Mauro Ribeiro, ex-presidente do CFM, critica a campanha para transformar o órgão médico em “apêndice do governo Lula”.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado
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As eleições para conselheiros federais do CFM (Conselho Federal de Medicina) começam na próxima terça-feira (6) e terminam na quarta (7).

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Na disputa pela vaga de conselheiro do Mato Grosso do Sul, o médico e ex-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina) Mauro Ribeiro – que ocupou o cargo de outubro de 2019 até abril de 2022 – vê uma campanha da esquerda para promover uma guinada ideológica no órgão.

Nos últimos anos, o CFM tem conseguido se manter imune a ideias radicais da esquerda, algo raro para um conselho de classe no Brasil. As posições de boa parte dos conselheiros contra o aborto e a favor da autonomia médica causam preocupação entre esquerdistas, que têm agido para manipular a opinião pública contra as chapas da situação.

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"Existe um movimento claro por parte da esquerda de tomar o Conselho Federal de Medicina, de colocar o Conselho Federal de Medicina como um apêndice do governo do PT. Isso está muito claro", afirma.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Ribeiro acusa setores da mídia, parte do Congresso Nacional e médicos esquerdistas de politizarem questões médicas desde a pandemia de Covid-19, quando um parecer do CFM gerou controvérsias ao defender a autonomia dos médicos na prescrição de tratamentos.

"Disseram que o CFM fez uma defesa do tratamento precoce com hidroxicloroquina, coisa que o parecer nunca fez", diz. Ele destaca que o documento apenas sustentava a liberdade dos profissionais em optar ou não pelo uso de determinadas drogas, mas foi desvirtuado e politizado.

Ribeiro critica as acusações de partidarização do CFM, afirmando que há uma campanha organizada pela esquerda para prejudicar certas chapas. "Há podcasts com médicos atacando o CFM, editoriais em grandes jornais brasileiros, todos em defesa de chapas de oposição, do chamado progressismo", diz.

O ex-presidente do CFM também aborda ataques pessoais que sofreu, destacando a cobertura midiática injusta sobre acusações contra ele.

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Para ele, contudo, as investidas da esquerda não surtirão efeito. "Se pensam que vão enganar os médicos brasileiros, os 600 mil médicos brasileiros, para eleger médicos que vão ficar a reboque do governo do PT, eles estão muito enganados e vão se frustrar."

Confira abaixo as principais declarações de Mauro Ribeiro na entrevista à Gazeta do Povo.

A origem da ideia de "politização" do CFM

O que está acontecendo em relação ao Conselho Federal de Medicina, já há algum tempo – desde a época da Covid, quando eu fui o presidente –, é uma politização em relação a um tratamento médico.

Parte da mídia, parte do Congresso Nacional – o pessoal de esquerda – politizaram um tratamento por causa de um posicionamento do então presidente da República, Jair Bolsonaro, que defendia um tratamento com determinadas drogas.

O Conselho Federal de Medicina foi provocado e fez um parecer, do qual eu fui o relator, o parecer 4 de 2020. Ele foi feito em relação à hidroxicloroquina, e tem uma mensagem muito clara, que foi totalmente desvirtuada pelo pessoal da esquerda. Disseram que o CFM tinha feito uma defesa do tratamento do tratamento precoce com hidroxicloroquina, ivermectina e vitamina D, coisa que o parecer nunca fez.

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O que o parecer dizia? Defendia a autonomia do médico que queria usar hidroxicloroquina e ivermectina, mas também defendia a autonomia do médico que não queria usar hidroxicloroquina e ivermectina. Porque muitos médicos se viam na seguinte situação: não queriam fazer o tratamento de hidroxicloroquina e ivermectina, e o paciente exigia que o médico prescrevesse as drogas.

Foi a maior crise sanitária da história do Brasil, certamente. E todas as entrevistas que foram dadas por mim, e depois pelo presidente [José Hiran] Gallo, que me sucedeu na presidência do CFM, todas as notas feitas pelo CFM foram no mesmo sentido.

O CFM fez campanha para a vacina da Covid e para todas as vacinas. Nós defendemos o Programa Nacional de Imunização. E a imprensa sempre tratou de uma forma política, como se o Conselho Federal de Medicina fosse uma extensão da Presidência da República, do presidente Jair Bolsonaro, por quem nós temos o maior respeito. Mas só quem não conhece o Conselho Federal de Medicina pode pensar que onde há 28 conselheiros de todos os estados brasileiros pode haver uma armação no sentido de defender algum governo.

O parecer 4 de 2020 foi aprovado por unanimidade. No plenário do CFM, nós temos pessoas de direita, de centro-direita, extrema-direita, centro-esquerda, extrema-esquerda… Tem de tudo. E o parecer foi aprovado por todo mundo.

O CFM e as articulações políticas

Há esse discurso da esquerda de que o Conselho Federal de Medicina foi tomado por uma partidarização. Na realidade, não. Isso é uma coisa que vem de fora para dentro do CFM.

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A esquerda lançou chapas praticamente em 25 estados brasileiros. E isso não tem problema nenhum. Podem lançar e devem lançar, porque isso é bom para o processo democrático da política médica.

Mas, agora, nas últimas semanas, está havendo um verdadeiro ataque aos médicos conservadores. Há podcasts com médicos atacando o CFM, editoriais em grandes jornais brasileiros, todos em defesa de chapas de oposição, do chamado progressismo.

Não existe, por parte dos atuais conselheiros do Conselho Federal de Medicina que estão concorrendo à reeleição, nenhum tipo de articulação contrária ao que a esquerda está fazendo. Eu, pelo menos, não participo de absolutamente nada.

