O governo federal lançou ontem o segundo plano de enfrentamento ao crack em menos de dois anos. A previsão é que sejam investidos R$ 4 bilhões até 2014 com ações estruturadas em três eixos: tratamento, prevenção e policiamento. O plano anterior, de maio de 2010, tinha um programa baseado nesses mesmos eixos, mas com uma quantia menor destinada a ações de combate à droga: R$ 400 milhões.Apesar de o novo plano, que leva o slogan "Crack, é possível vencer", ter medidas mais amplas relacionadas ao tratamento dos dependentes e à prevenção do uso da droga, especialistas avaliam que o sistema público de saúde ainda se mostra incapaz de tratar adequadamente os usuários. Hoje, a epidemia do crack atinge 1,5 milhão de pessoas em 91% das cidades brasileiras.
Segundo estudo divulgado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 63% das cidades brasileiras enfrentam problemas como falta de leitos para internação e escassez de profissionais especializados em dependência química. "O Brasil não tem uma rede assistencial para o dependente de crack e não há investimento suficiente em clínicas públicas especializadas", ressalta o médico psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que possui pós-doutorado na área pela Universidade de Londres.
O médico psiquiatra Dagoberto Requião, especialista na área, critica o novo plano por não prever a capacitação específica de profissionais na área de saúde. Segundo informações do governo federal, 210 mil educadores, 3,3 mil policiais militares e 170 mil líderes comunitários serão capacitados para promover a prevenção ao uso de drogas em escolas públicas e na comunidade. "Os usuários de crack podem desenvolver esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão, além de, em pacientes abstinentes, haver efeitos colaterais que necessitem de acompanhamento psiquiátrico. Serão necessários mais médicos, ainda há pouca gente capacitada", enfatiza.
Entre as novas medidas programadas está a instalação de enfermarias em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) focadas em atendimentos de usuários de drogas, a criação de consultórios de rua em locais de maior incidência da droga e a intensificação de ações de inteligência de combate ao tráfico. O plano prevê um total de 308 consultórios de rua em todo o país, até 2014. Esses ambulatórios móveis contarão com a presença de médicos, enfermeiros, psicólogos e lideranças locais. São eles que vão determinar se é necessária a internação compulsória, medida polêmica que divide a comunidade médica. "O consultório na rua não serve para internação compulsória. Serve para proteger a vida", disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. De acordo com ele, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já prevê a internação de crianças e adolescentes que corram risco de vida.
Outra novidade do plano é a criação de enfermarias especializadas nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Até 2014, o Ministério da Saúde prevê o repasse de recursos para a criação de 2.462 leitos, que serão usados para atendimentos e internações de curta duração durante crises de abstinência e em casos de intoxicações graves.