Um comandante e três policiais militares da Força Tática do 18º Batalhão da Polícia Militar, da capital paulista, tiveram a prisão decretada pela Justiça Militar sob a acusação de prender, matar e simular um tiroteio para justificar o assassinato de Everton Torres Rodrigues, de 21 anos, na madrugada de 30 de julho. Trata-se do mais grave caso de violência envolvendo policiais da unidade desde que seus integrantes foram acusados de compor um grupo de extermínio, os Matadores do 18, e um deles, o soldado Pascoal dos Santos Lima, ter sido indiciado pelo assassinato do coronel José Hermínio Rodrigues, ocorrido em 16 de janeiro. Hermínio comandava a PM na zona norte de São Paulo.

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O pedido de prisão foi formulado pelo major Sérgio Pincelli, presidente do Inquérito Policial-Militar (IPM), e referendado pelo subcomandante-geral da PM, coronel Daniel Rodriguero. O pedido atingiu a guarnição do tenente Jonas Paro Barreto, de 23 anos, que estava no comando da Força Tática no momento em que o crime ocorreu.

Segundo a versão dos acusados, na madrugada do dia 30, por volta de 1h30, o tenente e três soldados estavam em patrulhamento na região de Parada de Taipas, quando receberam um chamado do Centro de Operações da PM (Copom) para atender a um caso de roubo com refém que estava em andamento. A vítima, o bancário Eduardo Donizete Batista, teria sido abordada por dois ladrões quando chegava de carro em casa.

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Os bandidos, armados, estariam em uma motocicleta. Um deles teria assumido a direção do Siena e o outro teria seguido o carro com a moto. O bancário teria sido colocado no porta-malas do carro. Seu filho viu tudo e chamou o Copom, que deu o alerta pelo rádio. Foi esse chamado que o tenente e seus homens teriam escutado. A Força Tática é uma das companhias do 18º Batalhão, responsável pelo patrulhamento local.

Os policiais contaram que cruzaram com o Siena roubado na avenida Raimundo Pereira de Magalhães. A perseguição teria se estendido por 1 quilômetro, quando o suspeito teria descido do carro e atirado. Os PMs revidaram e balearam o suposto ladrão, que morreu no Hospital de Taipas. O acusado do crime estaria sem documentos.

Para a PM, tudo parecia ser motivo de comemoração, pois, embora o ladrão tivesse sido morto, o refém havia sido libertado sem nenhum arranhão. A situação começou a mudar na manhã do dia 30. Foi quando a mulher de Rodrigues compareceu à Corregedoria da PM, acompanhada de uma testemunha. "Ela disse que o marido havia sido preso na noite anterior e estava desaparecido. Quando perguntamos como ela sabia disso, ela afirmou que o rapaz que a acompanhava havia presenciado a prisão", disse o capitão Levy Félix, da Corregedoria. Segundo a testemunha, Rodrigues havia sido detido por um policial que ele conhecia às 21h30, em uma esquina da avenida Edgar Facó, na zona norte de São Paulo.

Os corregedores perguntaram ainda quais outras evidências os dois poderiam apresentar. A testemunha contou que havia relatado a prisão de Rodrigues para dois amigos, ainda na noite do dia 29. Os dois foram ouvidos e confirmaram o fato. A mulher procurou o marido em várias delegacias naquela noite, sem sucesso. Seu marido havia sido detido e acusado de tráfico quando era adolescente, mas não havia sido mais preso desde que completara 18 anos.

Em meio à apuração do desaparecimento, os corregedores descobriram que Rodrigues podia ser o homem sem documentos que havia sido morto pelos policiais da Força Tática. E foi o que ocorreu. Depois do reconhecimento do corpo, os corregedores informaram o comando e foram ao quartel da Força Tática, onde detiveram no dia 31 os quatro acusados.

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Além do tenente, foram levados para a Corregedoria os soldados Fernando Félix, Sandro Rodrigues de Sousa e Adriano Roda dos Santos. Todos foram detidos administrativamente. Seus armários foram revistados, mas nada foi achado. "Eles negaram o crime e reafirmaram a versão que haviam contado na noite do suposto tiroteio", afirmou o capitão.

PRISÃO

A vítima de roubo também manteve sua versão. A Corregedoria apura se o crime não teria sido uma encenação feita pelos próprios policiais. No dia 7, o juiz-corregedor da Justiça Militar, Luiz Alberto Moro Cavalcanti, decretou a prisão temporária de todos os acusados por 30 dias. Todos foram levados ao Presídio Militar Romão Gomes.