Gastos
Comida na mesa conforme cabe no bolso
O levantamento "Aquisição alimentar domiciliar per capita" mostra um retrato nítido da desigualdade na mesa do brasileiro. Produtos como laticínios, frutas, verduras e legumes, gordura animal, bebidas alcoólicas e refeições prontas são mais consumidos por aqueles que têm maior rendimento.
A carne bovina de primeira aparece pouco no cardápio dos mais pobres. O consumo de alcatra, por exemplo, foi de 200 gramas anuais per capita para aqueles com renda familiar de até R$ 830. Já os mais ricos (com renda acima de R$ 6.225) adquiriram 2,6 quilos diferença de 1.200%.
O consumo de filé mignon chama ainda mais atenção 8 gramas per capita para as menores rendas, ante 850 gramas entre os mais ricos. O consumo de carne de segunda, entretanto, foi equivalente entre os dois grupos (6 quilos para a renda mais baixa, 6,2 quilos para a renda maior).
No caso da bebida alcoólica, a diferença foi de 799% aqueles com menor renda compram 2,1 quilos anuais per capita, enquanto aqueles com rendimentos superiores compram 19,2 quilos. O consumo de alimentos preparados é 514% maior entre os mais ricos em relação aos mais pobres (8,4 quilos contra 1,3 quilo). O mesmo ocorre com bebidas não alcoólicas (401% de diferença), iogurtes (379%), frutas (316%), leite de vaca pasteurizado (246%).
Já arroz, feijão e farinha de mandioca foram mais adquiridos por aqueles com menor renda. Quem ganhava até R$ 830, adquiriu 27,6 quilos de arroz e 10,6 quilos de feijão. Os que têm renda acima de R$ 6.225 compraram 18,6 quilos e 7,3 quilos respectivamente. Já o cafezinho foi consumido por todas as classes com pouca variação. Aqueles com menor renda adquiriram 2,2 quilos de café moído; os de maior renda, 2,8 quilos. (AE)
O brasileiro está comendo mal em casa. As frutas e verduras, que deveriam corresponder a uma proporção entre 9% e 12% das calorias diárias ingeridas, representam apenas 2,8%. Já os açúcares livres equivalem a 16,4% das calorias disponíveis nas residências, quando a recomendação é de que fique em 10%. Os alimentos essencialmente calóricos (óleos e gorduras vegetais, gordura animal, açúcar de mesa e refrigerantes) atingem 28% da caloria consumida. Entre os 20% mais ricos, o consumo desses alimentos ultrapassa a proporção recomendada por nutricionistas, de 30% a porcentagem alcança 31,8%.Os dados fazem parte do levantamento "Avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil", feito com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009. Para chegar a essas informações, os técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisaram apenas os alimentos disponíveis nas residências, também divulgados ontem na pesquisa "Aquisição alimentar domiciliar per capita".
"Está mal preparado o cardápio dos brasileiros", afirma o gerente da POF, Edilson Nascimento Silva. "Há uma interferência na disponibilidade e preço dos produtos frutas, legumes são normalmente alimentos de difícil acesso e o preço interfere. As pessoas fazem opções por cardápio mais barato", explica.
Silva ressaltou que a pesquisa demonstra que o consumo de proteína é satisfatório 12,1% das calorias disponíveis diariamente, quando o ideal é entre 10% e 15%. "O que está faltando é uma educação alimentar, uma política voltada para ensinar o cidadão a consumir mais legumes, mais frutas", complementa.
Ana Beatriz Vasconcellos, coordenadora-geral da Política de Alimento e Nutrição do Ministério da Saúde, afirma que esse deve ser um esforço intersetorial, o que inclui o setor produtivo. "É preciso garantir a oferta melhor de alimentos: aumentar o crédito para que produtores façam com que suas frutas, verduras e legumes tenham condições de serem distribuídas em todas as regiões. E a melhoria da qualidade dos alimentos industrializados redução da gordura, do sódio, do açúcar. É preciso o engajamento do setor produtivo."
No período avaliado de maio de 2008 a maio de 2009 , a disponibilidade média per capita de alimentos foi de 1.611 calorias. Na pesquisa anterior, era de 1.791. A diferença pode ser atribuída aos alimentos consumidos fora de casa. Comparando-se os resultados atuais e os da POF anterior, de 2002/2003, a despesa com alimentação no domicílio caiu de 75,9% dos gastos mensais para 68,9%.
