Diferenças gritantes
O antigo Ministério do Interior era responsável pelos censos demográficos até a criação do IBGE, em 1936. Só alguns anos depois o censo começou a ser usado pelos políticos como uma ferramenta social que aponta as mazelas da população.
Em comparação com os primeiros censos, o de 1940 pode ser considerado o mais elaborado até então. Ele tenta definir com mais precisão o espaço brasileiro e o perfil da população, incluindo dados de relevo e vegetação e tipos humanos. As características domiciliares também se intensificaram nas pesquisas desta época. Outras religiões surgiram no censo a partir de 1940, assim como a opção de se declarar separado ou divorciado. "Já em 1900 se investigou a existência da população católica e protestante. As outras religiões apareceram depois", diz o analista do instituto Luís Alceu Paganatto.
As diferenças entre o primeiro e o último censo do Brasil são marcantes para algumas áreas (veja tabela acima). Além do aumento do número de mulheres na população total, chama a atenção a quantidade de pessoas que agora são casadas e ainda quantas são alfabetizadas.
Contar a população no século 19 era uma prioridade militar: o império brasileiro estava muito mais preocupado em conhecer quantas pessoas existiam no Brasil e quais delas poderiam ser convocadas para uma eventual guerra do que saber quais eram as carências sociais que assolavam as famílias da época. O primeiro censo demográfico oficial, de 1872, por exemplo, mostra quantas pessoas eram livres e quantas eram escravas, e ainda detalha quais as deficiências físicas que atingiam os habitantes. Muito antes disso, porém, já existiam iniciativas individuais de algumas cidades para fazer o levantamento da "mão-de-obra" disponível para a guerra: estes censos informais começaram por volta de 1750 no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador.
Durante as duas grandes guerras mundiais, os países também tinham uma força-tarefa para levantar a quantidade de habitantes, inclusive estrangeiros que tinham mão-de-obra especializada. Por isso sempre foi uma preocupação dos censos apontar quantos estrangeiros existiam no país. Conforme lembra o analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Curitiba Luís Alceu Paganotto, o próprio presidente Getúlio Vargas utilizou o censo entre 1930 e 1940 para conhecer o Brasil e fazer a política de integração regional. "Foi a maneira que ele encontrou de chegar a todo o povo brasileiro e consolidar o regime político da época", diz. O censo serviu ainda de ferramenta para se conhecer o território brasileiro e, a partir daí, os governantes puderam agir no sentido da segurança nacional (proteção de fronteiras ameaçadas pelo inimigo).
Os primeiros censos são extremamente preconceituosos, se forem analisados sob o ponto de vista atual. Além de separar, na contagem, os escravos das pessoas livres, os censos feitos antes de 1940 não levavam em conta os outros tipos de religião: ou a população se declarava católica ou era "acatólica". Por isso, curiosamente todos os escravos de Curitiba e do Paraná declararam ser católicos. "Certamente falavam isso porque costumavam, na teoria, seguir a religião do patrão. Como muitas vezes eram os próprios fazendeiros que preenchiam os formulários para, depois, serem entregues ao recenseador, dificilmente um escravo diria que era de outra religião", explica Paganotto. Os padres também ajudaram a fazer os primeiros censos brasileiros, afinal as cidades nasciam e cresciam a partir da primeira paróquia construída na cidade. Em consequência disso, as igrejas são as figuras principais do primeiro censo brasileiro, porque todas as regiões foram mapeadas conforme o nome da igreja matriz: o censo de Curitiba levava o título de "Quadro geral da população da Parochia de Nossa Senhora da Luz de Coritiba"; no Amazonas, "Parochia de Nossa Senhora da Conceição de Maués"; no Ceará, contou-se a população da "Parochia do Senhor Bom Jesus do Quixelou", e assim por diante.
Era de carroça e a cavalo que a maioria dos recenseadores trabalhava nos primeiros censos do Brasil: não surpreende, então, a demora para sair o resultado da pesquisa, que ficava pronta quase um ano depois do início dos trabalhos. "Além disso, o censo se resumia a meia dúzia de perguntas, porque não havia recurso tecnológico para cruzar todos os dados depois", conta Paganotto. Só para se ter uma ideia, o próximo censo brasileiro, no ano que vem, irá trabalhar com cerca de 120 perguntas que se desdobrarão em mais de mil cruzamentos de informações.
Os recenseadores do século 19 e início do século 20 eram obrigados a trabalhar sob pena de multa mais ou menos como acontece hoje com quem é convocado a trabalhar nas eleições. "A diferença é que antigamente eram escolhidas, quase sempre, as pessoas que tinham cargos públicos. Formava-se, em cada estado, uma comissão censitária que normalmente era dirigida pelo delegado de polícia. Era ele quem nomeava as outras pessoas para fazer o censo", explica Paganatto. Os recenseadores deixavam a pesquisa para os proprietários de fazenda responder, por exemplo, e passavam cerca de 15 dias depois para recolher os formulários. O questionário também ficava na paróquia da cidade. Desde que começou a existir, o censo é feito a cada dez anos com algumas exceções no passado.
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