidos seus contratos com Império. Carente de recursos para o pagamento da subvenção devida aos empresários pela importação de imigrantes, o estado optou por rescindir os contratos", diz a escritora.

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Em 1877, último ano da colônia Alessandra, alguns imigrantes italianos e austríacos desembarcaram no Paraná com um panfleto distribuído na Europa pelo agente de imigração Joaquim Caetano Pinto Junior. No panfleto, lia-se: o Brasil forneceria terras e utensílios de graça para os colonos.