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Quem é Sônia Guajajara, que será ministra dos Povos Originários no governo Lula
Líder indígena e militante de esquerda, Sônia Guajajara foi candidata à vice-presidência da República na chapa de Guilherme Boulos em 2018| Foto: Reprodução

A deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP), ativista da causa indígena, será ministra dos Povos Indígenas, um dos novos ministérios a serem criados no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Candidata à vice-presidência da República na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) em 2018, Sônia foi eleita à Câmara neste ano defendendo bandeiras como demarcação de terras indígenas, defesa do meio-ambiente e o “aldeamento” da política – termo criado em referência à maior participação de representantes indígenas na política.

Apesar de ser natural do Maranhão, a ativista recorreu a uma manobra para transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo – onde seu partido, o PSOL, é bastante forte – a fim de angariar mais votos. Graduada em Letras e Enfermagem, a futura ministra é bastante próxima de Lula e de figuras de grande influência no governo de transição, como Flavio Dino (PSB), que ocupará o cargo de ministro da Justiça no governo Lula, e Guilherme Boulos.

A ativista, que integrou o grupo técnico de Povos Originários no gabinete de transição, conta com o apoio de entidades e movimentos sociais de esquerda que exercem grande influência no gabinete de transição. O nome da futura ministra, aliás, foi uma indicação da Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), entidade que militou pela eleição de Lula nas eleições deste ano e participou ativamente do gabinete de transição. Sônia Guajajara é atualmente coordenadora executiva da Apib, entidade que a indicou.

Futura ministra coleciona episódios polêmicos

Ao justificar a mudança de domicílio eleitoral do Maranhão para São Paulo, a ativista alegou que no estado paulista ela teria maior potencial de votos do que em sua terra natal. O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil), que foi eleito para o Senado neste ano, também tentou transferir seu domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo, mas teve a solicitação negada pela Justiça Eleitoral. Marina Silva (Rede), que será ministra do Meio Ambiente no novo governo Lula, também tentou a manobra. Mas no caso dela, assim como no de Guajajara, a Justiça Eleitoral não viu empecilhos.

Sônia se envolveu recentemente em diversos episódios polêmicos. Em abril, quando era pré-candidata, foi convidada por um professor de uma escola paulista de alto padrão para dar uma palestra para cerca de 200 alunos do ensino médio. Na ocasião, a ativista fez uma série de manifestações político-ideológicas relacionadas, principalmente, à distribuição de terras e ao uso de agrotóxicos, e teceu críticas a opositores políticos e ao setor agropecuário brasileiro.

Em reação, um estudante cuja família trabalha no setor agropecuário pediu a palavra para fazer contrapontos aos argumentos da ativista. Antes que ela própria respondesse aos questionamentos, o professor que convidou a ativista decidiu intervir. Sem contrapor os argumentos, o docente optou por apenas constranger o estudante e exaltar seus títulos acadêmicos, alegando que possuía diploma de especialização pela Universidade Harvard – o que mais tarde foi desmentido pela Gazeta do Povo. Tanto a presença da então pré-candidata discursando na escola em ano eleitoral quanto a reação desproporcional do professor resultaram em cancelamentos de matrículas e críticas diversas de pais de alunos à direção da escola.

Em outro episódio, ocorrido no ano passado, a Polícia Federal deu início a um inquérito para apurar supostos indícios de crime de estelionato e difusão de notícias falsas em uma websérie apresentada por Sônia, que continha críticas ao governo federal. Na série, Sônia aparece falando sobre supostas violações de direitos contra os povos indígenas durante a pandemia de Covid-19.

No entanto, o juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 10ª Vara Federal de Brasília, determinou o trancamento imediato do inquérito em maio de 2021. Segundo o magistrado, a investigação seria uma tentativa de depreciar a atuação da Apib, entidade da qual Sônia Guajajara faz parte.

No ano passado, o mesmo juiz foi o responsável por absolver Lula em duas denúncias de corrupção apresentadas pelo Ministério Público. Em uma delas, o petista havia sido acusado de ter recebido propina, quando era presidente, para aumentar o limite da linha de crédito no BNDES da Odebrecht, para exportação de bens e serviços em Angola. Na outra, foi acusado de ter editado uma medida provisória para favorecer o setor automotivo em troca de recebimento de propina.

Tensão marca negociações sobre Ministério dos Povos Originários, que deve absorver Funai

Durante a campanha presidencial, Lula prometeu a criação de uma série de ministérios com o objetivo de angariar apoio para sua candidatura – uma das pastas prometidas pelo petista trataria de questões indígenas. Durante as atividades da equipe de transição, entretanto, o presidente eleito tentou voltar atrás e sugeriu converter o ministério em secretaria. A ideia foi rechaçada por lideranças indígenas que integraram o gabinete de transição, e Lula voltou atrás.

Outros pontos de tensão entre o petista e o movimento indígena surgiram nas últimas semanas – um deles tem a ver com o nome da pasta. Os ativistas ainda lutam para que o nome da pasta seja “Ministério Indígena” ou “Ministério dos Povos Indígenas”, mas a ideia enfrenta resistência por parte de lideranças petistas.

Atualmente, ativistas buscam avançar nas negociações para terem o comando da Funai e da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). A Funai pertence atualmente ao Ministério da Justiça, mas deve passar a integrar a pasta a ser chefiada por Sônia Guajajara. No grupo técnico dos Povos Originários houve receio inicial de que tal mudança dificultasse a operação do órgão, mas ao final dos trabalhos do grupo a visão era de que o orçamento da Funai poderia viabilizar o ministério.

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