A reforma agrária no Paraná sofreu uma desaceleração na gestão Lula na comparação com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nos oitos anos de presidência petista, 4.293 famílias foram assentadas no estado menos da metade da era FHC, quando 10.547 famílias receberam um lote de terra. Em contrapartida, o total de assentados no país cresceu 12%.A dificuldade para obter áreas, a priorização de investimentos na qualidade de vida dos assentamentos e até mesmo o arrefecimento no conflito fundiário são os argumentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para justificar a redução no número de assentados no estado.
Apesar do desempenho inferior, o superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, destaca que a destinação de recursos para investimentos no estado aumentou, demonstrando que o governo federal não deixou de lado o Paraná. Em números não corrigidos pela inflação, o montante aplicado no estado em programas de financiamento, assistência e em indenizações cresceu de R$ 12 milhões em 1995 para R$ 38 milhões em 2010. Há oito anos, uma família assentada recebia apenas um lote de terra, menos de R$ 5 mil a título de ajuda para construir uma casa ou comprar o mínimo para começar a produzir e quase nenhuma assistência, alega Guedes. Atualmente, os assentados recebem até R$ 45 mil, sendo R$ 15 mil para edificar a residência, e tem mais acesso a programas de financiamento para alavancar a produção.
A mudança na política de reforma agrária, que passou a dar mais apoio ao assentado, também teve impacto no desempenho dos números da reforma agrária no Paraná. "Antes, a única meta era conseguir terra. Agora, é fornecer a terra e também meios para construir a casa, além de ofertar recursos para plantar e produzir, e dar acesso à saúde, escola e boas estradas", explica o superintendente. Guedes afirma que, sem menosprezar as metas para criar novos assentamentos, a prioridade atual é desenvolver os já existentes.
Valorização
Hoje o Incra tem mais dificuldade para encontrar áreas improdutivas para desapropriação. Além da batalha pela revisão dos índices de produtividade, que definem se uma área é adequadamente aproveitada ou não prometida pelo presidente Lula, mas barrada pela pressão da bancada ruralista no Congresso e pelo Ministério da Agricultura , o preço das terras no estado disparou. Na década de 90, de cada 100 propriedades vistoriadas pelo Incra, 70 eram declaradas improdutivas. Hoje, a cada 100 vistorias, seis propriedades se encaixam nos índices que definem os limites de improdutividade.
Sem conseguir terras para desapropriar, o governo federal passou a priorizar a compra de fazendas. Mais da metade das áreas destinadas à reforma agrária no Paraná nos últimos oito anos não foram frutos de desapropriação. E o processo de compra e venda que vem dominando o cenário de obtenção de terras no estado envolve negociações muitas vezes demoradas. Além disso, houve incremento nas despesas. "Há uma década, o custo para assentar uma família era de R$ 20 mil. Atualmente está em R$ 50 mil", explica.
Análise
Com o foco no estudo do direito humano à terra, o professor Sérgio Sauer, doutor em Sociologia na Universidade de Brasília, avalia que o governo Lula manteve a prática adotada na gestão FHC de priorizar a desapropriação de áreas em regiões com maior estoque de terras, portanto, com terras mais baratas, nas Regiões Norte e Centro-Oeste. Assim, as fazendas paranaenses não estavam em primeiro plano, refletindo no número de assentamentos no estado nos últimos oito anos, em detrimento dos dados nacionais. O pesquisador também aponta que a não revisão dos índices de produtividade está entre os principais fatores na queda no número de novos assentamentos no estado.
Mas Sauer concorda que o governo petista dedicou um pouco mais de atenção ao setor, em relação à gestão antecessora. "Além dos dados da política fundiária, como quantidade de hectares desapropriados, houve um incremento na destinação de recursos orçamentários", analisa. "Mas havia um compromisso histórico do PT com a luta pela terra. Considerando este fato, a administração Lula deixou a desejar", complementa.