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Nordeste

Reconstrução em meio ao caos

Rio Largo, em Alagoas: desabrigados e desalojados tentam resgatar o que sobrou nos escombros depois da enchente | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Rio Largo, em Alagoas: desabrigados e desalojados tentam resgatar o que sobrou nos escombros depois da enchente (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)
Veja a área atingida pela chuva e lembre outras tragédias |

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Veja a área atingida pela chuva e lembre outras tragédias

Mais de uma semana depois das fortes chuvas e das enchentes em Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste, é hora da limpeza e de contabilizar os estragos nas cidades atingidas. As tragédias que normalmente se restringem às populações ribeirinhas e às classes carentes não fizeram distinção social. Até prefeitos passaram por maus momentos durante os temporais. Renata Moraes, prefeita de Bran­quinha, em Alagoas, passou a noite em uma laje para não ser levada pela água. "Ela passou a noite toda ao lado de 11 pessoas nessa laje, por­­que a água não parava de subir", relata Luciano Barbosa, pre­­sidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA).

As agressões da natureza transformaram as localidades em verdadeiros cenários de guerra, lembrando as imagens vistas após a passagem de tsunamis ou furacões no exterior. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, comparou a situação com o que observou no Haiti, depois do terremoto de janeiro deste ano, um dos piores da história. "Houve uma precipitação de água incrível, com queda de pontes, casas, principalmente perto do rio. O que temos de fazer neste momento é trabalhar na administração da solidariedade", afirmou Jobim, na última quinta-feira. Nada resistiu à força da água: muitas cidades estão sem escolas, postos de saúde e até as prefeituras sucumbiram.

Prefeito de União dos Pal­mares, em Alagoas, Areski Frei­tas assistiu ao desaparecimento de dois amigos sem poder agir. "Eles eram donos de um mercadinho e ficaram em cima de uma casa aguardando por socorro. Nós os vimos, mas não conseguimos alcançá-los por causa da correnteza", lamenta Freitas. Os homens integram o grupo de 28 desaparecidos em União dos Palmares, além das oito mortes e quase 11 mil desalojados e desabrigados. Situações semelhantes aconteceram em Bran­quinha, Capela, Santana do Mun­daú e Quebrangulo, em Alagoas; e em Joaquim Nabuco, Pombos, Quipapá e São Benedito do Sul, em Pernambuco.

Além das residências, as cidades afetadas precisam reconstruir boa parte de sua infraestrutura. Em Rio Largo, além das 1.266 casas em escombros até o momento (em uma cidade com 65 mil habitantes), os prédios da prefeitura, secretaria de educação e de finanças foram completamente destruídos. E os edifícios das secretarias da saúde e administração foram parcialmente levados pela correnteza, necessitando de urgentes reformas. "É preciso pensar na reconstrução. Todos os levantamentos estão acontecendo e estamos elaborando um projeto emergencial", afirma Antônio Lins de Souza Filho, prefeito de Rio Largo.

Apesar de a contabilização dos danos estar em andamento, os prefeitos têm certeza de que será impossível reconstruir as cidades sem apoio estadual e federal. "Se as cidades de Santa Catarina precisaram de apoio, os municípios do interior do Nordeste, muito mais pobres, necessitam muito mais", afirma Barbosa, da AMA. Em sua visita à região, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, na última quinta-feira, a liberação de R$ 550 milhões (metade para cada estado) para as vítimas das chuvas e cerca de R$ 1 bilhão deve chegar à região via Banco Nacional de Desen­vol­vimento Econômico e Social (BNDES). "É humanamente impossível começar do zero sozinho. É preciso fugir da burocracia para simplificar o envio das verbas e fazer com que efetivamente as coisas aconteçam", avalia Souza Filho.

Entretanto, os investimentos precisam ser bem feitos a fim de evitar novos problemas. "Não se deve simplesmente investir. As novas casas precisam estar fora de áreas de risco para prevenir ocorrências", opina Barbosa.

Momento

Apesar de já se pensar na reconstrução, ainda é necessário solucionar problemas emergenciais, como a falta de energia e de água nas cidades mais afetadas. Também há dificuldade para encontrar abrigos para todos os desabrigados e desalojados. Na região de Branquinha, tanto os telefones fixos quanto os móveis continuam falhando. Os administradores têm usado rádio e outros meios de comunicação alternativos. "Nós agendamos horários antes e vamos conversando quando nos encontramos", diz Barbosa. Em alguns dos municípios, o presidente da AMA diz que a falta de energia torna a situação ainda mais complexa. "Você consegue imaginar uma semana sem energia? É o caos completo", diz.

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