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 | Antônio More/Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Até mesmo Waldick Soriano, o mago das letras bregas (quando se fala de amor sem amarras), se dilacerou ao ver o florar da cerejeira e cantou um causo apaixonado a ele: “E a cerejeira / Não é rosa mais / Ficou tão triste / Com o adeus / Que, agora / Pra mostrar seu amargor / Não tem mais cor”. Mas ele não alcança o âmago da paixão japonesa por essa árvore.

Veja imagem da florada das cerejeiras em Curitiba

O florescer da cerejeira é momento único, cultuado justamente por ser efêmero. Como um grito de cor em meio ao clima cinzento do inverno. Paixão célere: surge, explode e aquece.

O nascimento das flores dura apenas alguns dias entre julho, agosto e setembro. Em Curitiba, os diversos tons de rosa aparecem comumente na Rua XV de Novembro, no Centro, no Jardim Botânico, no Parque Tanguá e também na Praça do Japão, como se prestasse um tributo aos antepassados. As cerejeiras foram introduzidas na arborização das praças de Curitiba em 1994 e desde 2000 estão também nas ruas. O clima típico do sul do país ainda favorece o florar da cerejeira em diversas localidades, como nas serras catarinenses. O município de Frei Rogério, perto da cidade de Fraiburgo, organiza inclusive um evento para comemorar o charme: o Sakura Matsuri. Os festejos contam com apresentações culturais e cerimoniais de chá, luta típica e caligrafia japonesa.

Na Ásia, de onde se espalhou para o mundo, esse brotar é comparado à figura do samurai, espadachim que por profissão costumava durar pouco, ainda que vivesse ombreado de muita ritualística. E também ao causo de uma princesa, amparada pela árvore depois de uma queda do Monte Fuji.

No Brasil

“As cerejeiras foram trazidas para o Brasil pelos imigrantes japoneses. Quando os ciclos acontecem de forma permanente, os imigrantes procuram levar elementos que vão além da própria cultura, mas que têm uma simbologia sentimental. Um desses elementos é a cerejeira. A cultura japonesa também tem o bonsai, então é muito rica em relação às plantas. Os bonsais originalmente são plantas para serem transportadas”, explica Luiz Antônio Acra, professor de biologia, bioética e engenharia florestal da PUCPR. “Além disso, a cerejeira tem uma simbologia muito específica. Como a planta floresce na passagem do inverno para o calor, ela representa o renascimento. Ela representa amor, paixão, entrega. Alguns ditados falam inclusive sobre a possibilidade desse cultivo representar a busca por um parceiro (a). É uma flor muito rica”.

Para Rosa Osaki, vice-presidente educacional da Associação Cultural e Beneficente Nipo-Brasileira de Curitiba (Nikkei) de Curitiba, ver as cerejeiras pelas ruas da cidade é lembrar da própria família. “A flor da cerejeira significa muito para os japoneses. Os primeiros imigrantes não pensaram em cultivar a planta por aqui, mas, depois da Segunda Guerra Mundial, os imigrantes passaram a trazer consigo as sementes. As famílias vieram para ficar. No fim da década de 70, o Japão também mandou mudas para o Brasil, principalmente para São Paulo e Paraná”, explica. Segundo ela, as cerejeiras que florescem no Brasil são originárias da ilha de Okinawa, no sul do Japão. Na Ásia brotam 300 espécies de cerejeiras todo o ano.

“A cerejeira simboliza o amor. Eu tenho até uma forma específica de pensar sobre esse momento. Como a floração é muito rápida, termina em cerca de semanas, a relação que eu faço é com a própria condição da vida. Tudo é passageiro, então tudo deve ser aproveitado”, analisa Rosa.

Ela já presenciou a adoração da Sakura (cerejeira) no Japão, chamada Hanami, e afirma que a árvore é um símbolo cravado na cultura nipônica. “No inverno, as flores começam a nascer pelo sul e vão se espalhando em direção ao norte do país, onde é mais frio. Em seguida vem a contemplação. As pessoas fazem piqueniques às sombras. Nos castelos, as cerejeiras são iluminadas à noite. É um período de um sentimento especial no país”.

Planta única

“No caso das cerejeiras, o processo fisiológico, o ciclo reprodutivo, acontece no frio, com temperaturas bem baixas. Ao contrário da maioria das florações. O período é curto. Nessa época do ano elas começam a florescer e o ciclo dura aproximadamente 30 ou 40 dias. Boa parta das chamadas plantas europeias tem esse ciclo hibernal. No inverno, despertam”, explica Luiz Antônio Acra.

“As cerejeiras brasileiras têm as mesmas características das originais. A tonalidade é bastante rósea, a flor é pequena. A cerejeira se assemelha de maneira botânica, no tronco, flor e folha, ao pessegueiro”, continua. No mês de setembro, após a floração, inicia-se o processo de frutificação. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, técnicos do Horto Municipal da Barreirinha fazem a coleta dos frutos, que darão origem a novas mudas e novos invernos floridos.

Ipê Roxo x Jacarandá Rosa x Cerejeira

Segundo o botânico da PUCPR, o ipê tem cor magenta, folhas maiores e flores com cachos, enquanto as cerejeiras florescem no caule. Já o Jacarandá é bem roxo e tem folhas pequenas. No entanto, a árvore é bem maior que as outras duas.

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