Para ajudar
Donativos são enviados pelos Correios
No Paraná, a Defesa Civil Estadual não montou nenhum ponto de coleta de doações. A orientação é que as doações sejam feitas por meio de depósito em conta-corrente (Banco do Brasil: conta 5241-8, agência 3557-2. Caixa Econômica Federal: conta 955-6, agência 2735, operação 006).
Donativos podem ser entregues nos Correios: alimentos não perecíveis, roupas, toalhas, lençóis, calçados, tendas e barracas podem ser enviados para as vítimas.
Os donativos devem ser embalados em pacotes de até 30 quilos e levados até uma agência. O envio dos produtos para as vítimas é gratuito. Doações de remédios ou de dinheiro não são aceitas.
As encomendas devem ser endereçadas à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Alagoas, Rua Lavenere Machado, nº 80, Trapiche da Barra - Maceió/AL - CEP: 57010-383.
Rio Mundaú foi da seca à cheia
Bruna Maestri Walter, enviada especial
A destruição que se vê em várias partes da cidade de Rio Largo e municípios vizinhos, em Alagoas, foi provocada pelo mesmo rio que há duas semanas sofria o efeito da estiagem. Moradores contam que o comportamento do Rio Mundaú muda sempre e depende da chuva. No último dia 19, choveu demais e a enxurrada destruiu bairros inteiros de algumas cidades. Cerca de 74,5 mil pessoas estão fora de suas casas em Alagoas.
"Há 15 dias o Mundaú tinha secado e a água vinha no joelho. Aí o pessoal não acreditou quando avisaram do risco de enchente", diz a empregada doméstica Shirley Vicente Ferreira, que está desabrigada e vive provisoriamente em uma escola de Rio Largo. A dona de casa Marlene Félix da Silva também reconhece que foi avisada. "Um dia antes chegou gente avisando da prefeitura. Botaram carro para levar mudança. Falavam bora, minha gente. Ninguém quis sair", conta. Marlene já tinha enfrentado uma enchente grande em 2000, quando a água derrubou a parede da cozinha da casa. A família nem pensou duas vezes: construiu de novo e voltou a morar perto do rio.
Mais de uma semana depois das fortes chuvas e das enchentes em Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste, é hora da limpeza e de contabilizar os estragos nas cidades atingidas. As tragédias que normalmente se restringem às populações ribeirinhas e às classes carentes não fizeram distinção social. Até prefeitos passaram por maus momentos durante os temporais. Renata Moraes, prefeita de Branquinha, em Alagoas, passou a noite em uma laje para não ser levada pela água. "Ela passou a noite toda ao lado de 11 pessoas nessa laje, porque a água não parava de subir", relata Luciano Barbosa, presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA).
As agressões da natureza transformaram as localidades em verdadeiros cenários de guerra, lembrando as imagens vistas após a passagem de tsunamis ou furacões no exterior. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, comparou a situação com o que observou no Haiti, depois do terremoto de janeiro deste ano, um dos piores da história. "Houve uma precipitação de água incrível, com queda de pontes, casas, principalmente perto do rio. O que temos de fazer neste momento é trabalhar na administração da solidariedade", afirmou Jobim, na última quinta-feira. Nada resistiu à força da água: muitas cidades estão sem escolas, postos de saúde e até as prefeituras sucumbiram.
Prefeito de União dos Palmares, em Alagoas, Areski Freitas assistiu ao desaparecimento de dois amigos sem poder agir. "Eles eram donos de um mercadinho e ficaram em cima de uma casa aguardando por socorro. Nós os vimos, mas não conseguimos alcançá-los por causa da correnteza", lamenta Freitas. Os homens integram o grupo de 28 desaparecidos em União dos Palmares, além das oito mortes e quase 11 mil desalojados e desabrigados. Situações semelhantes aconteceram em Branquinha, Capela, Santana do Mundaú e Quebrangulo, em Alagoas; e em Joaquim Nabuco, Pombos, Quipapá e São Benedito do Sul, em Pernambuco.
Além das residências, as cidades afetadas precisam reconstruir boa parte de sua infraestrutura. Em Rio Largo, além das 1.266 casas em escombros até o momento (em uma cidade com 65 mil habitantes), os prédios da prefeitura, secretaria de educação e de finanças foram completamente destruídos. E os edifícios das secretarias da saúde e administração foram parcialmente levados pela correnteza, necessitando de urgentes reformas. "É preciso pensar na reconstrução. Todos os levantamentos estão acontecendo e estamos elaborando um projeto emergencial", afirma Antônio Lins de Souza Filho, prefeito de Rio Largo.
Apesar de a contabilização dos danos estar em andamento, os prefeitos têm certeza de que será impossível reconstruir as cidades sem apoio estadual e federal. "Se as cidades de Santa Catarina precisaram de apoio, os municípios do interior do Nordeste, muito mais pobres, necessitam muito mais", afirma Barbosa, da AMA. Em sua visita à região, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, na última quinta-feira, a liberação de R$ 550 milhões (metade para cada estado) para as vítimas das chuvas e cerca de R$ 1 bilhão deve chegar à região via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "É humanamente impossível começar do zero sozinho. É preciso fugir da burocracia para simplificar o envio das verbas e fazer com que efetivamente as coisas aconteçam", avalia Souza Filho.
Entretanto, os investimentos precisam ser bem feitos a fim de evitar novos problemas. "Não se deve simplesmente investir. As novas casas precisam estar fora de áreas de risco para prevenir ocorrências", opina Barbosa.
Momento
Apesar de já se pensar na reconstrução, ainda é necessário solucionar problemas emergenciais, como a falta de energia e de água nas cidades mais afetadas. Também há dificuldade para encontrar abrigos para todos os desabrigados e desalojados. Na região de Branquinha, tanto os telefones fixos quanto os móveis continuam falhando. Os administradores têm usado rádio e outros meios de comunicação alternativos. "Nós agendamos horários antes e vamos conversando quando nos encontramos", diz Barbosa. Em alguns dos municípios, o presidente da AMA diz que a falta de energia torna a situação ainda mais complexa. "Você consegue imaginar uma semana sem energia? É o caos completo", diz.
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