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futuro incerto

Recomeço é novo drama no RJ

Depois dos estragos provocados pela chuva em Teresópolis, o pedreiro Juaci Rabello se mudou para o que restou da casa do irmão. O local onde morava desapareceu e ele desistiu de aguardar uma definição do Estado | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Depois dos estragos provocados pela chuva em Teresópolis, o pedreiro Juaci Rabello se mudou para o que restou da casa do irmão. O local onde morava desapareceu e ele desistiu de aguardar uma definição do Estado (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Em um dos principais abrigos pa­­ra os atingidos pela chuva em Te­­resópolis, no Rio de Janeiro, o jardineiro Jorge Antônio da Costa aguar­­da a resposta do patrão para saber se ainda terá trabalho. A faxineira Geocilane de Oliveira, que também vive no local, espera por uma nova casa, ao mesmo tem­­po em que tenta se recuperar da perda da neta. Na casa de pa­­rentes, o bombeiro eletricista Da­­mião Souza se pergunta se poderá ir para a residência de quatro an­­­dares que construiu e nunca usou. Cansado de indefinições, o pedreiro Juaci Rabello tomou uma decisão: fica morando na casa do ir­­mão, mesmo depois de ela ter sido da­­nificada pela chuva e estar ro­­deada de entulhos.

Os atingidos pela maior tragédia nacional causada pela chuva estão em compasso de espera. Eles aguardam por definições do poder público e, principalmente, pela construção de novas casas. As perguntas so­­bre o que irão fazer, quanto tempo ficarão no abrigo e onde irão morar são as mais difíceis de se­­rem respondidas. ?Não sei?, di­­zem muitos deles.

Enquanto faltam definições, eles improvisam. Nos bairros atingidos pela chuva é comum ver mo­­radores carregando roupas, móveis e eletrodomésticos da casa antiga. Mas, engana-se quem pensa que eles rumam para um novo lugar, uma casa definitiva. Levam os objetos para a casa de um pa­­ren­­te ou amigo, onde estão mo­­rando, ou para abrigos. Não sa­­bem até quando ficarão nessa si­­tuação ? o menor tempo possível, de preferência.

Só que o histórico de tragédias no Brasil não inclui uma resposta rápida do poder público. O dinheiro demora a chegar aos municípios, há trâmites burocráticos que precisam ser respeitados (como a Lei das Licitações e desapropriações de terra) e a falta de experiência das prefeituras faz com que passe muito tempo até uma tomada de decisão. Em Santa Catarina, 96 famílias atingidas pela tragédia de novembro de 2008, que matou 135 pessoas, aguardaram dois anos em moradias provisórias em escolas e galpões até receberem a chave de uma casa por par­­te do poder público. Entre­tanto, em Blumenau, ainda há cerca de 400 pessoas de 120 famílias em abrigos à espera de uma nova residência para recomeçar a vida.

Poder público presente

No Rio de Janeiro, as prefeituras e o governo do estado tentam se organizar e mapear o que será feito daqui para frente: se irão construir tendas provisórias, como irão retomar as aulas ? já que escolas servem de abrigo ?, quanto dinheiro será preciso. Só que fica difícil tomar grandes decisões em um momento em que estima-se que cerca de 400 pessoas continuam desaparecidas, comunidades permanecem sem luz e água encanada, dezenas de crianças estão sem os pais e ainda há distritos isolados por falta de acesso.

Para amenizar o desconforto enfrentado pelos desabrigados, os governos federal e estadual têm trabalhado em várias frentes. Den­­tre as medidas estão: as defesas civis dos municípios da região serrana do Rio receberão treinamento especial para atender po­­pu­­lações em situação de risco; R$ 40 milhões foram liberados pelo governo do Rio para auxiliar o pa­­gamento de aluguéis para as vítimas; o Ministério da Saúde liberou R$ 8,7 milhões para ampliar a assistência hospitalar da região.

Número de mortos pelas chuvas na Região Serrana passa de 800

De acordo com prefeituras das cidades atingidas, mortes chegam a 810. Ministério Público informa que ainda há 417 desaparecidos após tragédia

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A presença do poder público interfere também na postura das pessoas afetadas pelos estragos. Cientes de que o Estado está ao lado e se mobiliza para que a situação melhore, a comunidade apresenta-se preparada para superar a tragédia. ?A assistência oficial precisa ser imediata nestes casos?, reforça o psicólogo especialista em transtorno de estresse pós-traumático em de­­sastres, Othon Vieira Neto.

O especialista explica que a ausência do poder público deixa as vítimas desacreditadas e consequentemente revoltadas com toda a situação, o que costuma gerar problemas a partir da se­­gunda semana após o evento. ?Acarreta uma situação egoísta, em que as pessoas pensam que alguém deve pagar pelo que elas estão sofrendo e não interessa quem vai pagar. A reação natural é a dor, a raiva?. Uma das prin­­cipais características dessa revolta são os saques nas regiões afetadas, já registrados nos últimos dias.

Veja o slideshow abaixo com fotos da catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro

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