Vestibular da Federal incluiu questões de História e Geografia do Paraná| Foto: Rodolfo Büher/Gazeta do Povo

Literatura incompatível com o ensino médio

Para o professor João Amálio Ribas, do Curso Acesso, mais conhecido como professor Joãozinho, algumas questões da prova de Literatura superaram a capacidade de compreensão dos alunos recém-saídos do ensino médio. O vestibulando deveria demonstrar familiaridade não apenas com o enredo das obras cobradas, mas com a crítica especializada. "Houve questões calcadas na interpretação de textos de autores estudados no ensino superior, como Alfredo Bosi e Massaud Moisés. Esses autores escreveram análises aprofundadas das obras, verdadeiros ensaios, com os quais o aluno terá contato apenas no curso de Letras", criticou.

Ele ressaltou ainda que a dificuldade de algumas perguntas recaiu na complexidade do vocabulário e não do raciocínio exigido. "Caso o aluno não conhecesse o significado de algumas palavras, como ‘contumaz’ ou ‘arquitraves científicas’, poderia não resolver a questão", disse.

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Um exame bem-elaborado, com perguntas mais diretas e menos extensas do que nos últimos anos. Foi assim que professores de cursinhos preparatórios ouvidos pela Gazeta do Povo avaliaram, de forma geral, a primeira fase do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizada no último domingo. Outra diferença em relação aos concursos anteriores, segundo eles, foi a cobrança de conteúdos referentes à História e Geografia do Paraná, que há muito tempo não apareciam na prova.

De acordo com o professor de Biologia do Curso Expoente, Luiz Borges Neto, o exame exigiu, basicamente, o conhecimento de conceitos clássicos da disciplina. "O candidato precisava saber, por exemplo, o conceito de organismo transgênico e de comensalismo. As questões não exigiam altas deduções ou conhecimentos da atualidade", disse. As perguntas de Geografia também foram claras e não trouxeram ‘pegadinhas’, mas exigiram a interpretação de gráficos e tabelas. "A prova foi bem interpretativa. Por outro lado, o aluno precisava ter conteúdos prévios para resolver as questões", ressaltou o professor Marcos De Franco, do Curso Decisivo.

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Uma surpresa na prova de Geografia foi a pergunta que abordava o desenvolvimento econômico e social em diferentes regiões do Paraná. "Para chegar à resposta correta, o aluno teria de ter conhecimentos da atualidade", explicou o professor do Decisivo. O Paraná também foi contemplado em uma questão de História sobre a Guerra do Contestado, disputa por terras ocorrida entre 1912 e 1916 na fronteira com Santa Catarina e permeada pelo fanatismo religioso. Para Marcos, porém, os vestibulandos que vieram de outros estados não foram prejudicados. "O aluno que não estudou a História do Paraná conseguiria resolver a questão, pois trabalhamos os movimentos messiânicos em História do Brasil", afirmou.

Segundo o professor Paulo Maniesi, que dá aulas de Física no Curso Dom Bosco, das nove perguntas referentes a essa disciplina, três permitiam respostas imediatas, sem a necessidade de cálculos ou interpretação.

"Não houve problemas. A prova estava contextualizada, mas com enunciados sucintos, ao contrário do exame da PUCPR", disse. Mesma avaliação fez o professor Pedro Adriano Brandalize, do Curso Acesso, com relação à prova de Matemática. "A nota de corte deste ano deve ser maior, pois as questões foram mais simples e imediatas."

Cálculos

Já a prova de Química trouxe questões que exigiam cálculos exaustivos, de acordo com o professor Nadyn Bady Saad Filho, do Curso Positivo.

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"Os exercícios exigiam muito tempo dos candidatos. Além disso, a prova poderia ter sido mais abrangente. Duas questões abordaram o mesmo assunto", afirmou.

As questões de Português cobraram mais interpretação de texto e menos gramática, como já vinha ocorrendo nos últimos vestibulares.