Ataques pessoais contra ele

Eu sou um homem conhecido, eu sou um homem conservador, e o que eu defendo é a vida e a autonomia médica. Eu tenho 65 anos de idade, eu sou um homem de direita, sempre fui. Eu sou contra o aborto, eu sou contra a liberação das drogas, eu sou a favor da família. Eu sempre fui. Eu sou católico, eu defendo a religião. Eu me senti ultrajado com a abertura das Olimpíadas, por exemplo. Então, essa é a minha essência.

Estou concorrendo a mais um mandato no Mato Grosso do Sul, e estou sendo atacado também. Há seis denúncias contra mim, feitas pela Associação Brasileira de Ozonoterapia.

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Cinco caíram, os juízes descartaram de pronto. E em uma, a promotoria de Mato Grosso do Sul fez denúncia ao juízo e a ação foi julgada como improcedente. O Ministério Público nem recorreu em segunda instância, a ação está transitada em julgado.

Mas o que a grande mídia fez? Tive meu nome enxovalhado no Brasil inteiro, por toda a grande mídia, os grandes jornais, redes de televisão, blogs. Disseram, por exemplo, que eu tinha faltado a 873 plantões. Eu nunca tive vínculo de plantão com a Prefeitura de Campo Grande.

Eu tinha dois vínculos na Prefeitura como médico ambulatorial e eu passei num concurso, em 2015, 2016, no Estado. Eu não posso ter três vínculos públicos. Fui lá e pedi demissão do meu segundo vínculo na Prefeitura. Não tinha nada a ver com plantão.

O meu nome foi totalmente deturpado pela imprensa, dizendo que eu era um corrupto, que tinha faltado a 873 plantões, que eu tinha conflito de interesse, que eu nunca poderia ter sido presidente do CFM, quando, na realidade, nem plantonista eu era.

E agora, o que aconteceu? A ação foi julgada improcedente e não tem uma linha nos grandes jornais sobre o fato de que minha ação foi julgada improcedente.

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Como os médicos conservadores estão reagindo

Por parte do CFM, por parte de quem está concorrendo e que tem uma visão mais conservadora, não existe nenhum movimento articulado para se contrapor a esse movimento da esquerda.

Nós estamos fazendo as nossas campanhas, colocando os nossos posicionamentos, e os médicos brasileiros vão decidir o que eles querem para o CFM.

Mas existe um movimento claro por parte da esquerda de tomar o Conselho Federal de Medicina, de colocar o Conselho Federal de Medicina como um apêndice do governo do PT. Isso está muito claro.

Mas é difícil para eles, porque a população brasileira é conservadora, e os médicos brasileiros são um segmento da população ainda mais conservador do que a própria população. Nós imaginamos que só de 15% a no máximo 20% dos médicos brasileiros defendem a pauta da esquerda. No mais, o médico é conservador. O médico é contra o aborto. O médico é contra a liberação das drogas. O médico é a favor da vida. O médico é a favor da autonomia médica. E o que nós defendemos? A autonomia do médico.

No caso de uma doença como a Covid, que não tinha tratamento, como não tem até hoje, o médico é quem tem que estar na linha de frente, decidindo o que é melhor para o paciente dele no caso concreto. O João não necessariamente vai ter o mesmo tratamento que o Manuel, ainda que seja atendido pelo mesmo médico. É isso que nós defendemos. Autonomia do médico.

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E, com todo o respeito, havia repórteres, políticos, deputados, senadores e a grande imprensa querendo ensinar para o médico brasileiro como ele tinha que tratar os pacientes da Covid. O médico brasileiro não precisa de tutor. Queriam impor aos 600 mil médicos brasileiros o que eles deveriam fazer.

Mas o médico lá da ponta nos defende. E nós estamos no Conselho Federal de Medicina para isso: para defender o médico, a autonomia do médico, para defender a vida, a sociedade brasileira, porque, afinal de contas, é esse o papel do CFM.

Médicos que desejam aparelhar o CFM vão se frustrar

Esse movimento na esquerda é no sentido de tomar o Conselho Federal de Medicina e colocar o Conselho Federal de Medicina como um apêndice do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, enfim, do governo de esquerda no Brasil. Mas eles vão se frustrar.

Em nenhum lugar é bom você ter o absoluto de uma única visão. É necessária a pluralidade no ambiente do conselho. A presença de médicos de esquerda no Conselho Federal de Medicina é uma necessidade, no sentido de contribuir com as discussões, com as propostas, com a regulamentação da medicina no Brasil. Mas não para servir de esteio para políticas públicas do governo de esquerda.

Os médicos de esquerda são bem-vindos no plenário do Conselho Federal de Medicina. Nós temos médicos de esquerda hoje dentro do plenário, que contribuem muito para as discussões que nós temos em relação às competências legais do CFM.

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Agora, se alguém pensa que com esse movimento que estão fazendo na grande mídia de ataque a médicos conservadores – a mim, por exemplo, ou ao presidente [atual do CFM, José Hiran] Gallo, que somos os mais visados, porque somos os dois últimos presidentes –, se pensam que vão enganar os médicos brasileiros, os 600 mil médicos brasileiros, para eleger médicos que vão ficar a reboque do governo do PT, eles estão muito enganados e vão se frustrar.

Semana que vem sai o resultado. Eu não sei se eu vou ser eleito, mas eu tenho certeza de que a maioria absoluta das chapas eleitas será de médicos conservadores. Médicos que são contra a legalização das drogas, a favor da vida, a favor do Revalida, a favor da residência médica e a favor do ato médico.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]