Motivos seriam dívida de R$ 4 mil e vingança
A chacina de Guaíra, que deixou 15 mortos e oito feridos, ocorreu por causa de uma dívida de R$ 4 mil e para vingar a morte de um traficante. A explicação é do secretário de estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, que atribui o crime a um acerto de contas do tráfico internacional de drogas. Ele informou ontem em entrevista coletiva que uma força-tarefa com 200 policiais civis e militares está caçando os assassinos, com apoio das polícias Federal, Rodoviária Federal e do Paraguai. "O tráfico de drogas mata todo dia, no mundo inteiro. O que é diferente é a quantidade de mortos. Uma chacina como esta, deste nível, 15 pessoas, não é comum", afirmou o secretário.
Fiscalização em Foz mudou rota do crime
Desde 2006, quando a Receita Federal e a Polícia Federal (PF) reforçaram a fiscalização em Foz do Iguaçu, as cidades às margens do Lago de Itaipu entraram na rota do crime organizado. Guaíra, na divisa com Mundo Novo (MS) e fronteira com a cidade paraguaia de Salto del Guairá, é considerada hoje o ponto mais vulnerável da fronteira paranaense.
Evento é "marco macabro", diz sociólogo
Para o sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos sobre Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Bodê, a chacina ocorrida ontem é um "marco macabro" na história do Paraná. "É um evento de proporções assustadoras, que mostra como a violência e a criminalidade têm poder nessa região de fronteira. É um fato inaceitável", disse.
Curitiba - Quinze pessoas foram assassinadas, entre elas duas adolescentes e um rapaz, e outras oito ficaram feridas ontem à tarde após uma quadrilha invadir uma casa no município de Guaíra (479 km de Curitiba), na fronteira com o Paraguai. A principal suspeita é que as mortes tenham sido causadas por conta de uma disputa entre quadrilhas brasileiras de traficantes de drogas, cigarros e produtos eletrônicos que atuam na região.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Paraná, é a maior chacina da história do estado. Uma das hipóteses é que o crime tenha sido cometido a mando do líder de um grupo de traficantes. Os homens cercaram a casa do chefe do bando rival, conhecido por Polaco, morador de uma pequena chácara às margens do Rio Paraná.
A polícia investiga se as mortes estão ligadas a dívidas contraídas pelo bando de Polaco e a um acerto de contas após o assassinato de um integrante da quadrilha suspeita da chacina.
Mais de 200 policiais federais, civis, militares e rodoviários foram mobilizados para tentar encontrar pistas sobre o destino dos assassinos. Um helicóptero do governo do Paraná também sobrevoou a região de Guaíra, no oeste do estado.
Polícia paraguaia
A polícia paraguaia foi chamada para colaborar na investigação, pois muitos grupos cruzam o Rio Paraná para trazer maconha, cocaína e produtos contrabandeados daquele país e escoados por Guaíra.
Os depoimentos para reconstituir a chacina foram colhidos dos feridos, socorridos em hospitais locais, e de moradores.
De acordo com o delegado Luiz Alberto Cartacho, da Polícia Civil do Paraná, alguns dos feridos disseram que se fingiram de mortos para escapar. Em entrevista coletiva, em Curitiba, todo o comando do setor da segurança pública do estado negou haver envolvimento de criminosos paraguaios.
As primeiras informações levantadas pela polícia são de que um grupo armado não inferior a cinco pessoas chegou de barco por volta das 14 horas de hoje e se dirigiu à casa de Polaco.
De acordo com o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, os atiradores encontraram Polaco e outras duas pessoas na casa. Sob a mira de armas, Polaco, que tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas, foi obrigado a chamar todos os demais integrantes do bando por celular para uma reunião fictícia.
Na medida em que chegavam, os integrantes da quadrilha eram rendidos e colocados de joelhos em fileira. Delazari afirmou que o homem que comandou a chacina, que não teve o nome divulgado, perguntava a todo momento: "Quem é que vai pagar a minha dívida?".
Sem obter resposta, o homem deu ordem para que a matança começasse. Foram encontrados no local cartuchos de escopeta calibre 12, de pistola nove milímetros e de revólver calibre 38. "Diante da diversidade de calibres, temos a certeza de que os atiradores não eram menos do que cinco", disse Delazari.
Os assassinos fugiram de barco pelo Rio Paraná. Não está descartada a possibilidade de terem se escondido no Paraguai. Três veículos com placas de Uberlândia (MG), Brasília (DF) e Osvaldo Cruz (SP) foram encontrados abandonados perto da casa de Polaco.
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