A rebelião iniciada na noite de quinta-feira (14) na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba (RMC), pode ter deixado sete pessoas mortas. A informação foi repassada por detentos da PCE que entraram em contato com familiares que estão em frente à penitenciária.
O governador Roberto Requião (PMDB) informou, por meio do microblog twitter, que três presos estariam mortos na rebelião. No início da madrugada desta sexta-feira (15), o governador postou a seguinte mensagem: "Rebelião na penitenciaria de Piraquara. Três mortes entre presos".
Os possíveis mortos seriam presos que, no linguajar do presídio, estariam "no seguro", isto é, ameaçados de morte e, por isso, isolados.
Até as 9h, três agentes penitenciários e dez presos eram mantidos como reféns. De acordo com os detentos, outros dez internos estariam feridos. O representante da Polícia Militar (PM) no local, capitão Neto, informou que os organizadores da revolta aguardavam apenas a chegada de um juiz corregedor para iniciar as negociações, o que aconteceu por volta das 9h30. "Cremos que a negociação vai ser tranquila e que não vamos precisar invadir o local", disse o capitão. A entrada de alguns cinegrafistas e de um fotógrafo foi permitida na penitenciária.
Os presos informaram que querem melhoria na comida, no serviço de atendimento psicológico e mais tempo para o banho de sol. Alguns detentos ainda solicitam transferência para outras regiões do estado e também para fora do Paraná.
Nesta manhã, diversos presos continuavam em cima da laje da penitenciária e queimavam colchões. Entre parentes de presidiários e representantes da imprensa, cerca de 50 pessoas se concentravam em frente à PCE. A rebelião teria começado na 10.ª galeria e se espalhado pelo presídio. Uma briga entre grupos rivais de detentos pode ter motivado o motim, o que ainda não foi confirmado oficialmente. Policiais do Comando de Operações Especiais (COE), grupo de elite da PM, e do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) foram enviados à unidade.
Na noite de quinta-feira, pelo rádio da PM, um presidiário que não se identificou, mas que disse ser ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), afirmou que os agentes penitenciários estavam bem. "Ninguém bateu neles, ninguém judiou deles", afirmou. "Não era para ter chegado nesse ponto. Avisamos que íamos tomar a cadeia e tomamos", completou.
Logo em seguida, perto de 23h20, um funcionário que estaria sendo mantido como refém, disse, pelo rádio, que os agentes estavam bem. Durante a madrugada, dois presos teriam sido torturados por outros detentos.
Retirada da Polícia Militar
A ação dos presidiários acontece na mesma semana em que, por ordem da Secretaria da Segurança do Paraná, foram retirados os 48 policiais militares que faziam a guarda armada do local, em apoio aos agentes. Os PMs atuavam dentro da PCE desde o ano 2001, data da última rebelião que aconteceu no local. Os policiais teriam sido retirados para atender o público externo durante a Operação Verão, quando muitos policiais são deslocados para o litoral.
O perigo de rebelião já havia sido alertado pelo Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, quando soube da saída dos PMs. O presidente do sindicato, Clayton Agostino Auwertzr avisou, em ofício, a Ordem dos Advogados do Brasil. O presidente da OAB-PR, Lucio Glomb, que tomou posse no dia 1.º de janeiro, teria conversado com Cezinando Paredes a respeito da falta de segurança e uma comissão da OAB teria agendado para esta sexta-feira uma visita à PCE.
A secretária da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da OAB-PR, Isabel Kugler Mendes, afirmou que os presos foram impedidos de tomar banho de sol e circular após a retirada dos PMs, que teria sido ordenada na segunda-feira e executada na terça-feira. No entanto, ontem os presos voltaram a poder circular, o que teria propiciado a rebelião. Sem os PMs, ficam apenas no máximo 30 agentes penitenciários fazendo a segurança de 1,5 mil presos em 13 galerias que compõem o complexo de 40 mil metros quadrados de área construída.
Até as 10h, a Secretaria da Segurança e a Secretaria da Justiça (responsável pela PCE) não haviam se pronunciado oficialmente sobre o assunto.