Calorias para todos
O levantamento mostra ainda que o teor de ácidos graxos saturados, cujo consumo está associado a problemas como doenças cardiovasculares e diabete, está próximo do limite de 10% das calorias na faixa de renda que vai de R$ 2.491 a R$ 4.150 (9,1%) e de R$ 4.150 a R$ 6.225 (9,5%). A faixa de renda mais alta, acima de R$ 6.225, já ultrapassou o limite recomendado chega a 10,6%.
Em relação à pesquisa anterior, a POF 2008/2009 mostra ainda o crescimento da participação no total de calorias de alimentos como pão francês (13% a mais), biscoito (10%), queijos (16%), refrigerantes (16%), bebidas alcoólicas (28%) e refeições industrializadas (40%). Por outro lado, registraram redução em alimentos como arroz (queda de 6%), feijões (18%), farinha de trigo (25%), leite (10%) e açúcar (8%).
Região Sul
O estudo do IBGE também constatou que a Região Sul do país tem a despensa mais farta. A aquisição anual per capita de carnes (35,7 quilos), laticínios (67,4 quilos), bebidas e infusões (64,1 quilos), hortaliças (38,6 quilos), frutas (36,5 quilos) e alimentos preparados e misturas industriais (4,8 quilos) está acima das respectivas médias nacionais e de outras regiões. Para os pesquisadores, essa diferença pode ser explicada pelo hábito cultural, com aquisições mais frequentes e localização do domicílio próxima da área de trabalho as pessoas vão em casa para almoçar.
Feijão e arroz já não são tão populares no dia a dia
O feijão com arroz já não é mais o prato-símbolo do cardápio brasileiro. De 1975 para 2009, a compra desses itens caiu drasticamente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O arroz polido teve redução de 60% na quantidade anual per capita adquirida de 31,6 quilos para 12,6 quilos. A aquisição do feijão para consumo em casa passou de 14,7 quilos anuais para 7,4 quilos (redução de 49%). Já a compra do açúcar caiu de 15,8 quilos para 3,3 quilos (79% menor). Por outro lado, o consumo de refrigerante de guaraná saltou de 1,3 quilo anual per capita para 6 quilos.
A comparação foi feita entre as regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, além de Brasília, levando-se em conta dados do Estudo Nacional de Despesa Familiar (Endef) (1974/1975) e do levantamento "Aquisição alimentar domiciliar per capita". Para fins de padronização, as quantidades medidas em litros foram transformadas em quilos.
A mudança de hábito se reflete diretamente na saúde levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde na terça-feira passada aponta que entre 1996 e 1997 aumentaram em 10% as mortes provocadas por diabete, doença ligada ao excesso de peso. "Os carboidratos complexos, como o arroz e o feijão, estão associados às fibras, que são importantes para prevenção de doenças. Essa mudança na alimentação, da tradicional para a industrializada, reduz a quantidade de fibras, que são importantes para a prevenção da doença cardiovascular, a diabete, da obesidade e de alguns tipos de câncer", afirma o professor Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).
A queda na compra desses itens básicos acentuou-se mais recentemente. De 2003 para 2009, a aquisição anual de arroz polido caiu 40,5%; a de feijão, 26,4%; e a aquisição do açúcar refinado caiu 48,3%. Nesse mesmo período subiu o consumo de alimentos preparados e misturas industriais o que não era computado na Endef. Hoje, a média nacional desses produtos está em 3,5 quilos anuais, alcançando 8,3 quilos entre os 20% mais ricos.
No carrinho do supermercado, o que ocupa maior espaço hoje são bebidas e infusões (a média domiciliar per capita é de 50,7 quilos), seguidas por laticínios (43,7 quilos). Só então entram cereais e leguminosas (39 quilos), frutas (28,9 quilos), hortaliças (27,1 quilos) e carnes (25,4 quilos). "Sem dúvida, a gente percebe uma mudança no cardápio do brasileiro", afirma o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008/2009, Edilson Nascimento Silva.
A alteração do hábito alimentar tem a ver com a falta de tempo, aponta o estudioso. "Hoje a gente se depara com famílias que passam o dia todo fora de casa, não têm tempo de preparar o alimento, além do custo de ter uma empregada doméstica, ou cozinheira. É o efeito da alimentação fora. Outra questão é o uso da alimentação semipronta, que são rápidas, mas que amanhã podem trazer problemas à saúde". * * * * * *
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