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Comportamento

Redes sociais ainda não superam o olho no olho

Os amigos Yasmin, Ana Vitória e Henrique:  celular para falar com os pais e  aplicativos para se comunicar com  os amigos. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Os amigos Yasmin, Ana Vitória e Henrique: celular para falar com os pais e aplicativos para se comunicar com os amigos. (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Não há melhor forma de saber se alguém está mentindo do que o olho no olho. É quando dá para notar os sinais faciais e corporais do interlocutor, perceber suas reações, avaliar a comunicação não verbal, a relação entre corpo e discurso. Essa é uma das razões pelas quais, a despeito da profusão de aplicativos grátis disponíveis para smartphones, muitos adolescentes ainda preferem o bom e velho cara a cara para interagir com os amigos e parentes.

Esse comportamento até surpreende considerando a facilidade com que as gerações mais novas lidam com a tecnologia, mas foi o que constatou uma dissertação de mestrado da Universidade de Campinas (Unicamp). Na pesquisa “Relações sociais entre adolescentes: do face a face às redes virtuais”, a psicóloga Viviane Aires de Aguirre Mearraoui estudou as novas formas de interação que a sociedade tem criado diante da constante evolução dos meios digitais.

As relações interpessoais têm sido cada vez mais mediadas pelo uso de computadores e celulares. A pesquisadora investigou então como as recentes tecnologias de comunicação estão sendo usadas e como contribuem para o entendimento de hábitos e comportamentos das novas gerações. Para isso, ela investigou as três formas mais comuns de contato: por voz (telefone), por escrito (via internet) e face a face.

Viviane estudou como os adolescentes se relacionam com essas formas de interação não presencial. Entrevistou 60 jovens de 14 a 18 anos de três escolas particulares de São Paulo, por meio de questionários. Nove foram ouvidos pessoalmente. O resultado foi de alguma forma surpreendente em um país onde há 1,4 aparelho celular por habitante e os smartphones são como extensões dos braços dos adolescentes.

Conforme a pesquisa, os adolescentes preferem enviar um e-mail ou mensagem de texto do que telefonar. Em geral, o contato por voz é mais usado para informar a localização e é usado mais vezes com esse propósito do que as demais formas de contato. A escrita é a preferida na hora de se comunicar, e os adolescentes a usam com mais frequência, por longos períodos e com diversidade de conteúdo, quando comparada com o contato por voz.

Se para o adolescente falar ao telefone é um problema, o mesmo não acontece no contato face a face. Junto com a escrita, essa é uma das modalidades mais usadas por eles nas suas relações sociais. A ampliação das possibilidades de contato à distância não diminuiu o interesse em tratar de alguns assuntos pessoalmente. A vantagem do contato face a face, segundo os entrevistados na pesquisa, é que ela possibilita a visualização do interlocutor e dá indicadores da veracidade daquilo que falam.

Contato

A maioria dos jovens entrevistados ainda prefere o contato cara a cara, e por uma razão tão simples quanto primitiva: estudar a reação do outro. Sem o contato visual, como reparar nas expressões faciais que denotam as sete emoções básicas elencadas pela psicóloga americana Flora Davis. A saber: alegria, surpresa, medo, raiva, tristeza, nojo e desprezo.

“A vantagem é que está mais perto da pessoa e até é mais fácil de saber se é verdade ou não, aquilo que falam”, diz uma menina ouvida no estudo. “Eu gosto porque você percebe principalmente quando a pessoa tá mentindo. Eu logo me toco”, reforça um menino. Ao preferir o olho no olho, esses jovens manifestam receio quanto a uma eventual dissimulação no contato à distância. “Por mensagem, eu acho que às vezes a pessoa pode estar sendo falsa com você e você não sabe”, diz um menino.

Mas mesmo no contato face a face há inconvenientes para alguns adolescentes, como a necessidade da resposta de bate-pronto. “Eu acho que [desvantagem] é ter que falar na hora, sem pensar bem, porque a pessoa te falou uma coisa e você tem que dar uma resposta”, diz uma menina. “Eu acho que tem algumas coisas que são mais difíceis de falar desse jeito”, avalia um menino.

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