Das 1.026 respostas, 30% disseram usar a bike 5 vezes por semana| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Conquista de espaço pela bike é caminho sem volta em Curitiba

O professor Isaak Soares ressalta que o objetivo primeiro da pesquisa era colocar luz sobre o uso da bike em Curitiba. Por isso, o projeto foi enviado no final do ano passado à prefeitura. "Não há um único ciclista e, por isso mesmo, são olhares diferentes sobre a cidade. Outra grande coisa é que o grau de concordância foi maior do que o de discordância quando se afirma que essa gestão se preocupa mais com a questão do que as anteriores."

Outra conclusão do estudo é que a visão dos ciclistas que moram em Curitiba é mais crítica sobre a cidade do que a dos que moram em municípios da Região Metropolitana. "Uma das hipóteses para isso é que o ciclista confronte a realidade da cidade dele com a de Curitiba e perceba que a capital tem perspectiva melhor, outra pode ter relação com o próprio deslocamento que ele faz", pondera Soares.

A designer Caroline Lemes, 24 anos, pedala uma média de 10 quilômetros nos dias úteis – para ir à faculdade – e cerca de 15 nos finais de semana. A adoção da bicicleta como meio de transporte ocorreu há dois anos. "Escolhi por influencia de amigos que já utilizavam a bicicleta no dia a dia. Depois que compreendi o mundo da bicicleta e todos os seus benefícios."

Problemas existem. Embora motoristas comecem a respeitar o ciclista, ela ainda passa por situações difíceis. "Vejo uma diferença brusca de dois anos para cá. O fato de ser mulher e pedalar... ainda tenho que enfrentar assédios de longe, assobios, e isso atrapalha a locomoção do ciclista, que pode se assustar e cair. Os pedestres também não são educados para conviver com a bicicleta nas ruas, andam pelas ciclovias, não se importam", enumera.

Para ela, apesar da resistência dos mais conservadores, a conquista de espaço nas ruas pela bicicleta é um caminho sem volta. "A cidade tem que evoluir e focar nas pessoas, não no automóvel. Curitiba está melhorando nesse sentido, a CicloIguacu, a Bicicletaria Cultural, entre outros movimentos que surgem, estão chamando a atenção para a bicicleta e indo à luta para conquistar esse espaço."

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Mais do que uma simples troca de endereço, a mudança para o centro de Curitiba transformou os hábitos do empresário e dentista Luciano Zaina, 53 anos. Há dois anos, ele resolveu vender o carro e encarar os deslocamentos diários – que somam, hoje, mais ou menos 10 quilômetros – sobre uma bicicleta. "O carro tem um custo absurdamente elevado. Também tem a questão da saúde. E, por morar no centro, é tudo mais fácil. Resolvi aderir à ideia mundial de um carro a menos na rua", conta.

Avaliar o comportamento de uso da bicicleta na capital por diferentes tipos de ciclistas era o objetivo de uma pesquisa realizada por alunos dos cursos de Marketing e Publicidade, da UniCuritiba, no ano passado. Coordenado pelo professor Isaak Soares, o levantamento – que ouviu 1.026 ciclistas, via questionário on-line – aponta que quase 30% deles usam a bike pelo menos cinco dias na semana. Mais da metade dos entrevistados já se envolveu em algum acidente de trânsito. "Percebemos que quanto mais usam a bicicleta, mais críticas as pessoas se tornam sobre a cidade."

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A única exigência para responder ao questionário, explica Soares, era pedalar no mínimo uma vez na semana. "Identificamos três tipos de ciclistas: os que utilizam como deslocamento, para trabalho e estudo; os que usam como lazer, para atividades de diversão, e os que são ciclistas de esporte. E esses grupos têm comportamentos diferentes", relata o professor.

Segundo ele, o ciclista de deslocamento costuma ser mais crítico com relação à cidade, porque tem mais contato com o trânsito e percorre distâncias maiores. Entre esse grupo, a preferência é maior por pedalar nas ruas e nas canaletas dos ônibus. "Na grande maioria, são homens, com renda um pouco menor do que quem usa para esporte. As mulheres usam mais para lazer, o que costuma ser feito em grupo de pessoas com todos os tipos de características." Entre os esportistas, estão a maior quantidade de ciclistas de 35 a 50 anos, com faixa de renda superior.

No trânsito, o ciclista Luciano Zaina afirma nunca ter tido problemas. "Procuro ser um condutor consciente, não fico costurando, tenho sido respeitado." Apesar disso, os problemas existem. Há dois meses, recorda, teve uma bicicleta de alto valor roubada na Saldanha Marinho. "Estava amarrada, com cadeado bom. Os estacionamentos não aceitam, porque não fazem seguro", reclama.

Zaina comemora avanços, como a Via Calma da Avenida Sete de Setembro, mas defende que o caminho ainda é longo. "Há muitíssimo para avançar. Não existe fiscalização do poder constituído. Costumo andar na rua. Acho um perigo andar na canaleta do expresso, mas ninguém fiscaliza."

Mais dados

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Questionário on line teve 1.026 respostas via Google Drive: - 67% dos que responderam são do sexo masculino

- 80% têm entre 18 e 35 anos

- 60% têm ensino superior incompleto ou completo

- 80% declararam renda familiar de R$ 1 mil e R$ 10 mil; 1/3 tem renda a partir de R$ 5 mil

- 40% são da Matriz e Portão

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- 60% pedalam de 5 a 100 km por semana em Curitiba e 55% na RMC

- 60% andam sozinhas de bike

- 64% do grupo de lazer andam até 20 km por semana

- 64% do grupo de esporte andam de 20 a 100 km por semana

- 48% dos que usam para transporte pedalam de 20 a 100 km por semana

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Pedestres

Os motoristas já começam a respeitar mais os ciclistas. Contudo, os pedestres ainda não parecem acostumados para conviver com a bicicleta nas ruas. Eles ainda costumam andar pelas ciclovias.