Helicóptero que caiu em Candói não estava apto a voar
Kelli Kadanus
O helicóptero que caiu em Candói, Região Centro-Sul do estado, no domingo, estava com a documentação irregular, segundo o registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O Certificado de Aeronavegabilidade (CA) da aeronave, modelo Robinson R44 Raven I, prefixo PTYFD, estava vencido desde 14 de fevereiro de 2013. Já a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) venceu em 12 de dezembro de 2012, de acordo com o registro.
O helicóptero caiu transportando cinco pessoas, além do piloto. No registro da aeronave na Anac consta que o número máximo de passageiros para esse tipo de veículo aéreo é de apenas três, mais o piloto. Conforme especificações técnicas do fabricante, o aparelho tem capacidade máxima para transportar 357 kg. Se durante as investigações forem comprovadas as irregularidades, os responsáveis podem ser autuados e multados, além da possibilidade de suspensão ou cassação de licenças, habilitações e certificados. Quando o caso é encerrado, o processo também pode ser encaminhado pela Anac ao Ministério Público Federal (MPF) para análise do caso na esfera criminal.
Uma equipe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) foi enviada ontem de Canoas (RS) para Candói para investigar as causas do acidente.
Queda
O helicóptero que caiu fazia voos panorâmicos durante a Festa do Charque, em Candói. O piloto saiu ileso, mas os cinco passageiros tiveram ferimentos leves. Eles foram encaminhados ao hospital, medicados e liberados em seguida. As duas crianças (uma menina de 8 anos e um garoto de 7 anos) e três adultos (todos homens, com idades de 52, 43 e 28 anos) que estavam na aeronave tiveram somente escoriações.
Licitação
Por meio de nota, a prefeitura de Candói informou que a empresa proprietária do helicóptero foi contratada via processo licitatório para a realização do rodeio country da 14ª Festa Nacional do Charque. Entre as atribuições contratuais da empresa, consta a disponibilização de helicóptero para o transporte do locutor nacional até o local de realização do evento. A prefeitura destacou que a responsabilidade sobre a aeronave era da empresa contratada. Colaborou Angieli Maros
Frequência
Entre 2011 e 2014 ocorreu, em média, um acidente por ano com aviões que decolaram ou pousaram no Bacacheri. Confira:
2014
31 de agosto Monomotor cai próximo ao aeroporto e mata três pessoas.
2013
7 de julho - Avião de pequeno porte, que deveria ter pousado no Bacacheri, fez um pouso de emergência no gramado do Jockey Club. Não houve vítimas.
2012
5 de novembro Bimotor que pousaria no Bacacheri cai entre Almirante Tamandaré e Rio Branco do Sul, na Grande Curitiba. Três morreram.
18 de outubro Monomotor que decolou do aeroporto curitibano caiu em Campina Grande do Sul, região metropolitana. Dois morreram.
2011
2 de outubro Avião cai no 6º Festival Aéreo do Aeroclube do Paraná. O piloto morreu.
2 de março Um monomotor Beechcraft A36 Bonanza caiu durante decolagem sobre uma residência localizada ao lado do aeroporto do Bacacheri. O piloto morreu.
2008
9 de outubro Um avião Bandeirante perdeu o controle ao pousar no Bacacheri, derrapou e foi parar na pista lateral. Ninguém ficou ferido.
2005
5 de março Durante a corrida para a decolagem, um Beechcraft A-36 colide no muro do aeroporto. Apesar do incêndio causado, ninguém se feriu.
6 de maio Após a partida dos motores de uma aeronave, um estagiário foi atingido pela hélice. Ele se feriu gravemente.
2003
20 de junho Um helicóptero Robinson RH 22 partiu do Bacacheri para Balneário Camboriú (SC), mas caiu em uma lagoa e afundou. Os dois ocupantes ficaram feridos.
4 de outubro Uma aeronave Maule M-7-235 partiu do aeroporto rumo a Navegantes (SC), mas caiu na Serra do Mar. Os quatro ocupantes morreram.
1.º de dezembro Um helicóptero Bell BH-206 B partiu do aeroporto para um sobrevoo por Curitiba. Após falha no motor, ele se chocou contra um telhado e caiu. Ninguém se feriu.
2001
6 de junho Por causa de más condições meteorológicas, um táxi aéreo EBM-820 C colidiu com o muro do aeródromo. Os tripulantes ficaram feridos.
2 de dezembro Durante treinamento, um avião 8K CAB sofreu pane no motor e colidiu com o chão. Os dois ocupantes morreram.
Nos últimos 10 anos, em 43% dos acidentes aéreos registrados no Brasil havia aviões e helicópteros particulares (TPP, no jargão aeronáutico), categoria em que se enquadra o monomotor Cessna 177 que caiu no bairro Bacacheri, em Curitiba, no sábado. Os dados são do relatório Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), há quase 10 mil aviões particulares no Brasil, o que representa praticamente 50% de todas as aeronaves registradas no país.
