Anna Karolina cumpre a lei à risca desde que a medida entrou em vigor, há quatro meses| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Estudante toma atitude radical

A estudante Anna Karolina Albuquerque Coelho, de 19 anos, pode dizer que a lei seca foi essencial na mudança de seu comportamento. Anna conta que antes da restrição, somar álcool e direção era algo comum. "Eu não chegava a encher a cara, mas bebia e dirigia e não tinha muito consciência, não", lembra. Quando a lei entrou em vigor, em 19 de junho de 2008, tudo mudou. "Fiquei com medo de ser parada em blitz, ser presa", conta.

A decisão foi radical: não consumir nem uma gota de álcool quando estivesse de carro. Com isso, Anna passou a beber raramente e a ser referência de carona para os amigos que resolvem encher o caneco. "Eles me chamam de louca, mas prefiro não arriscar. Nos locais em que vou, vejo blitz todo fim de semana", diz.

Ao contrário do que mostra a pesquisa, entretanto, segundo Anna, seu comportamento não é tão comum. "Sou uma exceção entre os meus amigos", reconhece. "Eles deixaram de beber quando começou a lei seca, mas logo depois voltaram. Para não ser pego, um avisa o outro onde estão as blitze." (TC)

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Confira alguns dados obtidos com a pesquisa do Ministério da Saúde
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A chamada lei seca (Lei 11.705, de 19 de junho de 2008) está modificando o comportamento dos brasileiros quando o assunto é álcool e direção. Pesquisa do Sistema de Monitoramento de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (Vigitel), do Ministério da Saúde, mostra que quase 60 mil motoristas nas capitais brasileiras deixaram de ingerir bebidas alcoólicas antes de dirigir desde que a nova lei entrou em vigor. O levantamento faz uma comparação entre abril e maio deste ano e julho e agosto de 2008. A análise dos dois períodos demonstra uma redução de 32% entre os entrevistados que associam bebida e direção.

O estudo revela que não houve diferença significativa no consumo abusivo de álcool depois que a lei seca entrou em vigor, passando de 16,9% para 16%. A mudança, mostra o Vigitel, foi mesmo sentida mesmo entre motoristas. Em 2007, a estimativa era de que 150 mil motoristas bebiam e não temiam pegar no volante. Entre abril e maio de 2008, antes da lei seca, a projeção era de que 187 mil motoristas encaravam a perigosa combinação. Em julho e agosto, depois que a lei entrou em vigor, o número de motoristas que se arriscavam diminuiu para 127,5 mil.

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O levantamento é o resultado preliminar de um estudo conduzido pelo Ministério da Saúde para mensurar o impacto da lei seca em todas as capitais brasileiras. A comparação definitiva será feita no fim do ano. Mas, para a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde, Deborah Carvalho Malta, os dados preliminares já indicam mudança no comportamento do motorista brasileiro.

"Os dados mostram uma mudança muito grande e positiva. A nossa hipótese é que o debate ocorrido na sociedade, aliado à fiscalização, ajudaou nesta redução", afirma Deborah. A psicóloga Maria Elaine Andrade Celeira Lima, integrante da comissão de trânsito do Conselho Regional de Psicologia, tem opinião semelhante. "Alguma pessoas mudam de comportamento porque a lei mexe no bolso", avalia. "Outras porque passaram a se sentir responsáveis pela vida do outro. Algumas ainda deixaram de beber e dirigir pelos dois motivos."

O sucesso, segundo o presidente do Centro de Informação sobre Saúde e Álcool, Artur Guerra, está ligado ao conteúdo regulado pela lei e às sanções impostas. "Quando a lei faz sentido, pega no bolso e tem fiscalização, consegue mudar o comportamento das pessoas", opina. "A lei é clara: pode beber à vontade. É o álcool e a direção que não são aceitos juntos. A lei seca vai ao encontro de uma preocupação que a sociedade já tinha."