A reconstituição oficial do caso Mércia Nakashima na represa de Nazaré Paulista, no interior do estado de São Paulo, onde a advogada foi encontrada morta, está programada para começar no início da noite desta sexta-feira (17). Mas ela depende das condições meteorológicas para ocorrer. Segundo os advogados de Mizael Bispo de Souza e Evandro Bezerra Silva, acusados pelo crime, eles não irão participar da reconstituição.
Segundo o perito Renato Pattoli, a reprodução simulada do assassinato da advogada está condicionada a céu limpo, com lua crescente, sem chuva ou nuvens. "Se chover ou estiver nublado na hora, teremos de adiar a reconstituição para o dia 12 ou o dia 13 de outubro", afirmou Pattoli.
O responsável por coordenar a reconstituição disse que são grandes, porém, as possibilidades de realização dos trabalhos. "Como eu já chequei a previsão do tempo e a possibilidade de chuva é quase inexistente, digo que a chance de termos a simulação do crime é de 80%. Minha maior preocupação amanhã [sexta] é com a nebulosidade", disse Pattoli.
As condições esperadas para esta sexta, descritas acima pelo perito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), são imprescindíveis para a reconstituição, já que a versão para o crime que será representada, a de um pescador, ocorreu num dia sem chuva.
A testemunha relatou à Polícia Civil que viu um carro afundar na represa por volta das 19h30 do dia 23 de maio, a mesma data em que Mércia despareceu após deixar a casa dos avós em Guarulhos, na Grande São Paulo. Na ocasião, ele tinha ido pescar no local.
Em depoimento, o pescador relatou que, chegando lá, pegou um banco, ligou um lampião e começou a montar as varas. Nesse dia, ele afirmou que a lua iluminava um pouco a região. Logo no início da noite, ele contou ter visto, a uma distância de cerca de cem metros, um carro, que não soube identificar o modelo, se aproximar da margem. O veículo estava com os faróis acesos, mas depois só deixou as lanternas ligadas.
Em seguida, disse, um homem alto, que não conseguiu enxergar o rosto, desceu do lado do motorista e deu a volta por trás do automóvel. Depois, a testemunha contou à polícia que voltou sua atenção para a pescaria porque achava se tratar de outro pescador.
Mas ele disse ter escutado dois gritos finos de "ai, ai" e, quando olhou novamente para o local onde o carro estava, não viu mais o veículo na margem e, sim, um barulho dele afundando.
Em entrevista ao site G1, a testemunha contou ter visto as lanternas acesas do veículo brilharem dentro da água enquanto levava cerca de três minutos para afundar completamente. Também disse que não viu mais o homem que havia saído do automóvel.
Denúncia
Após a denúncia do pescador, bombeiros foram até a represa e realizaram buscas: localizaram o veículo da advogada, um Honda Fit prata, submerso em 10 de junho. E depois encontraram o corpo de Mércia. Segundo o Instituto Médico Legal (IML), a vítima morreu afogada após ter sido baleada e desmaiado. Ela não sabia nadar.
O Ministério Público, a perícia e o (DHPP) tratam a morte da advogada de 28 anos como assassinato e consideram o ex-namorado e ex-sócio dela, o advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, de 40 anos, como o executor do crime. Para a investigação, ele teve a ajuda do vigia Evandro Bezerra Silva, de 39 anos.
O ex e o vigia são réus no processo. Mizael é acusado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e dificultar a defesa da vítima). Evandro também irá responder pelo assassinato, mas com duas qualificadoras (meio cruel e dificultar a defesa da vítima), sendo citado pelo promotor Rodrigo Merli Antunes como "partícipe".
Contra os acusados, a investigação afirma ter provas de que eles participaram do crime. São elas: as ligações telefônicas entre eles no dia 23 de maio, o rastreamento do carro de Mizael e uma alga que só existe na represa e que foi encontrada no sapato do advogado. Além disso, Evandro chegou a dizer que Mizael matou Mércia por ciúmes. Também tinha contado que ajudou na fuga do assassino. Depois mudou a versão, negou tudo, e disse que a havia dado sob tortura policial.
Mizael e Evandro alegam inocência e estão em liberdade provisória, graças a uma decisão liminar da desembargadora Angélica Almeida. O mérito do habeas corpus ainda será julgado. Não há previsão para isso, no entanto.
Além do pescador, que não teve seu nome divulgado pela polícia, e do perito Pattoli, devem participar da simulação o promotor e o delegado Antonio de Olim, do DHPP. Recentemente, ele foi afastado da divisão de desaparecidos, responsável pelo caso.
Os réus não são obrigados a comparecer para não produzir provas contra eles mesmos, segundo a lei. Apesar disso, os advogados de Mizael, Samir Haddad Júnior e Ivon Ribeiro, e o defensor de Evandro, José Carlos da Silva, afirmaram que irão acompanhar a reprodução simulada.
"Não vamos interferir em nada. Vamos apenas para garantir a idoneidade e a lisura do trabalho da perícia", disse Haddad Júnior.
Dúvidas
Será com base no relato do pescador que a perícia irá tentar reproduzir as mesmas condições de 23 de maio para tentar saber:
1) É mesmo possível ver um carro e um homem a cem metros de distância, de uma margem a outra, apenas com um lampião e a luz da lua? Saber se o pescador realmente viu o suspeito é um dos principais focos da perícia. Existe dúvidas se o homem visto pela testemunha realmente saiu pelo lado do motorista, já que o banco estava próximo ao volante _padrão compatível com a estatura de Mércia.
2) É possível o veículo ter afundado em três minutos? Apesar de a perícia querer levar um carro para a represa, o veículo não deverá ser afundado para simular isso.
3) Dava para escutar alguém gritar, como afirmou o pescador?
4) Se Mércia foi baleada dentro do carro, por que o pescador não escutou os disparos?
Durante a reconstituição, policiais farão as vezes dos acusados, possíveis envolvidos e da vítima. Um policial representará Mizael; outro, se for necessário, Evandro. Uma investigadora vai simular Mércia. Tudo será fotografado. O material será encaminhado posteriormente à Justiça para ser anexado ao processo.
Primeira audiência
No dia 18 de outubro, ocorrerá a primeira audiência do caso Mércia no Fórum de Guarulhos. Serão ouvidas as testemunhas da acusação e da defesa, bem como os réus. Essa etapa é chamada de fase de instrução e antecede a de um eventual julgamento. O juiz dirá se vai pronunciar os réus, ou seja, levá-los a júri popular e marcar a data do julgamento, ou se irá optar pela impronúncia, desclassificação da ação ou absolvição sumária dos acusados.
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