INFOGRÁFICO: Confira os principais motivos dos acidentes aéreos entre 2004 e 2013
Segundo o major Eduardo Fatime Michelin, do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa), o número de quedas de aviões privados tem a ver com a falta de estrutura dos aeroportos em que pousam. "Geralmente eles decolam ou pousam em pistas que têm menos estrutura do que as de um aeroporto maior. Isso faz com que a operação seja, digamos, mais marginal. O aeroporto do Bacacheri tem grande volume de tráfego e, logicamente, a chance de acontecer acidentes também cresce", exemplifica.
De acordo com a Associação Brasileira de Aviação Geral (ABAG), entre os aeroportos de pequeno porte do país, o do Bacacheri é o terceiro mais movimentado. O último dado, de 2012, revela que, em 2011, o aeroporto curitibano registrou 52.786 pousos e decolagens. Ficou atrás apenas do Campo de Marte (SP) e de Jacarepaguá (RJ).
Causas
Do total de incidentes aéreos no Brasil, incluindo voos fretados e a aviação regular, 21,83% são decorrentes de falhas no motor durante o voo, 19,10% por perda de controle em voo e 12,50% por perda de controle no solo.
A investigação sobre a queda do avião em Curitiba ainda está em curso, mas a principal suspeita é um problema com o motor da aeronave. "É a principal suspeita, mas também faz parte de um procedimento padrão que a gente tem que fazer", conta Michelin.
Dos fatores que contribuem para os acidentes aéreos no Brasil, o relatório indica que o principal é o fator humano (15,64%)."É o julgamento de pilotagem. O profissional tem que tomar um decisão, mas acaba errando", comenta o tenente-coronel Marcos Antônio dos Santos, do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II). Essa é uma das hipóteses, por exemplo, levantada por especialistas da Aeronáutica no caso da queda do avião do candidato à Presidência Eduardo Campos.
Vizinhos do Bacacheri estão acostumados com os "rasantes"
A representante comercial Elisabete Pascoal do Rosário, 45 anos, teve a casa atingida pelo monomotor que caiu no último sábado em Curitiba. Parte do muro e parte do teto da residência foram destruídos. No interior do imóvel, o cheiro de fumaça ainda está presente em um dos quartos.
Apesar do susto, Elisabete, que mora com os pais e a filha, diz estar acostumada com os aviões que passam pela região. "Claro que ficamos um pouco mais receosos por causa do acidente, mas quando eu vim morar aqui já imaginava. Estamos é inconformados com as vítimas", relata.
Além de Cleber Luciano Gomes e o sobrinho do deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), Silvio Roberto Romanelli, de 52 anos, o acidente matou também Mounir Saleh Brahim, de 48 anos. Um dos passageiros - Hélio Corrêa - seguia hospitalizado até ontem à noite, em estado grave.
40 minutos
Durante os 40 minutos em que a reportagem ficou na residência de Elisabete, ao menos dez aviões passaram pelo local; alguns, fazendo muito barulho, passavam em voos rasantes, bem próximos do telhado da casa de Varlete Nunes de Alves Polli, que mora na frente do imóvel de Elisabete.
No acidente de sábado, parte do avião atingiu o carro de Varlete. O teto do veículo ficou todo amassado. "Não dá nem para abrir a porta do motorista. Os vidros estão quebrados. Espero que alguém pague o prejuízo", diz. Até agora, segundo ela, ninguém entrou em contato.
Investigação
O acidente está sendo investigado pelo Cenipa. A principal suspeita é de falha no motor do avião, mas o órgão também está atuando em outras frentes. "Além do motor, temos outras linhas de investigação, como excesso de peso, problemas no balanceamento de carga e até erro operacional cometido pelo piloto", relata o major Eduardo Fatime Michelin, do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa), braço regional do Cenipa.
Paraná é 8º estado com maior número acidentes aéreos
Nos últimos 10 anos, o Paraná foi palco de 6% de todos os acidentes aéreos ocorridos no país, levando em consideração os acidentes da aviação geral e aviação regular. O estado que apresenta maior número de acidentes é São Paulo (21,20%), seguido do Mato Grosso (10%), Rio Grande do Sul (8%), Pará (6,54%), Minas Gerais (6,36%), Rio de Janeiro (6,27%) e Goiás (6,18%).
Já no ranking de incidentes aéreos, quando não há mortes ou danos muito graves nas aeronaves, o Paraná ocupa o 4º lugar, com 8% dos casos, atrás de São Paulo (17,62%), Rio Grande do Sul (10,07%) e Minas Gerais (9,38%).
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